quarta-feira, 18 de abril de 2012

Atores que não têm o destaque ou o reconhecimento que merecem!

O Clube do Filme homenageia ótimos atores que são constantemente subestimados ou pouco prestigiados pela mídia. Tais atores raramente têm seus talentos reconhecidos pela crítica ou por premiações da indústria cinematográfica. Muitas vezes, encontram dificuldades de encontrar bons papéis e são relegados a personagens de segundo plano. Quando se lançam a projetos interessantes, passam despercebidos. Ainda há o caso de atores com longas e consistentes carreiras, mas que nunca tiveram o reconhecimento ou o destaque que merecem. No post de hoje, o Clube do Filme relembra os talentos que mereciam ser mais valorizados ou melhor aproveitados no cinema atualmente.

Em ordem alfabética:

1. Alan Rickman



Grande ator inglês, com um currículo invejável e que, absurdamente, não tem nenhuma indicação ao Oscar. Recentemente, ele esteve fantástico na série Harry Potter.

2. Brendan Gleeson



Um excepcional ator irlandês relegado constantemente a papéis menores. O eterno coadjuvante esteve em Coração Valente (1995), na franquia Harry Potter e na comédia Na Mira do Chefe (2008).

3. Christina Ricci



Ela se destacou como atriz-mirim e mostrou seu talento em filmes como A Família Adams (1991), O Oposto do Sexo (1998) e Monster – Desejo Assassino (2003). Há algum tempo, a atriz não se envolve em uma produção de destaque.

4. Djimon Hounsou



Ele nasceu em Cotonou, na África. O ator teve atuações excepcionais em Amistad (1997), Terra dos Sonhos (2002) e Diamante de Sangue (2006).

5. Edward Norton



Um dos melhores atores americanos de sua geração, muitas vezes, esnobado pelas premiações.

6. Ewan McGregor



O ator escocês é extremamente talentoso e versátil, mas, até hoje, não foi indicado ao Oscar. Recentemente, ele esteve ótimo em Toda Forma de Amor (2011).

7. Gary Oldman



Um dos maiores atores ingleses da atualidade, tem trabalhos inesqueciveis no cinema e já foi esnobado diversas vezes pelas grandes premiações. Ele foi indicado pela primeira vez ao Oscar neste ano! Entre seus maiores trabalhos estão Sid & Nancy (1986) e Drácula de Bram Stoker (1992).

8. Gillian Anderson



A talentosa atriz americana já trabalhou no teatro, no cinema e na televisão. Ela foi revelada na série Arquivo X, mas ainda não conseguiu um grande papel no cinema. Sua atuação no filme A Essência da Paixão (2000) prova o que ela é capaz de fazer.

9. Guy Pearce



O ator australiano já provou diversas vezes que é bem mais do que um simples galã.

10. Ian McKellen



O ator tem mais de 40 anos de carreira, mas conquistou fama internacional há pouco tempo com seu icônico personagem Gandalf na trilogia Senhor dos Anéis. Antes disso, ele já havia sido indicado ao Oscar por sua excelente performance por Deuses e Monstros (1998). Ele também deu vida a Magneto na série X-Men. Particularmente, sinto falta de vê-lo com mais frequência nas telonas.

11. Jamie Lee Curtis



Filha de Tony Curtis e Janet Leigh, a atriz tem um timing cômico único e performances sensacionais em filmes como Um Peixe Chamado Wanda (1988) e True Lies (1994). A dificuldade de encontrar bons papéis a fez cogitar a aposentadoria recentemente.

12. Joan Allen



A excelente atriz americana já foi indicada ao Oscar três vezes, mas vem sendo esnobada em seus últimos trabalhos e nem sempre é presenteada com papéis do seu calibre.

13. John Cusack



Um grande ator que nunca teve o reconhecimento que merece e que vem se lançando a filmes menores ou blockbusters.

14. John Lithgow



Um ator excepcional, que brilhou na televisão americana e que teve trabalhos de destaque no cinema no passado. Ele, no entanto, parece não encontrar bons papéis atualmente no cinema. Um desperdício!

15. John Malkovich



Um ator extremamente talentoso que nem sempre teve o reconhecimento que merece. Há algum tempo, o ator não é visto em um papel de destaque no cinema.

