quinta-feira, 27 de junho de 2013

Clássicos da Cinemateca - O Ano passado em Marienbad

… através dos corredores, destes salões, destas galerias, desta construção de um outro século, este hotel imenso e luxuoso, barroco, lúgubre, onde corredores intermináveis seguem outros corredores silenciosos, desertos, encrustados de ornamentações sombrias, frias feitas de cortiço, reboco, gesso, mármore, espelhos negros, pinturas escuras, colunas…

Você é como uma sombra esperando que eu me aproxime.
“Ame-o ou odei-o”. A recepção de O Ano Passado em Marienbad parece se dividir entre esses dois extremos. Alguns de seus detratores o definem como sendo incompreensível, pretensioso, afetado, artificial e bobo. O filme do francês Alain Resnais foi inclusive incluído na lista de piores filmes de todos os tempos, produzida por Harry Medved, Randy Dreyfuss e Michael Medved, no livro The Fifty Worst Films of All Time (And How They Got That Way), de 1978. Na época do lançamento do longa-metragem, Pauline Kael se mocou do que ela chamou de “filme experimental high-fashion, um trabalho de neve no palácio de gelo… de volta à festa não-divertida para não-pessoas”.
Em compensação, esse controverso clássico do cinema francês é frenquentemente citado como um dos filmes mais influentes do pós-guerra, uma obra-prima inventiva e original que causou grande impressão e impacto em cineastas como Stanley Kubrick, David Lynch, Agnès Varda, Jacques Rivette, Marguerite Duras e Peter Greenaway. Este último chegou a afirmar, inclusive, que ofilme de Resnais foi a maior influência na sua carreira. Ainda hoje, O Ano Passado em Marienbad não é uma unanimidade e gera discussões. Ninguém pode negar, no entanto, o caráter instigante e desconcertante desse filme-enigma.

Você nunca aparentou estar esperando por mim, mas nos reencontrávamos em cada curva, atrás de cada arbusto, ao pé de cada estátua, perto de cada lago. Como se ninguém tivesse estado naquele jardim, só eu e você.
O Ano Passado em Marienbad é fruto de uma colaboração inspirada entre o grande escritor francês Alain Robbe-Grillet, ícone do nouveau roman, e o diretor Alain Resnais. Vale lembrar que Resnais já havia feito uma parceria do mesmo tipo com Marguerite Duras, também associada ao movimento do nouveau roman, no célebre Hiroshima mon Amour (1959). Tanto Robbe-Grillet quanto Duras tinham uma relação íntima com o cinema. Ambos tiveram uma produtiva carreira também como diretores e suas filmografias parecem um prolongamento de seus romances.
As obras associadas ao nouveau roman desafiam a percepção do leitor/espectador, evitando que este se apegue a um ponto definido e racional de significado. Geralmente a trama parece não ir a lugar algum ou girar em círculos. Nelas, a noção de “verdade” é relativa e instável e a narração é permeada de vazios, rupturas, buracos, revelando uma dissociação entre o universo da narração e a realidade tangível. A estética do nouveau roman é extremamente visível emMarienbad em diversos aspectos: nas figuras de repetição presentes no filme (podemos citar o mantra entoado pelo narrador na sequência de abertura ou as repetições de fala, de movimentos de câmera, de situações etc.), nos procedimentos de fragmentação e de quebra de continuidade (a mixagem de som, os diálogos “recortados” dos personagens; a alternância por vezes abrupta de voz off e in; a imobilização dos personagens em determinados momentos; a montagem que opera uma mudança repentina de cenário durante um diálogo ou monólogo tido como único etc.).

