terça-feira, 7 de junho de 2011

A missão - 1986

Robert de Niro em cena do filme
A missão é dirigido pelo cineasta franco-britânico Roland Joffé, que teve bastante notoriedade nos anos 80 e 90. Seus trabalhos de maior sucesso são esta produção de 1986 e o filme Os gritos do silêncio de 1984, ambos indicados ao Oscar. A missão ainda conseguiu a proeza de levar a Palma de Ouro em Cannes. Com um elenco de grandes atores, entre eles, Robert de Niro, Jeremy Irons e Liam Neeson, a produção britânica é lembrada sobretudo pela fantástica trilha sonora do mestre Ennio Morricone.

O filme conta a história da construção de uma missão jesuítica na fronteira do Brasil, Paraguai e Argentina, território disputado por portugueses e espanhóis no século XVIII. No início da trama, acompanhamos o assassinato de um padre pelos índios guaranis. Padre Gabriel (Jeremy Irons) é enviado para substituir seu predecessor e consegue estabelecer uma relação mais próxima com os índios através da música. Um antigo capturador de índios espanhol, Rodrigo Mendoza (Robert de Niro), passa a fazer parte da missão após uma tragédia familiar. Por fim, a missão deve lutar para continuar existindo, uma vez que os colonizadores portugueses tem intenção de dizimar a população local.

A missão proporciona ao espectador momentos belíssimos. O filme poderia existir sem as falas dos personagens, uma vez que os elementos mais importantes da narrativa são a imagem e a música. A primazia desses dois elementos pode ser observada na belíssima cena em que o padre Gabriel faz o primeiro contato com os índios. Perdido em meio a floresta, ele começa a tocar seu oboé atraindo a comunidade indígena que estava preparada para atacá-lo. Através da música, como se ela tivesse um poder encantatório, ele é acolhido pela maioria dos índios. 

Mas, A missão nos brinda com outras cenas antológicas, como aquela em que Rodrigo, em uma penitência auto-imposta (e explicitamente inspirada no mito de Sísifo) deve carregar um rede contendo metais pesados pelos barrancos e cachoeiras da floresta. A cena do perdão, que se segue e que corresponde ao fim da penitência, é particularmente emocionante. Outro momento belíssimo é a cena de abertura que mostra a morte do primeiro padre. Pregado em uma cruz de madeira, ele desce rio abaixo, passando pelas corredeiras, até chegar a uma grande cachoeira. Esta cena simboliza a recusa dos índios pela catequização. No entanto, o momento mais forte do filme, é sem dúvida, a parte final, grandiosamente bela e trágica. 

A missão é um filme cuja história vai se construindo aos poucos. O ritmo por vezes arrastado evoca a vida na floresta e a contemplação da natureza. Ao final, percebemos que os dois terços iniciais do filme, que mostra a estruturação da missão jesuítica e o fortalecimento dos laços entre padres e índios, são absolutamente necessários para a criação do impacto que o último ato terá sobre o espectador. 

O filme não se exime de mostrar a responsabilidade de espanhóis e portugueses na escravização e massacre indígena. A crueldade e covardia tanto dos representantes da coroa portuguesa e espanhola, quanto da própria Igreja é mostrada de uma maneira contundente pelo filme. No entanto, ele não tem o mesmo olhar crítico com os jesuítas, que são mostrados sobretudo como salvadores dos índios. O filme se abstém de se aprofundar na questão da aculturação e da imposição do cristianismo aos índios. 

Apesar de não ser um filme de grandes performances individuais, o elenco de A missão tem um desempenho notável, com destaque para a sensibilidade das composições de Robert de Niro e Jeremy Irons. O trabalho de preparação dos índios também é fantástico, ainda mais se levarmos em conta o grande número de figurantes usados nas cenas do filme. 

A fotografia do filme ganhadora do Oscar, de Chris Menges, é deslumbrante. Optando sempre por opor o espaço fagocitante da floresta e a pequenez dos homens perto da grandiosidade da natureza, Joffé e Menges criam planos extraordinários. O filme, no entanto, não teria o mesmo impacto sem a linda e melancólica trilha sonora de Ennio Morricone. 

A missão é um espetáculo triste e deslumbrante. Vale a pena conferir!

Trailer do filme:


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