16. Kathleen Turner



Kathleen Turner foi um dos grandes símbolos sexuais dos anos 80, mas provou em diversas ocasiões que era também uma grande atriz. Hoje em dia, a atriz (como muitas da sua geração) enfrenta dificuldades de encontrar bons papéis.

17. Laura Dern


A atriz é talentosa, mas muitas vezes mal aproveitada. Ela brilhou em filmes de David Lynch e na recente série Enlightened. 

18. Laura Linney

Ela já foi indicada ao Oscar três vezes, mas nunca se tornou uma grande celebridade. Ela é capaz de roubar a cena como coadjuvante e atualmente brilha na série televisiva The Big C.

19. Lisa Kudrow



Provavelmente, a atriz mais talentosa da série Friends. A humorista já fez alguns filmes para o cinema, mas nunca conseguiu repetir o sucesso de Phoebe. Talento é o que não falta!

20. Mary Louise Parker



Além de bela, Mary Louise Parker é uma fantástica atriz. Ela se destacou na televisão americana, na série Weeds e na minissérie Angels in America. A atriz merece bons papéis no cinema.

21. Mia Farrow



Mia Farrow é, sem dúvida, uma das atrizes mais subestimadas do cinema. Apesar de ter vários grandes trabalhos como em O Bebê de Rosemary (1968) e em filmes de Woody Allen, a atriz nunca foi indicada ao Oscar.

22. Naomi Watts



Naomi Watts é uma das melhores atrizes de sua geração. Ela foi esnobada no Oscar por sua atuação em Cidade dos Sonhos (2001). A atriz costuma escolher bons projetos, mas poucas vezes tem o destaque que merece.

23. Patricia Clarkson



Patricia Clarkson é uma excelente atriz americana, normalmente vista em papéis coadjuvantes.

24. Paul Giamatti



O ator, sempre interessante, foi esnobado pelo Oscar por Sideways - Entre Umas e Outras (2004) e Anti-Herói Americano (2003). Ele é normalmente visto em produções independentes.

25. Robin Wright



Ex-Sra. Penn, a bela Robin Wright nunca foi devidamente reconhecida pelo seu talento.

26. Samantha Morton



A interessantíssima atriz inglesa foi indicada ao Oscar por Poucas e Boas (1999) e Terra dos Sonhos (2003) e esnobada pela sua ótima performance em Minority Report (2002).

27. Sigourney Weaver



A atriz é muito mais do que a tenente Ripley, mas raramente tem a oportunidade de provar.

28. Steve Buscemi



O eterno coadjuvante que brilhou em Fargo (1996), provou na série Boardwalk Empire que tem cacife para ser protagonista.

29. Toni Colette



A atriz australiana dificilmente deixa a desejar. Ela esteve excelente em filmes como O Casamento de Muriel (1994), roubou a cena em uma pequena participação em As Horas (2002) e esteve magnífica na série United States of Tara.

30. William H. Macy



Outro eterno coadjuvante, William H. Macy tem um currículo invejável e trabalhos memoráveis no cinema e na televisão.

E para você? Quais são os atores mais subestimados, esnobados ou mal aproveitados do cinema? Contribua com a nossa lista. 



quarta-feira, 11 de abril de 2012

Espelho, Espelho Meu - 2012

Título Original: Mirror Mirror
País: EUA
Lançamento: 2012
Duração: 106 min
Direção: Tarsem Singh
Atores: Lily Collins, Julia Roberts, Armie Hammer e Nathan Lane
Gênero: Comédia / Aventura / Romance

Lily Collins dá vida a Branca de Neve em Espelho, Espelho Meu



A mais nova moda em Hollywood parece ser resgatar contos de fada e fazer releituras "modernas". Depois do famigerado A Garota da Capa Vermelha (2011) sobre Chapeuzinho Vermelho, temos, no mesmo ano, dois filmes sobre Branca de Neve: Espelho, Espelho Meu (2012) e Branca de Neve e o Caçador (2012). E não pára por aí: já foi anunciada a adaptação de A Bela Adormecida para as telonas. O filme contará com a participação de Angelina Jolie. Um dos pioneiros na adaptação em live-action (com atores reais) de contos de fada para o cinema foi o francês Jean Cocteau, com  A Bela e a Fera (1946). Foi, no entanto, através das animações da Disney que tais narrativas se popularizaram nas telonas, com Branca de Neve e os Sete Anões (1937), Pinocchio (1940), Cinderela (1950), A Bela e a Fera (1991), entre outros. Com a exceção do clássico de Cocteau, é difícil citar excelentes filmes em live-action que tenham abordado o universo do conto de fadas. Recentemente, Tim Burton se aventurou com Alice no País das Maravilhas (2010), mas o resultado foi menos interessante do que poderíamos esperar.