Você estava com medo. Você estava com medo, você sempre teve medo, mas eu amei seu medo naquela noite.
O Ano Passado em Marienbad se passa em um luxuoso palácio/spa/hotel. Nele, três personagens se destacam. Eles não são nomeados no filme e, no roteiro publicado posteriormente, eles são identicados apenas por letras. Assim, vemos uma bela mulher “A” (Delphine Seyrig) que vagueia pelo castelo, o narrador-personagem “X” (Giorgio Albertazzi), que a persegue e insiste que eles se encontraram no ano anterior, e “M” (Sacha Pitoëff), o suposto marido/amante de “A”, um jogador inveterado. Uma relação de gato e rato se instaura entre “X” e “A”. Ele tenta convecê-la de que ela havia lhe pedido um ano para poderem fugir juntos. No entanto, a moça parece não se lembrar de que o conhece, nem da promessa feita.
Ao longo do filme, “A” tenta resistir e escapar, sem muita convicção, do assédio desse homem misterioso e insistente que não cessa de relatar o que os dois teriam vivido juntos em Marienbad. No filme, é impossível distinguir o que é verdade e o que é mentira, o que é invenção e o que é lembrança, o que é fruto da ficção e o que é fruto da memória. E não é só isso. Por vezes, não se pode dizer se o que é mostrado na imagem corresponde ao passado ou ao presente dos personagens ou ainda se o que vemos é, na verdade, a reconstituição operada pela imaginação/memória dos mesmos. É difícil também determinar as relações causais entre cada sequência e, por vezes, também sua cronologia. Essa completa indeterminação é a essência do filme. O espectador é convocado para viver um enigma, um quebra-cabeças irresolúvel.

Eu te observei, te deixando se debater um pouco. Eu te amei. Eu te amei. Havia algo nos teus olhos… Você era… viva.
Ainda que Marienbad seja um enigma sem solução, ele incita várias interpretações e questionamentos. É possível, por exemplo, ver no filme a reconstituição da atmosfera de um sonho ou de diversos sonhos recorrentes e interligados. Há uma dimensão onírica inegável no filme de Resnais. É possível também cogitar a hipótese de que o filme represente a tentativa de compreender/desvendar um trauma, ou um acontecimento traumático, e que “X”, agindo como um terapeuta, tenta fazer com que “A” tome consciência de uma experiência reprimida pelo seu inconsciente. Há ainda quem interprete o universo retratado pelo filme como sendo o limbo em que diversas almas ou fantasmas habitam. De fato, corpos impassíveis que vagam sem destino em um ambiente circunscrito e sombrio pode nos fazer pensar na imagem do limbo. 
Certamente, a estrutura narrativa e a estética de Marienbad dá margem a diversas interpretações. É interessante constatar também que “X”, o narrador do filme, age como autor ou mesmo como diretor. Ele conta a história de “A” para ela mesma. Ao construir uma narração ele se torna, de uma certa forma, o alter ego do cineasta. É também inevitável aproximar o filme à dinâmica de um jogo, como aquele jogado por “M” diversas vezes ao longo da trama. “M” é imbatível no jogo. Diversos personagens ao seu redor criam teorias para desvendar o segredo do mesmo, mas tudo é inútil porque “M” sempre vence. O jogo de “M” funciona como uma metáfora do próprio filme e de sua narrativa. Muito se pode dizer sobreMarienbad, de nada adiantará, afinal ele continuará um mistério.

