Amy Adams, atriz indicada 3 vezes ao Oscar e revelada em Retratos de Família |
Retratos de família é o primeiro e único longa-metragem de Phil Morrison. Desde 2005, o diretor não lança nenhum novo trabalho, o que não deixa de ser uma pena, já que Retratos de Família é uma belíssima estreia. Produção independente e de baixo orçamento, o filme de Morrison ganhou espaço na mídia americana por ter sido indicado ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, revelando uma das mais talentosas e simpáticas jovens atrizes americanas: Amy Adams.
Retratos de Família conta a história de uma marchand de uma galeria de arte de Chicago, Madeleine (Embeth Davidtz), que viaja com o seu marido George (Alessandro Nivola) para a Carolina do Norte para conhecer a família dele e visitar um pintor excêntrico cujos trabalhos ela quer expor. Madeleine encontra dificuldades para se relacionar com a família do marido, que é formada por Eugene (Scott Wilson), pai introvertido e taciturno, por Peg (Celia Weston), a mãe geniosa e reprovadora, por Johnny (Ben McKenzie), irmão rebelde e zangado e por AshLey (Amy Adams), a cunhada adorável e carente.
O filme é uma intensa experiência de investigação psicológica de seus personagens. A protagonista, Madeleine, belíssima mulher, culta e intelectual, casa-se com um homem pelo qual ela sente uma grande atração sexual, após apenas uma semana de namoro. Aos poucos, torna-se claro ao espectador que a moça não conhece o marido, e que o sexo é o único elemento que os une, a única forma de comunicação desses dois seres. Como uma estranha no ninho, ela se vê obrigada a conviver com pessoas que, na teoria, se tornaram também sua família, mas que na prática não fazem o mínimo esforço para acolhê-la (com a exceção de Ashley). É interessante observar que Madeleine se sente mais a vontade com o artista “louco” que ela quer agenciar do que com a família do marido e o quanto que ela se surpreende com a religiosidade até então adormecida do marido.
A família de George é uma família absolutamente disfuncional. Existe uma barreira entre todos os membros e uma ausência total de comunicação. A casa da família é um lugar onde habitam várias solidões. Esta desolação é representada, por exemplo, por uma bela sequência que mostra vários cômodos vazios da casa. O roteiro não deixa claro a origem da infelicidade e amargura que permeiam a vida dessas pessoas, o que torna a história ainda mais interessante. Afinal, sejam quais forem os motivos, provavelmente, nem elas mesmas poderiam explicar como a convivência deles chegou em um nível tão drástico. O filme nos oferece pistas, mas não nos dá repostas, nem soluções fáceis.
Assim, a raiva latente que Johnny sente pelo irmão George, pode ser fruto do fato que o irmão mais velho o tenha abandonado para morar em outra cidade ou talvez por ele se sentir fracassado perto do irmão. Johnny provavelmente ressente-se de Ashley por ela ter engravidado e impedido que ele prosseguisse com seus sonhos. A antipatia que Peg sente pela nova nora, deve ser fruto dos ciúmes que ela sente do filho que foi embora e que lhe faz tanta falta. O isolamento do pai talvez seja uma forma de se afastar da animosidade latente em sua família.
Em meio a pessoas que evitam a todo custo qualquer tipo de comunicação, surge uma personagem desesperada por qualquer contato humano: Ashley. Mulher de Johnny e grávida de nove meses, a meiga Ashley mostra uma carência absurda por qualquer tipo de atenção e carinho. Ela vê imediatamente em Madeleine, uma amiga e um ídolo, já que ela admira enormemente a beleza, o refinamento e a inteligência da esposa de George. A extroversão e tagarelice de Ashley escondem uma tristeza e uma solidão absurdas. É tocante perceber que sua verborragia é quase um pedido de socorro. Há algo de assustador no ímpeto da personagem em fazer amizade com Madeleine, o que é acentuado pelos grandes planos do rosto de Ashley, pelos olhos arregalados da atriz e pelo seu sorriso insistente.
O elenco de Retratos de Família faz um trabalho maravilhoso. Embeth Davidtz cria uma Madeleine sexy e refinada, que tenta ao máximo ser aceita por sua nova família. Alessandro Nivola e Scott Wilson que interpretam respectivamente George e Eugene, se destacam por estarem sempre com uma fisionomia distante. George demonstra dificuldade de se relacionar com sua família, se refugiando constantemente no sono. Eugene é quase um fantasma, uma figura silenciosa e etérea. Deve-se destacar também a bela voz de Nivola, que teve que cantar um hino religioso em uma das mais bonitas cenas do filme. Celia Weston também está excelente; ela interpreta uma mãe endurecida, por vezes autoritária, mas que revela, em determinados momentos, uma grande vulnerabilidade. Ben McKenzie (galã da série teen The O.C.) surpreende numa ótima interpretação, ao compor Johnny como um rapaz bruto, rancoroso, frustrado e que tem dificuldade até mesmo de falar, de tão retraído que é. O destaque do filme é Amy Adams que está absolutamente encantadora. A atriz atua no limite da caricatura, transformando sua personagem numa figura ao mesmo tempo adorável e patética.
Retratos de família é uma jóia do cinema independente americano e vale a pena ser conferido! O filme brinca pontualmente com o conceito de arte, de mainstream, e de arte independente e alternativa. A abertura do filme é particularmente divertida.
Trailer do filme:
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