O primeiro dos filmes sobre Branca de Neve a ser lançado neste ano é Espelho, Espelho Meu. O longa-metragem foi dirigido pelo indiano Tarsem Singh, que, até então, havia realizado apenas 3 filmes na carreira, entre eles A Cela (2000). É interessante salientar que Singh parece ser especialista em obras de fantasia, já que todos os seus filmes pertencem a esse gênero. Inspirado no célebre conto dos irmãos Grimm, o roteiro de Espelho, Espelho Meu ficou a cargo de Jason Keller e Melissa Wallack, que também não possuem um currículo extenso ou expressivo. Tudo relacionado ao projeto nos levaria a crer que ele seria uma bomba homérica ou mais um filme medíocre. Eis, no entanto, que o filme se revela uma grata surpresa, ainda que não tenha nada de extraordinário ou inovador.

O filme se inicia com uma excelente sequência de animação que contextualisa a história. Mas como todo mundo já conhece a trama de Branca de Neve, seria necessário fazer com que algo saísse do lugar-comum. Este é o primeiro acerto do filme: criar um prólogo narrado por ninguém menos que a bruxa que, desde esse momento, revela ter um senso de humor bastante peculiar. É interessante observar que os roteiristas subvertem a história do clássico, acrescentando e transformando diversos elementos da narrativa, mas não a descaracterizando completamente. Keller e Wallack encontram espaço, em sua narrativa modernosa, para a maçã envenenada, para o espelho mágico, para os sete anões etc. Não deixa de ser curiosa a inversão de papéis que os autores operam na trama, fazendo Branca de Neve dar o beijo que retirará o feitiço do príncipe. Um relance de feminismo?  Infelizmente, os roteiristas caem em inúmeros clichês aborrecidos, como a irritante tendência hollywoodiana de transformar toda mocinha em guerreira. Essa tendência talvez possa ser encarada como uma mudança na forma de representação das mulheres no cinema. Até mesmo a princesa de conto de fadas pode se defender sozinha, ou quase... Mas, enfim, eu divago. 

O maior acerto do filme é investir na comédia e é nesse gênero que ele se mostra bem sucedido. Apesar de apostar na ironia e, por vezes, no tom parodístico, o filme resgata um tipo de humor leve e inocente que a tempo não se via no cinema.  Obviamente os roteiristas utilizam a auto-derisão para zombar dos procedimentos do conto de fadas, algo que a série Shrek já havia feito de maneira mais inteligente. No entanto, a leveza da trama e a performance inspirada dos atores, fazem do filme um divertimento saudável. O filme, infelizmente, cai numa armadilha bastante comum. No último ato, consagrado às resoluções dramáticas, o filme fica formulaico e previsível . E quando o espectador pensa que tudo acabou, eis que Singh resolve homenagear suas origens e faz uma sequência musical à la Bollywood. Bisonho? Talvez. Constrangedor? Provavelmente. O filme, no entanto, te deixa de tão bom humor, que é provável que muito espectador saia do cinema balançando os ombrinhos ao som da musiquinha I Believe (in love).

Encabeçando o elenco, temos a estrela Júlia Roberts, no papel de vilã. Há alguns anos, a atriz não fazia algo digno de nota. Desde Closer, ela parece estar tendo dificuldades para encontrar bons papéis. Em Espelho, Espelho Meu, ela tem a oportunidade de brilhar e não a desperdiça. Roberts brinca e se diverte com sua personagem, que definitivamente não exige muito de suas habilidades artísticas. O carisma da atriz cai como uma luva para o papel da bruxa malvada e ela prova que continua com um ótimo timing cômico.  O único problema com a personagem é o figurino e a maquiagem. A bruxa do clássico da Disney era muito mais atraente e bonita do que a encarnada por Julia Roberts e isso em 1937! A novata e promissora Lily Collins surge com suas grossas sobrancelhas no papel de Branca de Neve. A moça não chega a impressionar, mas não faz feio. Ela ainda nos remete a Anne Hathaway. Armie Hammer, descoberto em A Rede Social (2010), prova ser uma das grandes revelações masculinas dos últimos anos. O galã é um Brendan Fraser melhorado e se entrega completamente à comédia, surpreendendo. Nathan Lane surge mais uma vez engraçado, com suas caras e bocas habituais. Por fim, deve-se fazer uma menção aos atores que interpretam os anões, todos muito bons.