Você me pediu para deixar-lhe por um ano inteiro talvez para me testar, talvez para me cansar, ou para que você pudesse me esquecer. Mas o tempo nada significa. Eu venho agora te encontrar.
O Ano Passado em Marienbad não somente é intelectualmente instigante como é visualmente arrebatador. Tudo é deliberado, nada é por acaso. Impressiona o apuro na composição dos quadros (as imagens que se refletem nos espelhos, a simetria dos objetos, a posição dos personagens etc.) e todas as escolhas artísticas efetuadas pelo diretor. A começar pelo cenário escolhido: o filme se passa num elegante palácio, grandioso, ricamente decorado, com pinturas, imensos espelhos e grandes jardins à la française. Três locações foram utilizadas para realizar o filme: os castelos de Schleissheim, Nymphenburg e Amalienburg, na Alemanha. A direção de arte é primorosa, assim como a belíssima fotografia em preto-e-branco. E o que dizer do belíssimo figurino? Sem dúvida, ele exerce um papel fundamental na composição da personagem de Delphine Seyrig, que a exemplo do que faz em India Song, surge como a própria encarnação da beleza. O visual da atriz foi inspirado no de Louise Brooks, musa do cinema mudo. O ator italiano Giorgio Albertazzi brilha no papel de “M” e Sacha Pitoëff é uma presença estranha e intrigante na tela.
Muito se falou e muito ainda se falará sobre O Ano Passado em Marienbad. Assim são as grandes obras de arte. É interessante e revelador o que os próprios autores falaram sobre esse filme. Para Robbe-Grillet, “todo o filme, na verdade, é a história de uma persuasão: ele [o filme] lida com uma realidade que o herói cria a partir da sua própria visão, a partir das suas próprias palavras”. Já Resnais afirmou: “Para mim, o filme é uma tentativa, muito crua e primitiva, de se aproximar da complexidade do pensamento e dos seus mecanismos”.
O terreno da mansão era um tipo de jardim à francesa sem árvores, flores, ou qualquer tipo de vegetação. Pedregulhos, pedras, mármore, a linha reta… superfícies sem mistério. Parecia, num primeiro olhar, impossível de se perder naquele lugar. Num primeiro olhar. Entre os caminhos retilíneos, entre as estátuas de gestos imóveis e as estruturas de granito, onde você estava, agora, se perdendo para sempre, na noite tranquila, sozinha comigo.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Clássicos da Cinemateca - Persona

Eu entendo muito bem. O inútil sonho de ser. Não parecer, mas ser. Estar alerta em todos os momentos. A luta: o que você é com os outros e o que você verdadeiramente é. Um sentimento de vertigem e a constante fome de finalmente ser exposta. Ser vista por dentro, cortada, até mesmo eliminada. Cada tom de voz, uma mentira. Cada gesto, falso. Cada sorriso, uma careta.

Cometer suicídio? Nem pensar. Você não faz coisas desse gênero. Mas pode recusar a se mover e ficar em silêncio. Assim, pelo menos, não está mentindo. Você pode se fechar, se fechar para o mundo. Então não tem que interpretar mais papéis, fazer caras, falsos gestos.
“Tudo o que se disser sobre Persona pode ser contradito, o oposto também será verdade”, palavras do escritor inglês Peter Cowie. Para o crítico americano John Simon, Persona “é o filme mais difícil de todos os tempos”. A crítica de arte Susan Sontag, por sua vez, foi categórica ao afirmar que Persona era o melhor filme da história do cinema. Há quase cinco décadas, a cultuada obra-prima de Ingmar Bergman vem exercendo um verdadeiro fascínio em gerações e gerações de cinéfilos e especialistas. Presente em inúmeras listas de melhores filmes do cinema (Sight and Sound, Empire, British Film Institute, New York Times, para citar algumas), Persona é constantemente apontado como a mais primorosa realização de Bergman no cinema, algo considerável se levarmos em conta a brilhante filmografia do diretor.

A realidade é diabólica. Seu esconderijo não é à prova d’água. A vida engana em todos os aspectos. Você é forçada a reagir. Ninguém pergunta se é real ou não, se é sincera ou mentirosa. Isso só é importante no teatro. Talvez nem nele.
Quando Persona saiu nos cinemas, em 1966, Bergman já era um cineasta consagrado. Ele já havia lançado duas de suas maiores obras-primas, O Sétimo Selo (1957) e Morangos Silvestres (1957), já tinha acumulado duas indicações ao Oscar, três prêmios em Cannes e muitas outras honrarias. Detalhe curioso: 1966 marcou também o vigésimo ano de carreira de Bergman como diretor. Seu primeiro filme, Kris, fora lançado em 1946. Ao longo de sua prolífica carreira, o cineasta sueco realizou mais de 60 filmes (para o cinema e para televisão), tendo também escrito a grande maioria dos roteiros de seus filmes. Bergman foi igualmente importante na cena teatral de seu país; ele dirigiu cerca de 170 peças. O cineasta preferido de Woody Allen era também um grande conquistador na vida real. Ele casou-se cinco vezes e teve longos relacionamentos extraconjugais com três de suas atrizes favoritas: Harriet Andersson, Bibi Andersson e Liv Ullmann (as duas últimas protagonizam Persona). Bergman é, certamente, um dos maiores ícones do cinema mundial e o legado que ele nos deixou é incomparável. O cineasta faleceu em julho de 2007, aos 89 anos.

Entendo por que não fala, por que não se movimenta. Sua apatia tornou-se um papel fantástico. Entendo e admiro você. Acho que deveria representar esse papel até o fim… até que não seja mais interessante. Então… pode esquecer, como esquece seus papéis.
O roteiro de Persona foi escrito num momento difícil da vida do diretor, quando ele se recuperava de uma grave pneumonia. O processo de escrita durou apenas nove semanas. Posteriormente, o cineasta confessou ser extremamente apegado ao filme e acreditar ter sido salvo por ele: “Se eu não tivesse encontrado forças para fazer esse filme, eu provavelmente estaria arruinado”. Ele acrescentou que em Persona, ele trabalhara pela primeira vez sem se preocupar se o filme seria um sucesso comercial, com absoluta liberdade. O diretor ainda afirmou que, tanto em Persona quanto em Gritos e Sussurros, ele fora o mais longe possível em termos de liberdade criativa. O afeto que Bergman nutria por Persona pode estar ligado também a outro motivo. Segundo o próprio cineasta, foi durante as filmagens desse filme que ele se apaixonou por Liv Ullmann. Sua relação com a atriz durou cinco anos e os dois continuaram amigos mesmo após o rompimento (Linn Ullmann, hoje escritora de sucesso, é o fruto do relacionamento). Liv Ullmann protagonizou o belo Saraband (2003), um dos últimos filmes do diretor, feito para a televisão. O filme corresponde à sequência do genial Cenas de um Casamento (1973). 

Não! Eu não sou como você. Eu não me sinto como você. Eu sou a irmã Alma, eu só estou aqui para ajudá-la. Eu não sou Elisabet Vogler. Você é Elisabet Vogler.
Persona conta a história de Elizabet (Liv Ullmann), uma atriz que para de falar repentinamente em meio a uma apresentação da tragédia Electra, entrando num estado de semicatatonia. Nenhuma explicação física ou neurológica é encontrada para a crise de Elizabet. Internada em um hospital, ela é posta sob os cuidados da jovem enfermeira Alma (Bibi Andersson). Após algum tempo de internação, a médica de Elizabet sugere que esta passe uma temporada em sua casa de praia, ainda sob os cuidados de Alma. Isoladas do resto do mundo, as duas mulheres vão se tornando cada vez mais próximas. Alma encontra na emudecida Elizabet uma perfeita ouvinte e lhe conta os seus mais íntimos segredos, como uma orgia praticada com dois jovens adolescentes e uma amiga numa praia deserta e um subsequente aborto. Após ler uma carta comprometedora de Elizabet, Alma começa a perder o controle sobre si mesma, sentindo-se extremamente ligada à atriz e, ao mesmo tempo, oprimida pelo seu silêncio. Gradualmente, a persona de Elizabet toma conta da enfermeira e as identidades das mulheres parecem se fundir em uma só.
O filme se inicia por um intrigante prelúdio em que vemos uma série de imagens de duração variável (algumas que duram o tempo de um piscar de olhos, como aquela que mostra um pênis ereto). Essa impressionante sequência inicial consiste em uma justaposição de imagens heterogêneas, que lembra o experimentalismo das vanguardas modernistas e o surrealismo. Bergman faz diversas alusões ao próprio cinema, aos equipamentos, às suas primeiras formas, aos filmes mudos. A imagem da fita em movimento, dos aparelhos cinematográficos ou da fita que se deteriora intervém diversas vezes ao longo dessa primeira sequência e de maneira pontual no resto do filme. Bergman parece querer voltar à gênese do cinema, aos princípios básicos, ao invencionismo dos primeiros tempos. Existe algo de hipnótico na sequência de abertura que se deve muito ao atrevimento da montagem, a utilização poética de imagens impactantes e à sua dimensão metalinguística. Ao final do filme, Bergman introduz novamente a imagem de uma câmera (manuseadas por Nykvist e o diretor), o que confere uma forma cíclica ao filme. É genial também a maneira com a qual Bergman introduz a imagem da fita que se deteriora em um momento-chave do filme, antes do seu ato final, criando um incrível choque visual para o espectador. Em Persona, o dispositivo cinematográfico e a vida das personagens parecem intrinsecamente associados.

É possível ser a mesma pessoa o tempo todo?
Persona é uma coleção de momentos antológicos. Uma das sequências inesquecíveis do filme é aquela em que Alma relata sua aventura sexual com um garoto, o momento de maior felicidade e gozo da vida da personagem. Certamente, o monólogo de Alma corresponde a um dos momentos mais eróticos da história do cinema. O diretor se dispensa de representar o ato sexual visualmente, o que poderia ser feito através de um flashback. O erotismo da cena é fruto do poder de evocação do ousado texto de Bergman e da maneira envolvente com que Bibi Anderson o declama. Para Pauline Kael, essa sequência corresponde a “um dos raros momentos verdadeiramente eróticos do cinema”. Outra cena brilhante do filme é aquela em que Elizabet entra no quarto de Alma no meio da noite. A lindíssima fotografia do genial Sven Nykvist confere uma atmosfera quase fantasmagórica à cena (sonho? realidade?). O instante em que as duas mulheres olham para si mesmo, como se estivessem diante de um espelho, enquanto trocam carícias é uma das imagens mais marcantes da filmografia de Bergman.
Por fim, é inevitável não mencionar a escolha de Bergman de repetir o monólogo de Alma sobre o filho de Elizabet, uma vez com a câmera focalizando o rosto de uma, depois o da outra. O texto é exatamente o mesmo, assim como a montagem. Bergman parece querer mostrar a mesma história contada pelas duas mulheres, ainda que a voz seja só a de Alma (já que Elizabet não fala). Essa sequência mostra a união das duas mulheres e não por acaso ela termina pela colagem do rosto das duas atrizes, uma imagem impressionante que revela o quanto as identidades das duas se tornaram uma só.
O roteiro de Bergman é um maravilhoso estudo sobre a existência, sobre o “ser” e o “parecer”. Não é por acaso que muitas interpretações de ordem psicanalítica foram feitas sobre o filme. Deve-se louvar também a escalação das duas atrizes principais: as belas Liv Ullmann e Bibi Anderson, cujos rostos têm algo de semelhante, o que é explorado brilhantemente por Bergman. Ullmann é uma atriz fenomenal, uma das maiores atrizes do cinema europeu. Ainda que sua personagem seja a doente, a paciente, é ela a mais forte das duas. Face aos horrores do mundo, ela decide calar-se completamente e “ser” integralmente. Para isso, é necessária uma força que Alma nunca teria. O olhar de Ullmann nesse filme atravessa montanhas. É impressionante como ela se impõe face à Bibi Anderson, mesmo esta oferecendo a melhor atuação da sua carreira. A performance de Anderson é um tour de force como diriam os franceses. Impressiona a maneira com a qual ela expressa toda a vulnerabilidade emocional e a instabilidade de sua personagem, que se degrada progressivamente. As duas atrizes comunicam perfeitamente a atração que suas personagens sentem uma pela outra.
Tudo o que se disser sobre Persona pode ser contradito, mas dificilmente pode-se negar o quão fascinante é o exercício cinematográfico proposto por Bergman neste clássico.

É realmente importante não mentir, falar de forma que tudo soe verdadeiro? Pode-se viver livremente, sem mentir e inventar desculpas? Não é melhor ser preguiçoso, negligente e enganador? Minhas palavras não significam nada para você. Pessoas como você não podem ser alcançadas. Eu me pergunto se a sua loucura não é o pior tipo. Você age saudável, representa tão bem que todo mundo acredita em você - todos, exceto eu - porque eu sei como você é podre.