quinta-feira, 9 de junho de 2011

Plata quemada - 2000

Eduardo Noriega e Leonardo Sbaraglia em Plata quemada

Já tive a oportunidade de dizer que sou um grande fã do cinema argentino, que sempre nos brinda com grandes filmes e ótimas histórias. Plata quemada vem confirmar a força desse cinema. O filme foi dirigido pelo ótimo Marcelo Piñeyro e sua trama é baseada no romance de Ricardo Piglia, publicado pouco antes da adaptação para o cinema, em 1997. A trama conta a história de um grupo de outlaws que roubam um carro-forte em Buenos Aires e, no assalto, acabam assassinando policiais argentinos. Para fugir da polícia e de um dos mandantes do crime, o grupo formado por Cuervo, Nene, Angel e Fontana deve se refugiar no Uruguai. Detalhe: Angel e Nene são amantes. 


Plata quemada é uma tragédia anunciada desde a primeira cena, o que não impede que o espectador torça por seus personagens até o fim. E é sempre interessante observar como podemos nos identificar com os bandidos. O intenso filme argentino pode ser visto como um Bonnie and Clyde (1967) homoerótico. Em ambos os filmes, dois criminosos envolvidos romanticamente devem fugir da polícia rumo a um destino semelhante. Outra semelhança é que ambos os casais dos filmes enfrentam, em determinado momento, "problemas" sexuais. 

Como afirmei no parágrafo anterior, Plata quemada carrega um tom sombrio e mórbido desde o seu início. É inevitável o sentimento de que algo terrível acontecerá ao fim da jornada. O cinema nos mostra, não tão raramente, personagens que buscam a tragédia, mesmo que de forma inconsciente. É o caso de Cuervo, Nene e Angel.  Em Plata quemada, medo e o erotismo são uma mistura, no mínimo, eletrizante. O que é mais intenso do que o desejo e o medo da morte? Talvez apenas o amor de Angel e Nene. 

Nene, interpretado maravilhosamente bem pelo ator argentino Leonardo Sbaraglia, é o mais sensato do trio. Como afirma Fontana (o mais velho do grupo) ele é o único com quem se pode conversar. O rapaz, no entanto, abandona pouco a pouco a sensatez, a partir do momento em que não consegue mais se comunicar com o seu grande amor Angel. Carregando uma certa ambiguidade sexual, Nene é um poço de luxúria e se envolve também com a belíssima prostituta, Giselle (participação fantástica de Leticia Brédice). Angel, que por sua vez é interpretado por um dos melhores atores espanhóis da nova geração, Eduardo Noriega, é um belo moço que sofre, provavelmente, de algum tipo de esquizofrenia, já que ouve vozes repressoras que manifestam uma suposta culpa pela relação homossexual que ele tem com Nene. Nene e Angel são, mesmo com todos os problemas que atravessam a relação, um casal extremamente apaixonado. A troca de olhares entre os dois personagens é algo indescritível. Cuervo, interpretado com muita energia por Pablo Echarri, é o terceiro protagonista, um jovem irresponsável, viril, amante da cultura italiana e que acrescenta ainda mais sensualidade ao filme. 

Plata quemada é um thriller, um belo filme de amor e um drama psicológico. A excelente narração off dos primeiros 40  minutos é abandonada após dar lugar à voz de Nene e de Angel. Esse abandono não justificado pode ser a única falha do filme. A linda  fotografia abusa dos tons sombrios e das cores acinzentadas. A trilha sonora é outro show a parte; o filme ainda utiliza belas canções espanholas e italianas. 

A sequência final de Plata quemada, magistralmente dirigida, é um soco no estômago... Talvez o filme não seja o melhor do diretor, mas com certeza, é um grande exemplar do cinema argentino. 

Trailer do filme:


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