Ainda que não tenha gostado do figurino (e eu gostaria de saber o porquê da insistência com o amarelo gema), o filme apresenta um bom espetáculo visual, com uma fotografia eficiente e um bom uso dos efeitos especiais. A direção de arte é exemplar. No final das contas, Espelho, Espelho Meu é um entrenimento tão despretensioso que chega a ser um filme charmoso e divertido. Nesse sentido, ele acaba sendo superior a muitas outras comédias lançadas atualmente, já que diverte sem precisar apelar para a vulgaridade, escatologia ou coisas do gênero... E mais: acredito que o filme será igualmente atraente para o público infantil. Em suma, Espelho, Espelho Meu é um bom filme Sessão da Tarde.

Assista ao trailer:



quarta-feira, 4 de abril de 2012

Um Método Perigoso - 2011

Título original: A dangerous method
Lançamento: 2011
País: EUA
Diretor: David Cronenberg
Atores: Michael FassbenderKeira Knightley, Viggo Mortensen e Vincent Cassel
Duração: 99 min 
Gênero: Drama

Michael Fassbender e Viggo Mortensen interpretam Jung e Freud, respectivamente.
David Cronenberg é indubitavelmente um dos cineastas mais instigantes da atualidade. Muitos dos seus filmes mais conhecidos são associados a um gênero em particular, a ficção científica, como o jovem clássico A Mosca (1986) e os cults Scanners (1981) e eXistenZ (1999). O diretor canadense conseguiu, no entanto, expandir sua obra para outros gêneros como, por exemplo, o drama, com Spider (2002), e o thriller, com Marcas da Violência (2005), sem, no entanto, deixar de lado seu interesse pelo caos, pela dimensão psicanalítica de seus personagens e por narrativas audaciosas e perturbadoras. Cronenberg é, provavelmente, o cineasta mais kafkaniano de que temos notícia. Não chega a surpreender o interesse do diretor em realizar um filme sobre dois dos maiores ícones da psicanálise: Sigmund Freud, o fundador do método, e Carl Jung, um discípulo contestador. Um Método Perigoso (2011), o filme em questão, foi roteirizado pelo roteirista/dramaturgo Christopher Hampton, de Ligações Perigosas (1988) e Desejo e Reparação (2007). O filme é a adaptação da peça The Talking Cure (também de Hampton), que, por sua vez, é baseada no livro A Most Dangerous Method do escritor americano John Kerr. 

Um Método Perigoso retrata dois encontros extremamente importantes no mundo da psicanálise. O primeiro deles é aquele entre Jung e sua célebre paciente, Sabina Spielrein, que viria a se tornar, posteriormente, uma das primeiras psicanalistas mulheres da história. Hampton e Cronenberg acertadamente optaram por focalizar não apenas a relação amorosa do casal, mas também a fecunda e intensa relação intelectual que se estabeleceu entre os dois, assim como a influência que o pensamento de um teve sobre trabalho do outro. A outra relação abordada pelo filme não é menos interessante. Um Método Perigoso pinta o nascimento da amizade entre Freud e Jung, o gradual distanciamento dos dois e a ruptura final. Não é difícil perceber que o filme reforça a imagem paternal de Freud com a relação a Jung e a necessidade deste de sair da sombra do grande mestre. 

O filme se estrutura em duas partes facilmente identificáveis. Na primeira metade do longa-metragem, temos um destaque maior para a relação Sabina x Jung. Na segunda, a trama se concentra na relação Jung x Freud. Jung é, portanto, a figura central do filme, ao redor da qual pivotam os outros personagens, inclusive o interessante Dr. Otto Gross. O ponto de vista do protagonista é aquele que predomina no filme e poderíamos conceber outras narrativas sob a perspectiva de Freud e Sabina. Uma das maiores qualidades do roteiro de Hampton é o de fazer com que todas as teorias em jogo, nas discussões intelectuais dos personagens, sejam facilmente digeridas pelo espectador leigo, o que faz do filme uma boa introdução ao estudo da psicanálise e da oposição entre a visão de Freud e de Jung. No entanto, se por um lado o ditatismo da abordagem de Hampton possibilita que a história seja acessível a todos, ela contribui para o que é, a meu ver, o maior pecadilho do filme: o excesso de racionalismo.

Há algo de extremamente racional e frio na narrativa de Um Método Perigoso. As ideias dos personagens parecem mais convincentes e interessantes que seus próprios sentimentos, fenômeno que acaba por criar um distanciamento entre o espectador e os protagonistas. Por exemplo, a relação entre Sabina e Jung e até mesmo a atração sexual entre dois personagens não soam verdadeiramente intensos ou viscerais. Trocando em miúdos, o filme parece ser calcado muito mais no aspecto racional de seus personagens e falha em dar a dimensão necessária à vida emocional deles. A performance dos atores talvez contribua para essa lacuna emocional. O sempre interessante Michael Fassbender compõe um personagem que se destaca pela sua rigidez corpórea. Por mais que esteja torturado por diversos conflitos, o ator mantém a compostura de um intelectual burguês bem nascido e educado.

Já a performance de Keira Knightley talvez represente um dos pontos mais fracos do filme. A atriz se esforça, no início da trama, para dar corpo e voz a uma personagem histérica, mas, infelizmente, a construção da sua performance fica nítida, nos mostrando uma atuação muito estudada e artificial. O maior desafio ao se interpretar personagens desequilibrados ou loucos é o de fugir da simples caricatura e do exagero e fazer algo orgânico e verossímil. Infelizmente, Knightley acabou revelando suas limitações como atriz, nos mostrando, ao mesmo tempo, uma entrega e um esforço admiráveis. Outro problema é que a personagem se metamorfoseia ao longo do filme, perdendo, quase de uma hora para outra, o seu tom histérico. Mais bem sucedido são Viggo Mortensen e Vicent Cassel. O primeiro faz de Freud uma figura extremamente interessante e sedutora. O segundo tem uma pequena participação, onde rouba a cena, dando um verdadeiro show. Seu personagem, um "anjo do mal", talvez se destaque justamente por trazer um pouco de subversão à trama. 

Em Um Método Perigoso, Cronenberg se reinventa, investindo em um gênero que não é comum em sua filmografia: a cinebiografia. O diretor aposta bastante nos closes, optando pela alternância ritmada de planos sobre os rostos dos personagens. Como o filme é basicamente baseado em conversações, a ferramenta do campo contracampo introduz dinamismo e, por vezes, tensão às discussões. Outra escolha do diretor é a de mostrar, em diversos momentos, dois personagens, um no primeiro plano e outro no segundo, com grande profundidade de campo (ambos nítidos). Tal procedimento permite unir dois personagens no mesmo quadro, criando uma impressão proximidade entre eles. Este recurso é utilizado sobretudo com Sabine e Jung, nas sessões de terapia. É interessante observar que, na cena final do filme, os personagens já não são mostrados dessa forma, evidenciando o rompimento definitivo entre eles. O diretor ainda mostra, de maneira extremamente sutil, as diversas inversões de papéis entre os personagens que ocorrem no filme, de analista a analisado. O filme ainda conta com uma bela fotografia que explora os tons pastéis e claros. É pertinente apontar como o universo de Freud é  escuro, enquanto o de Jung é  iluminado. Cronenberg não deixa de explorar as diferenças entre os dois personagens: classe social, cultura, raça, background, ideologia, etc. 

Em Um Método Perigoso, David Cronenberg mais uma vez demonstra um grande fascínio pelo ser humano e pelo seu universo interior, dando especial atenção às neuroses de seus personagens. O caráter racional e frio do longa-metragem é algo intencional, uma abordagem que talvez faça do filme uma experiência menos envolvente. Embora seja um filme menor de Cronenberg e, mesmo que falte ingredientes para que seja excepcional, Um Método Perigoso representa um cinema de qualidade, com a assinatura de um cineasta sempre relevante. 

Assista ao trailer: