segunda-feira, 31 de outubro de 2011

As mulheres mais sexies do cinema

O Clube do Filme homenageia, nesta semana, a sensualidade feminina no cinema. Selecionamos algumas personagens inesquecíveis, em grandes filmes, que são importantes  na filmografia de atrizes reconhecidas pelo talento, beleza e sex appeal

No post de hoje, elegemos as personagens mais sexies do cinema clássico hollywoodiano. Confira, opine e contribua com a nossa lista!


Parte I - A Era de Ouro de Hollywood

1 - Helen Jones (Marlene Dietrich)

3 - Poppea (Claudette Colbert)

2 - Grusinskaya (Greta Garbo)
5 - Laura Hunt (Gene Tierney)

4 - Rio McDonald (Jane Russell)
6 - Marie 'Slim' Browning (Lauren Bacall)
7 - Cora Smith (Lana Turner)

                 
8 - Gilda (Rita Hayworth)

9 - Maria Vargas (Ava Gardner)

10 - Carmen Jones (Dorothy Dandridge)
11 - The Girl (Marilyn Monroe)
               
12 - Frances Stevens (Grace Kelly)
13 - Maggie Pollit (Elizabeth Taylor)





















1 - Marlene Dietrich como Helen Jones, em Blonde Venus (1932), dirigida pelo genial Josef von Sternberg. 

2 - Greta Garbo como Grusinskaya, em Grande Hotel (1932), filme dirigido por Edmund Goulding. Neste clássico, a atriz imortalizou a frase "I want to be alone". 

3 - Claudette Colbert como Pompéia, em O Sinal da Cruz (1932), épico exuberante de Cecil B. DeMille. No filme, a atriz chega a mostrar parcialmente seus seios. Nesta época, ainda não vigorava a censura. 

4 - Jane Russell como Rio McDonald, em O proscrito (1943), dirigido por Howard Hughes. Os volumosos seios da atriz chamaram bastante atenção e a censura, já consolidada nesta época, fez vários embargos ao filme. 

5 - Gene Tierney como Laura Hunt, em Laura (1944), clássico de Otto Preminger. 

6 - Lauren Bacall como "Slim", em seu filme de estreia no cinema, Uma Aventura na Martinica (1944), de Howard Hawks. 

7 - Lana Turner como Cora Smith, em O destino bate à sua porta (1946), filme de Tay Garnett. 

8- Rita Hayworth como Gilda, em Gilda (1946), filme de Charles Vidor. Os cartazes do filme diziam "There never was a woman like Gilda!". 

9 - Ava Gardner como Maria Vargas em A Condessa Descalça (1954), filme de Joseph L. Mankiewicz.  

10 - Dorothy Dandridge como Carmen Jones, em Carmem Jones (1954), musical de Otto Preminger inspirado na ópera de Bizet. Dorothy Dandridge foi a primeira mulher negra a concorrer ao Oscar de Melhor Atriz, ela foi indicada por este papel. 

11 - Marilyn Monroe como The Girl, em O pecado mora ao lado (1955), comédia de Billy Wilder. A atriz também esbanja sensualidade em Os homens preferem as loiras (1953) e Quanto mais quente melhor (1959).

12 - Grace Kelly como Frances Stevens, em Ladrão de casaca (1955), filme de Alfred Hitchcock. 

13 - Elizabeth Taylor como Maggie Pollit, em Gata em teto de zinco quente (1958), adaptação da peça homônima de Tennessee Williams, dirigida por Richard Brooks. 


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Bob Dylan e sua cinebiografia

Título original: I'm Not There
Lançamento: 2007
País: EUA, Alemanha
Direção: Todd Haynes
Atores: Christian Bale, Marcus Carl Franklin, Richard Gere, Ben Whishaw, Cate Blanchett.
Duração: 135 min
Gênero: Drama



Bob Dylan é, provavelmente, o cantor/compositor americano mais celebrado de todos os tempos. Ele nasceu em 24 de maio de 1941, no estado de Minnesota, norte dos Estados Unidos. Nos anos 60, suas músicas viraram hinos antiguerra. Em 50 anos de carreira, Dylan explorou diversos estilos musicais: folk, blues, country, gospel, rock and roll, Irish folk music, jazz e swing. Muitas de suas letras são consideradas políticas, filosóficas e falam da vida em sociedade e de si mesmo. A revista Times o elegeu como uma das 100 pessoas mais importantes do século XX e a revista Rolling Stone o escolheu, em 2004, como o segundo maior artista de todos os tempos, atrás apenas dos Beatles. George Harrison afirmou, certa vez, que até mesmo a banda inglesa era fã de Dylan. A música mais famosa do compositor, "Like a Rolling Stone", foi eleita, por diversas vezes, a melhor de todos os tempos. Dylan, além de cantor e compositor, tem outros talentos: é pintor, poeta e já publicou vários livros, entre eles, sua autobiografia. [Confira a matéria da revista Rolling Stone que elegeu as 8 maiores canções de Bob Dylan]


Não estou lá é dirigido por Todd Haynes, responsável também pelo roteiro do longa, ao lado de Oren Moverman. O diretor americano tem no currículo os excelentes Safe (1995) e Longe do paraíso (2002), ambos estrelados por Julianne Moore. A cinebiografia de Bob Dylan idealizada por Haynes revela-se genial por não se contentar em retratar fatos importantes da vida do cantor e, sim, por tentar captar sua essência. Dessa forma, nada melhor do que múltiplos Dylan’s para representar um artista que se reinventou várias vezes e que passou por diversas fases em sua carreira. 


A missão de interpretar o gênio da música foi dividida entre seis atores, cada um representando uma fase e um estilo do cantor. Assim, as diversas facetas de Dylan são personificadas pelos famosos Christian Bale, Cate Blanchett, Heath Ledger e Richard Gere e pelos não tão conhecidos Marcus Carl Franklin e Ben Whishaw. Bale ilustra a fase engajada de Dylan. Ledger mostra o lado família do cantor e seu primeiro casamento. A Cate Blanchett cabe a fase em que o músico se dedicou a guitarra elétrica, período em que o artista era dependente de estimulantes. Gere interpreta um Dylan que quer fugir do sucesso. O garoto Franklin mostra as origens e as principais influências do artista. Por fim, Winshaw é o Dylan-poeta. Cada “personagem” tem um nome diferente, que de certa forma resume a personalidade retratada do artista, Billy the Kid (Gere) e Rimbaud (Winshaw) são dois dos “pseudônimos” atribuídos por Haynes. 


Além de utilizar vários atores, Haynes, auxiliado por seu excelente diretor de fotografia, também atribui um visual específico para cada fase do cantor. Temos, por exemplo, o preto-e-branco agressivo da fase “guitarra”, uma fotografia que lembra imagens de arquivo, na fase política, e, na fase que mostra a origem humilde do artista, uma fotografia que ressalta as cores da paisagem rural. Haynes ainda nos premia com várias metáforas visuais, como a cena em que Blanchett “metralha” seu público ou outra em que ela prende um repórter numa gaiola. 


O longa é ainda beneficiado por um trabalho de elenco primoroso. Dos ótimos Dylan’s o maior destaque é, sem dúvida, a versátil e surpreendente Cate Blanchett. O filme ainda conta com participações fantásticas de Charlotte Gainsbourg, Michelle Williams e Julianne Moore. Não estou lá é um exemplo de uma cinebiografia não convencional e, ao mesmo tempo, extremamente fiel. Sem tentar abarcar toda uma vida em poucas horas e sem querer ser didático, o filme consegue nos transportar para o mundo de Bob Dylan, nos fazendo vivenciar suas diversas facetas.




Bob Dylan

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Drive - 2011

Título original: Drive
Lançamento: 2011
País: EUA
Direção: Nicolas Winding Refn
Atores: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Cranston, Albert Brooks.
Duração: 100 min
Gênero: Ação


Drive é o primeiro filme americano do cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn. O diretor de 41 anos, no entanto, não é nenhum estreante. Ele tem 8 longas-metragens no currículo, entre produções dinamarquesas e inglesas. A maioria de seus filmes são elogiados thrillers como Medo X (2003), Bronson (2008) e a trilogia Pusher (1996, 2004 e 2005).  O prêmio de Melhor Diretor em Cannes, recebido este ano por Drive, é o ponto alto de sua carreira. O respeitado prêmio deu visibilidade ao diretor, pouco conhecido até então.

Drive se passa em Los Angeles e conta a história de um habilidoso motorista que acumula trabalhos como dublê de filmes de ação, mecânico e ainda participa de assaltos. O motorista se apaixona por sua vizinha Irene, mulher casada com um presidiário. Enquanto o marido está na cadeia, ela e o filho se aproximam do vizinho, criando uma intensa relação de afeto entre os três. Quando o marido de Irene sai da prisão, o mundo do motorista vira de cabeça para baixo. 

O filme é centrado em um personagem que já nasce com uma aura mítica. O simples fato de o protagonista ser identificado pela sua função e não pelo seu nome, já constrói um mistério em torno de sua identidade. Sem passado e sem nome, Motorista já entra para a lista dos grandes personagens vividos pelo talentosíssimo Ryan Gosling. O ator canadense de 31 anos já nos presenteou com grandes atuações em Half Nelson (2006), Namorados para sempre (2010) e na pérola cinematográfica A garota Ideal (2007). Em Drive, sua atuação nos remete a alguns personagens vividos por Clint Eastwood em seus clássicos faroestes (o palito que Gosling leva na boca, acentua ainda mais essa aura de cowboy errante). Motorista é um homem de poucas palavras, de expressão sempre séria e com um talento impressionante para a violência. Muitas perguntas giram em torno de seu passado: Por que ele se mudou para Los Angeles? De onde veio toda a sua habilidade para a violência? Refn não se preocupa em respondê-las, o que faz com que o personagem soe ainda mais intrigante. 

Drive nos dá a impressão de ser um filme de outra época. A espetacular trilha sonora pop-eletrônica de Cliff Martinez, por exemplo, é a cara dos anos 80. A trama, por sua vez, parece ser inspirada em clássicos de ação como Bullit (1968) e Operação França (1971). Drive é um desses raros filmes que são muito mais do que uma história. Refn cria todo um universo ficcional para sua narrativa e o espectador se vê repentinamente inserido em uma atmosfera ao mesmo tempo estranha e familiar. O filme poderia muito bem ser definido como um conto de fadas moderno ou,  como um faroeste moderno, ou ainda, como um filme noir modernizado. Mas ele também poderia ser chamado de thriller retro, por que não? Essa é a mágica operada por Refn: fazer um filme único e indefinível, a partir de muitas referências e inspirações.

Fato é que Nicolas Winding Refn cria uma obra que já nasce com alma de clássico. Algumas cenas já soam imediatamente antológicas, como toda sequência inicial, a cena do assassinato de um personagem a beira-mar e aquela da perseguição após um assalto que não dá certo. E o que dizer do ótimo final? Devo confessar que minha cena preferida é a do beijo no elevador, um momento de um romantismo dramático que é seguido por um chocante ato de violência. Cena em que os dois extremos da personalidade do Motorista se revelam. Um primor de direção! Refn ainda se mostra genial, ao explorar tanto uma montagem rápida, quanto no uso da câmera lenta para aumentar a tensão.

Ryan Gosling está muito bem acompanhado em Drive. Além da adorável Carey Mulligan, temos os ótimos Bryan Cranston e Ron Perlman em papéis marcantes. Albert Brooks é um dos grandes destaques do filme, na pele de um personagem extremamente ambíguo e perigoso. Já o roteiro de Hossein Amini, baseado no livro James Sallis, merece aplausos por mesclar magistralmente romance e ação. 

Drive é um filme que valeria a pena apenas pela sua viciante trilha sonora. Mas ele ainda conta com uma bela história de amor e com um protagonista que mereceria toda uma série à la James Bond. 




segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Hunger - 2008

Título original: Hunger
Lançamento: 2008
País: Inglaterra
Direção: Steve McQueen
Atores: Larry Cowan, Liam Cunningham, Michael Fassbender, Stuart Graham
Duração: 90 min
Gênero: Drama

Importante cena de Hunger

Ah se todos os primeiros filmes de diretores fossem como Hunger! A estreia de Steve McQueen no cinema (não confundir com seu xará, o famoso ator americano que morreu nos anos 80) é visceral, arrasadora e, ao mesmo tempo, sofisticada e econômica. O longa-metragem é o resultado de um trabalho de direção inspirado, inteligente e que vem arejar a forma de se falar de História e de violência no cinema. Hunger, escrito por McQueen e por Enda Walsh, aborda o tumultuado ano de 1981 na Irlanda do Norte.  O filme focaliza a realidade carcerária de terroristas do grupo IRA, que lutavam para obter do governo inglês o status de presos políticos (que os diferenciariam dos outros criminosos). Para terem este e outros pedidos aceitos, os presos iniciaram uma greve de fome que causou a morte de nove homens. 


Ótimos filmes, como Em nome do Pai (1993) e Domingo Sangrento (2002), já retrataram a violenta guerra pelo poder na Irlanda do Norte, que é alimentada também pela rivalidade entre católicos e protestantes. [Entenda mais sobre a situação da Irlanda na matéria especial da Folha Online.] O diretor inglês, sem se mostrar partidário ou opositor, explora em seu filme a paixão política dos radicais membros do IRA, paixão esta que os move a comportamentos extremos. Steve McQueen atua de forma metonímica, ao se apropriar de um capítulo de uma história sangrenta que, ao mesmo tempo, nos dá toda a dimensão da gravidade de um conflito que é social, político, cultural e religioso.


O filme é metonímico também em sua estrutura e montagem. McQueen abusa dos planos-detalhes e dos closes para focalizar objetos, partes do corpo de seus personagens, marcas e detalhes. A estratégia  do diretor é reveladora de um olhar agudo sobre o ambiente carcerário, sobre o cotidiano dos presos e dos policiais e sobre os pequenos gestos que parecem preencher o vazio da vida na prisão. É interessante observar a forma com a qual o roteiro constrói sua narrativa, de maneira quase episódica, se interessando a personagens que são representativos de um grupo maior. Isso ocorre, por exemplo, com o policial mostrado no início da trama, um homem aparentemente normal, mas cuja rotina é invadida, a contragosto, pela violência e pelo medo. Os dois companheiros de cela focalizados, em um segundo momento, representam o grupo de jovens rebeldes, que obedecem, sem muita visão crítica, a uma liderança que está muito mais interessada na Causa do que em suas vidas. O discurso do poder dominante é representado pela voz-off de Margaret Thatcher, primeira-ministra britânica na época, que é inserida em momentos pontuais no filme.  


Finalmente, o filme chega a Bobby Sands (Michael Fassbender), figura central da história. Ele representa a própria liderança do movimento terrorista. Um homem de uma ideologia inabalável, que manifesta uma auto-entrega absurda à causa pela qual luta. Para ele, a própria vida e a vida dos seus companheiros são instrumentos que devem estar à disposição de algo maior. Por mais que suas atitudes sejam questionáveis, Bobby não deixa de ser admirável pela sua perseverança. Suas motivações são exploradas de maneira brilhante em um diálogo do personagem com o Padre, filmado em um plano sequência de aproximadamente 16 minutos. Brilhantemente escrita e interpretada, a cena atípica no filme, se destaca também por quebrar o silêncio que reina durante a maior parte do longa.


Steve McQueen compreende que o cinema é, sobretudo, imagético e poderia muito bem contar essa história sem a presença de diálogos. Tudo está nas imagens e na forma com que elas se sucedem. Na brilhante sequência de abertura, por exemplo, o diretor constrói toda a natureza de um personagem, mostrando também seu conflito, sem utilizar uma fala sequer. Sóbrio, McQueen foge do supérfluo, do drama fácil e do óbvio, criando uma história chocante, sem ser sensacionalista. As cenas de violência se destacam pelo seu realismo e pela entrega física dos atores. 


E por falar em entrega física, não devemos deixar de mencionar o assombroso Michael Fassbender (o astro do momento em Hollywood). O ator teve que passar por uma dieta extrema, controlada por médicos, para encarnar Bobby Sands. A transformação de Fassbender para o papel é impressionante. O ator germânico (de origem irlandesa) é uma das maiores revelações dos últimos anos e sua performance em Hunger o lançou ao estrelato. Depois deste filme, ele fez os grandes sucessos Bastardos Inglórios (2009) e X-Man: primeira classe (2011). O ator (premiado em Veneza este ano) repetirá a parceria com Steve McQueen no aguardado filme "Shame", que deve estrear ainda em 2011.


Hunger conta também com a belíssima fotografia de Sean Bobbitt. Mesmo se aproximando bastante do olhar objetivo de um documentário, o filme encontra espaço para cenas de puro lirismo, como aquela em que a imagem de Bobby se funde com a imagens de pássaros voando, já no final do longa. O filme de Steve McQueen parece indicar que uma bela carreira está começando. Seu segundo filme, Shame, já vem recebendo ótimas críticas. Estou ansioso!


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Alfred Kinsey e sua cinebiografia

Título original: Kinsey
Lançamento: 2004
País: EUA
Direção: Bill Condon
Atores: Liam Neeson, Laura Linney, Chris O'Donnell, Peter Sarsgaard.
Duração: 118 min
Gênero: Drama

Liam Neeson como Alfred Kinsey 

Alfred Kinsey era um biólogo americano, professor de entomologia e zoologia na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Em 1947, ele fundou o Instituto para Pesquisa em Sexo, Gênero e Reprodução. É de sua autoria os famosos Kinsey Reports, dois livros sobre os comportamentos sexuais dos homens e das mulheres. Ele também criou a Escala Kinsey, uma tentativa de descrever a vida sexual de uma pessoa. A escala ia de 0 (exclusivamente heterossexual) a 6 (exclusivamente homossexual), além de um nível adicional “X”, para os assexuados. Os trabalhos de Kinsey eram extremamente controversos, mas foram fundamentais para o desenvolvimento do estudo da sexologia. Kinsey casou-se com Clara Bracken McMillen, em 1921, e teve quatro filhos com ela.

Os métodos de pesquisa de Kinsey nem sempre se limitavam a entrevistas e provaram não ser nada convencionais. Muitos afirmam que ele costumava participar de diversos atos sexuais para alimentar sua pesquisa. Dizem também que ele filmava relações sexuais e incentivava sua equipe a se envolver sexualmente com seus entrevistados, para ganhar a confiança dos mesmos. Denúncias afirmam que Kinsey adulterou diversas informações em sua pesquisa, além de ter tido diversas atitudes antiéticas. Nada pôde, no entanto, ser provado oficialmente. Ele morreu em 1956, aos 62 anos, devido a uma pneumonia.

O filme Kinsey – Vamos falar de sexo é escrito e dirigido por Bill Condon, que tem no currículo o ótimo Deuses e Monstros (1998) e o fraco Dreamgirls (2006). Ele também será o responsável pelos dois últimos filmes da saga teen Crepúsculo. Condon aborda o tema da sexualidade de uma maneira madura e natural, sem receios de tocar em temas tabus, como a homossexualidade. Assim, seu roteiro e direção são um espelho da própria atitude do protagonista diante do sexo. 

Kinsey é interpretado pelo sempre interessante Liam Neeson. O ator constrói um personagem intrigante: um cientista extremamente racional, objetivo, metódico e que vive para suas pesquisas. Apesar de lidar com a sexualidade humana, o personagem, muitas vezes, se vê incapaz de lidar com as pessoas à sua volta e com as emoções das mesmas. Outro grande destaque do elenco é a maravilhosa atriz Laura Linney, que interpreta a mulher do protagonista. Em uma atuação sensível, contida e emocionante, Linney faz de sua personagem uma parceira incondicional do marido, uma mulher com certa melancolia no olhar. A indicação ao Oscar foi mais do que merecida. 

Kinsey – Vamos falar de sexo é uma cinebiografia eficiente e muito interessante. O maior mérito fime é a forma franca e direta com a qual ele aborda a sexualidade humana, fazendo jus, portanto, ao biólogo que o inspirou.




O verdadeiro Alfred Kinsey




segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Histórias Cruzadas (2011)

Título original: The Help
Lançamento: 2011 
País: EUA
Direção: Tate Taylor
Atores: Emma Stone, Viola Davis, Bryce Dallas Howard, Octavia Spencer.
Duração: 137 min
Gênero: Drama

Octavia Spencer e Viola Davis: destaques de Vidas Cruzadas

Histórias Cruzadas foi produzido com um orçamento de "apenas" 25 milhões de dólares. Desde o seu lançamento nos cinema americanos, no dia 14 de agosto, até hoje, o filme arrecadou mais de 173 milhões de dólares. Líder de bilheteria por várias semanas consecutivas nos Estados Unidos, o segundo longa-metragem de Tate Taylor já pode ser considerado como um dos maiores sucessos hollywoodianos do ano. A popularidade do filme vem fazendo com que ele seja apontado por muitos como um dos favoritos ao próximo Oscar.

O filme é escrito e dirigido por um ilustre desconhecido. Tate Taylor é um jovem galã, que coleciona vários trabalhos como ator, sendo o último deles no excelente Inverno da Alma (2010). Taylor já trabalhou como produtor, roteirista e, antes de Vidas Cruzadas, havia dirigido apenas um longa-metragem, a comédia pouco conhecida Pretty Ugly People (2008). Esta havia feito pouco mais de 6 mil dólares de bilheteria nos Estados Unidos. (Que evolução, Sr. Taylor!)

Histórias Cruzadas é a adaptação de um best-seller de Kathryn Stockett, chamado The Help. O romance é o livro de estreia da escritora e chegou a ser recusado por 60 editores antes de finalmente ser publicado em 2009. O nome do filme em inglês, o mesmo do romance, foi pessimamente traduzido para o português por um título que mais parece nome de novela. Ironicamente, o longa acaba fazendo jus ao título brasileiro. O filme conta a história de uma aspirante a escritora e jornalista, Eugenia "Skeeter" Phelan (Emma Stone), que, em meados dos anos 60, decide colher e publicar diversos depoimentos de empregadas negras da sua cidade natal, Jackson, capital do Mississipi. Ambientado no sudeste dos Estados Unidos, região onde a discriminação racial era uma realidade ainda mais evidente, o filme retrata o período em que a luta pelos direitos civis (cujo grande ícone é Martin Luther King) começou a ganhar força.

Consciente do forte potencial dramático e do apelo emocional da história, Taylor não se contém e usa e abusa de clichês e do melodrama para tentar fazer o espectador chorar. O que  definitivamente é desnecessário! A trajetória das mulheres negras que continuam sendo tratadas como escravas por suas hipócritas senhoras brancas, é, por si só, tocante. O tratamento que Taylor dá à história acaba esbarrando aqui e ali na pieguice e derrapa de vez na parte final do filme. Seu roteiro é falho também por não construir uma história coesa. A princípio, o espectador é induzido a crer que Aibileen (Viola Davis) é a personagem central do filme, mas logo vemos uma acumulação de tramas e personagens com as quais o roteiro não sabe lidar. 

O mau agenciamento das diferentes tramas e subtramas do filme acaba fazendo com que ele soe mais longo do que o necessário, com suas 2h20. Taylor demonstra também inexperiência no uso do flashback (que ele parece adotar sem muito critério), o que torna a estrutura do filme um pouco irregular. O diretor aparentemente se divide entre criar uma narrativa episódica ou uma trama linear e acaba não fazendo nenhuma coisa, nem outra. Além disso, a inclusão de um interesse amoroso para Skeeter (Emma Stone) revela-se completamente supérflua. O romance não convence e não precisaria constar no filme, mesmo que constasse na obra original.

Dito isso, é difícil não se deixar envolver pelo filme ou não se emocionar, pelo menos uma vez, durante a projeção de Histórias Cruzadas. Mesmo com claros problemas em sua narrativa, o filme torna-se adorável pela qualidade excepcional de seu elenco. Se Tate Taylor demonstra inexperiência em certos aspectos, ele se revela um ótimo diretor de atores. O filme é dominado por grandes atuações femininas. Viola Davis, que já havia arrasado com a penas uma cena em Dúvida, comprova seu imenso talento ao fazer de Aibileen uma personagem que carrega a dor no olhar e que parece chorar mesmo quando não está. Algumas cenas da atriz, como a sequência final, seriam suficientes para uma indicação ao Oscar. Octávia Spencer dá um show em cada cena que aparece, assumindo o papel mais cômico do longa. A jovem Emma Stone esbanja carisma e Bryce Dallas Howard está irreconhecível como a vilã do filme, em uma atuação impressionante. Jessica Chastain que já havia feito um ótimo trabalho em A árvore da vida (2011) prova sua versatilidade e é, sem dúvida, uma das maiores revelações de 2011. Já a veterana Allison Janney, vem se especializando em papéis de mãe e brilha em suas cenas. O filme ainda se dá ao luxo de usar a participação especial da maravilhosa Sissy Spacek.

Histórias Cruzadas
é uma comédia (melo)dramática que não deixa de ser adorável, mesmo com seus tropeços. Isso se deve aos personagens humanos e encantadores que povoam sua narrativa. Destacando-se ainda pela caprichada direção de arte e figurino, o filme é uma coleção de grandes performances, embalada por uma história emocionante.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Johnny Cash e sua cinebiografia

Título original: Walk the Line
Lançamento: 2005
País: EUA
Direção: James Mangold
Atores: Joaquin Phoenix, Reese Whiterspoon, Ginnifer Goodwin, Robert Patrick.
Duração: 136 min
Gênero: Drama

 
Johnny Cash é considerado um dos músicos norte-americanos mais importantes do século XX. O cantor e compositor nasceu em 1932, em Arkansas, Estados Unidos. Apesar de ser considerado, sobretudo, uma estrela country, sua música “flertava” com outros gêneros como o rock and roll, blues, folk e o gospel. A voz grave, as roupas escuras e a rebeldia eram marcas registradas do cantor. A dependência química foi um capítulo extenso em sua vida. Ele chegou a afirmar que havia experimentado todos os tipos de drogas que existiam. Entre seus principais sucessos, estão: "Folsom Prison Blues","I Walk the Line", "Ring of Fire", Man in Black” e "Get Rhythm". Cash morreu em 2003 em decorrência de uma doença neurodegenerativa, diabetes e pneumonia. 

June Carter nasceu em 1929. A cantora e compositora country conheceu Cash em uma de suas turnês em meados dos anos 50. Os dois excursionaram e fizeram muitos shows juntos. Um dos frutos da parceria é a canção "Jackson". June foi casada três vezes, a última com Cash, com quem viveu durante 35 anos. Cash a pediu em casamento, em 1968, durante uma apresentação dos dois. Seus álbuns Wildwood Flower e Press on foram premiados com Grammys. Ela morreu aos 73 anos, quatro meses depois de Cash, em decorrência de complicações durante uma cirurgia cardíaca. 

Johnny & June, de James Mangold, relata a história de amor de Johnny Cash e June Carter. O roteiro, escrito pelo próprio Mangold e por Gill Dennis acerta ao focalizar um período específico da vida dos cantores: de 1952 a 1968. Assim, o filme mostra o primeiro casamento de Cash, os primeiros anos dele como cantor, o sucesso, o encontro com June, a luta contra as drogas e as tentativas de conquistar a cantora. É interessante observar que o filme se torna mais interessante quando focaliza o casal e se torna burocrático quando tenta explicitar outros momentos da vida do cantor, como a passagem pelo exército. Se o filme acerta no tratamento do romance de Johnny e June, ele é falho ao reconstituir a relação de Cash com seu pai e com sua primeira esposa, dois personagens que são boicotados pelo roteiro. O ódio que o pai de Cash sente pelo filho, por exemplo, é algo jamais bem explorado ou explicado pela trama. 

O filme se destaca, sobretudo, pela a atuação de seus dois protagonistas. Joaquin Phoenix e Reese Whiterspoon têm umas das melhores atuações de suas carreiras e a sintonia dos dois em cena é perfeita. Phoenix incorpora a voz grave do cantor e tem uma performance que está longe de se basear na pura imitação. Ele constrói um personagem perturbado, instável, mas extremamente romântico, vigoroso e encantador. Já Whiterspoon empresta seu carisma a June, criando uma personagem doce, ética, bem-humorada e talentosa. Do sotaque ao canto, sua atuação é extremamente correta (apesar de não ter merecido o Oscar de Melhor Atriz que levou naquele ano).

Johnny & June ainda é embalado por belas canções country, incluindo alguns ótimos números musicais. Apesar de ser uma cinebiografia extremamente convencional e, por vezes, esquemática, o longa conta uma linda história de amor e é uma grande oportunidade para se conhecer melhor o talentosíssimo Johnny Cash e a encantadora June Carter.  



O casal na vida real


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Labirinto do Fauno (2006) e a Cena do Dia

Título original: El Laberinto del Fauno 
Lançamento: 2006 
País: México, Espanha, EUA
Direção: Guillermo del Toro
Atores: Ivana Baquero, Doug Jones, Sergi López, Ariadna Gil, Maribel Verdú
Duração: 112 min
Gênero: Ficção


Guillermo Del Toro é um diretor, produtor e roteirista mexicano, de 47 anos, que tem no currículo sete longas-metragens, entre eles, Hellboy (2004), Hellboy II (2008) e Blade II - O caça-vampiros (2002). Seu filme mais famoso e mais aclamado pela crítica é O Labirinto do Fauno. Este longa de 2006 é o homenageado da semana no Clube do Filme. A seguir faremos uma análise, que abordará alguns elementos da obra (não  aconselhável para quem ainda não teve o prazer de assisti-la). 

O Labirinto do Fauno é construído a partir de dois fios narrativos. O primeiro é um conto de fadas, a história de uma jovem princesa do mundo subterrâneo que se encontra perdida no mundo dos mortais. Já o segundo retrata um período importante da História (com "h" maiúsculo) da Espanha, mais especificamente, a resistência dos rebeldes no início do regime fascista de Franco. As duas histórias produzem dois universos ficcionais bem distintos. O que é permitido em uma, não o é na outra. Enquanto uma é o espaço da fantasia e da magia, a outra é uma crônica realista de um passado histórico não muito distante. O brilhantismo de Guilherme del Toro consiste justamente em lidar de uma maneira orgânica e fluida com a fantasia e a História.

Talvez seja temerário utilizar as palavras "real" e "ficção" para distinguir as duas intrigas que se desenvolvem no filme. Uma é tão real ou "absurda" quanto a outra. E mais: o que ocorre em uma tem consequências concretas na outra. Esse diálogo constante entre as tramas pode ser exemplificado através de vários elementos do longa, como a mandrágora que o Fauno (figura mágica) oferece para diminuir o sofrimento da mãe de Ofélia (mortal); ou o giz (objeto mágico) também dado pelo Fauno e que é utilizado por Ofélia para fugir do cárcere imposto pelo Capitão Vidal (mortal) em determinado momento do filme; para não mencionar o final, o momento máximo de encontro entre as histórias. Portanto, afirmar categoricamente que o conto de fadas só existe na cabeça de Ofélia é ignorar a própria estrutura do filme. O mundo do conto de fadas nos é apresentado como sendo verdadeiro, mas acessível somente por Ofélia e as fadas (criaturas da natureza). O próprio fato de a protagonista ser uma princesa imortal que se afastou das raízes, se "naturalizando" humana, faz com que ela seja a única personagem capaz de transitar perfeitamente entre as duas realidades. 

O filme, no entanto, nos dá pistas que permitem uma análise mais "psicológica". Ofélia encontra-se em uma idade de transição da infância para a adolescência, em que parte de seu mundo infantil deve ser deixado para trás. Toda transição implica, de certa forma, uma morte simbólica. Ofélia não quer deixar de ser criança, o universo adulto revela-se extremamente hostil para ela. Além disso, ela deve enfrentar o casamento da mãe com um outro homem, com todas as mudanças que essa situação impõe. Em determinada cena do filme, a menina faz o que toda criança faria: chora e diz para mãe que quer ir embora. O mundo do conto de fadas é utilizado, portanto, como refúgio do mundo real e prolongamento da infância. Não devemos também nos esquecer que Ofélia tem um pouco de Don Quixote, afinal ela também foi "contaminada" pela leitura. De tanto ler, ela pode muito bem ter recriado outro mundo, que, portanto, não deixa de ser real para ela. Não é difícil encontrar também semelhanças entre Ofélia e a protagonista de Alice no País das Maravilhas, personagem apaixonada por contos e que também se aventura em outro mundo (a cena da árvore em O Labirinto... parece ser uma referência explícita à obra de Lewis Carroll). 

O mundo de fantasia também é uma clara resposta de Ofélia ao horror da guerra. Mesmo sendo muito jovem, ela tem plena noção da violência a sua volta. A bela história que ela conta para o irmão, ainda na barriga da mãe, é a prova de que ela compreende, mesmo que intuitivamente, a realidade do seu país. A fábula da rosa cercada de espinhos, parece representar a liberdade subtraída pelo governo fascista. E, nesse sentido, O Labirinto do Fauno não deixa de ser também um filme político, já que denuncia uma forma de governo baseada no puro autoritarismo. Uma das cenas mais belas do filme é justamente aquela em que o médico, que auxiliava os rebeldes, enfrenta o Capitão Vidal e diz: "Obedecer por obedecer, sem questionar, é algo que só pessoas como você fazem, Capitão".

O universo fantástico de Ofélia, no entanto, não é isento de violência, talvez como um reflexo de seu mundo mortal (observe a semelhança entre a mesa do banquete do terrível Homem Pálido e a do jantar do sádico Capitão Vidal). Esse fenômeno não é nenhum absurdo, já que a maioria  dos contos de fadas são recheados de terríveis atos de violência, como o lobo que come a vovozinha; a bruxa que envenena a enteada; a velha malvada que aprisiona uma bela jovem na torre, entre outros. O grotesco, o assustador e a morte também estão presentes no conto de fadas de Ofélia. O que dizer do Fauno? Uma criatura que se revela extremamente ambígua, já que é difícil constatar suas reais intenções. Uma das diferenças mais marcantes entre o conto de fadas e a vida real, e que é explorada pelo filme de forma brilhante, é que a primeira tem quase sempre um final feliz.

O Labirinto do Fauno, além de ser uma obra que suscita diversas discussões e análises, é um filme extremamente bem realizado. Não é por acaso que esta produção mexicana levou 3 Oscar's em categorias técnicas. As premiadas fotografia (Guillermo Navarro), direção de arte (Eugenio Caballero e Pilar Revuelta) e maquiagem (David Martí e Montse Ribé) são fundamentais para o construção desta obra esteticamente espetacular. O trabalho de efeitos visuais e a trilha sonora (Javier Navarrete) são igualmente impressionantes. Del Toro, por sua vez, comprova seu talento como diretor e roteirista, neste que, ao lado de Espinha do Diabo (2001), é o seu melhor filme. 

O elenco de O Labirinto do Fauno é  primoroso, a começar pela jovem e talentosa Ivana Baquero que consegue arrancar muitas lágrimas dos espectadores com sua atuação sensível e emocionante (que olhar!). Já Sergi López é o próprio diabo na pele do Capitão Vidal. Ele consegue construir um personagem sádico, monstruoso, mas que também se revela incrivelmente inteligente e trágico. Outro destaque é para ótima Maribel Verdú, forte e heróica na pele de Mercedes. Elogios também devem ser feitos a Doug Jones que interpreta tanto o Fauno, quanto o asqueroso "homem pálido". 

Por fim, O Labirinto do Fauno nos oferece dois finais: um triste e outro feliz. Esse duplo final de certa forma vai de encontro à lógica do filme, que conta duas histórias. Cabe ao espectador escolher a qual dos dois ele quer se apegar. A meu ver, o fim do filme ainda permite que façamos uma analogia (ainda que rasa) com a Bíblia: Ofélia assim como Jesus Cristo, morre pelos pecados dos outros e ressuscita para uma vida eterna. A sequência final do filme é a nossa Cena do Dia.





sábado, 8 de outubro de 2011

Truman Capote e sua cinebiografia

Título original: Capote
Lançamento: 2005
País: EUA
Direção: Bennett Miller
Atores: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins Jr., Chris Cooper.
Duração: 98 min
Gênero: Drama

Truman Capote: o original
 
Truman Capote foi um famoso e influente escritor norte-americano. Sua obra é constituída por contos, novelas, roteiros para o cinema, peças de teatro e um romance de não-ficção, considerado seu melhor trabalho. Tal romance, A Sangue Frio (1966), foi responsável pelo surgimento de uma nova forma de se fazer jornalismo e literatura. O jornalismo literário, do qual Capote é pioneiro, consiste em se usar técnicas próprias da literatura ao se fazer uma matéria jornalística sobre um acontecimento real. A obra-prima de Capote relata o brutal assassinato da família Clutter no interior do estado do Kansas, nos Estados Unidos. Através de entrevistas e informações coletadas, o autor aborda o caso desde a concepção do crime até o enforcamento dos assassinos, Richard Hickock e Perry Smith. Capote veio a iniciar um relacionamento amoroso com o último. 

A escritora Harper Lee, era uma de suas melhores amigas e o ajudou nas pesquisas para o romance. Capote nasceu em 1924 e começou a escrever aos 11 anos. Além de A Sangue Frio, ele também foi o autor da novela Bonequinha de luxo (1958), adaptada para o cinema em 1961, com Audrey Hepburn no papel principal. Depois de seu romance de não-ficção, o autor nunca mais conseguiu se superar. Ele continuou, no entanto, uma figura famosa nos Estados Unidos, com aparição constante em programas de televisão. Capote morreu em 1984, aos 59 anos, em conseqüência de um câncer no fígado. Ele era dependente de drogas e  de bebidas alcoólicas.

Dirigido por Bennett Miller (seu segundo trabalho), Capote focaliza os anos de produção de A sangue Frio. O ótimo roteiro de Dan Futterman, não se preocupa, no entanto, com o assassinato em si, mas com a construção do relacionamento de Truman Capote e do condenado Perry Smith, assim como o processo de escrita do romance. A identificação e simpatia que o escritor nutre pelo assassino fazem com que ele se envolva imensamente com a história que vai relatar. Assim, nasce uma relação que se torna cada vez mais íntima e complexa. 

O fantástico Philip Seymour Hoffman dá vida ao egocêntrico, auto-confiante e excêntrico Truman Capote. O trabalho de composição do ator é fenomenal, a começar pelo tom de voz e pela dicção. Mas Hoffman não faz um simples trabalho de imitação. Ele cria um personagem muito mais interessante e complexo de que poderíamos imaginar à primeira vista. Ele mostra em cada cena a inteligência e o talento de Capote, mas também seu poder de manipulação e o seu calculismo. Outro destaque do elenco é Clifton Collins Jr., que interpreta Perry Smith, um homem imprevisível que carrega frustrações e mágoas e que, ao mesmo tempo, nos parece patético e comovente. 

Bennet Miller, auxiliado por seu diretor de fotografia, faz um trabalho excelente ao adotar um tom triste e frio em sua narrativa. Apesar de omitir o relacionamento sexual de Capote e Smith, o diretor acerta ao mostrar o relacionamento íntimo e a cumplicidade que nasceu entre os dois. O longa de Miller é um belíssimo estudo de personagem, psicologicamente denso e envolvente. 


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A mulher do tenente francês (1981) e a Cena do Dia


Karel Reisz (1926-2002) nasceu na Tchecoslováquia, mas foi na Inglaterra que ele construiu sua vida e carreira. O diretor teve seu auge na década de 60, quando foi considerado um dos mais importantes cineastas britânicos. Muitos de seus filmes contêm forte apelo social e tom reivindicativo. Suas obras mais conhecidas são Tudo começou no sábado (1960), Deliciosas loucuras de amor (1966) e Isadora (1968), os dois últimos estrelados pela atriz Vanessa Redgrave. Em 1981, ele dirigiu a adaptação do excelente romance de John Fowles, A mulher do tenente francês. O filme completa, portanto, 30 anos e é o homenageado da semana no Clube do Filme

O romance conta a história de Sarah, uma mulher que vive na pequena cidade de Lyme, no sudoeste da Inglaterra, e que é vista como uma figura peculiar na cidade. Chamada de "Tragédia", a moça  teve um caso com um tenente francês casado e depois fora abandonada por ele. Desde então, ela tem que lidar com sua melancolia e com o preconceito da população. Charles, um arqueólogo oriundo da aristocracia, recente na cidade e noivo de Ernestine, a filha de um rico burguês, começa a se interessar por Sarah. 

A mulher do tenente francês veio logo após Meryl Streep ganhar seu primeiro Oscar (de coadjuvante, pelo filme Kramer VS. Kramer) e foi responsável por sua segunda indicação ao prêmio de Melhor Atriz. Estrelado também por Jeremy Irons, o filme nos apresenta dois fios narrativos. O primeiro corresponde a história de Sarah, que se passa no século XVI, já o segundo nos mostra o processo de filmagem dessa história, já no mundo contemporâneo. Em suma, trata-se de um filme dentro de um filme. O ótimo roteiro de Harold Pinter (também renomado dramaturgo) decide, portanto sobrepor duas tramas separadas pelo tempo, mas intimamente ligadas uma a outra. Ao contrário do que ocorre em Amnésia (2000), a fotografia e a montagem não interferem para construir uma diferenciação estética entre as duas tramas. Reisz opta, sobretudo, pela fluidez, podemos até mesmo afirmar que existe uma contiguidade lógica na constante transição entre tramas. 

A mulher do tenente francês narra não só um, mas vários casos de amor, através de quatro casais diferentes. Temos Sarah e o tenente francês; Charles e Ernestine; Sarah e Charles e Anna e Mike (os atores que interpretam Sarah e Charles). Assim, vemos um interessante fenômeno especular, já que a história do primeiro casal acaba se refletindo na história dos outros casais. Sarah é uma personagem enigmática e de comportamento estranho, que incorpora em si o apelido que os moradores da cidade lhe dão: "tragédia". Ela é interpretada brilhantemente por Meryl Streep, que também interpreta, obviamente, Anna.

O filme também se destaca pela forma com a qual trata o estereótipo das histórias de amor. Reisz adota um supra-romantismo ao lidar com a trama “fictícia”  do longa (a história de Sarah e Charles). Assim, o filme pode parecer piegas e exagerado em algumas cenas, justamente pelo fato de Reisz brincar com as convenções de um estilo. O uso do estereótipo romântico pode ser visto, por exemplo, na cena em que Charles pede Ernestina em casamento. 

Ilustraremos a análise do filme com uma sequência que parece expor bem a dinâmica da obra e que é a nossa Cena do Dia (ou melhor, “cenas do dia”). Ela começa com Charles observando Sarah, no meio da mata. Ele a observa com uma curiosidade quase científica e começa a segui-la. Eles estão em uma mata, em um ambiente bucólico e onírico. Finalmente ele a encontra deitada à beira de uma árvore, em uma posição que muito lembra a estética do romantismo e a pintura pré-rafaelita (a influência da pintura é notável no filme). Novamente, a personagem encontra-se inicialmente com o rosto virado para o mar, algo que se repete por diversas vezes durante o longa e que provavelmente indica sua espera pelo retorno do amado, mais um motivo tipicamente romântico. Charles interrompe esse momento íntimo e, embaraçado, recua.

Logo depois, segue-se uma breve trama paralela envolvendo os criados, que funciona como um retardamento da intriga principal, elevando, portanto, o suspense. O retorno à intriga de Sarah se dá com passagem de Charles por um curral e pelo depoimento ácido do camponês sobre a moralidade da protagonista, ele a chama de prostituta. Novamente a intriga dos criados interrompe a investigação de Charles, retardando a conclusão da sequência principal. Dessa vez, no entanto, um elemento é adicionado, Ernestine, que serve para enfatizar o fato de que um triângulo amoroso está sendo estabelecido. 

Segue-se mais um encontro de Charles e Sarah. É a primeira vez que eles se falam. Ela aparece novamente arredia. Ela se afasta, olha para trás e sobe ligeiramente o vestido, mostrando sua anágua. Corte simples, vemo-nos já diante de outra trama. Trata-se do ensaio dos atores. O elemento de união desta cena com a precedente parece ser o vestido, já que Anna está segurando um vestido da mesma cor da anágua de Sarah. Anna não entra de vez na personagem, ela só consegue concentrar-se na repetição da cena, quando sua fisionomia se transforma completamente. A queda de Anna no ensaio é terminada por Sarah já na outra trama, em uma perfeita transição entre as duas histórias.  

Através dessa sequência, podemos observar o interessante trabalho de montagem do longa, cuja estrutura, extremamente bem elaborada, acrescenta ainda mais lirismo e poeticidade à história (ou histórias) que narra.


Clique aqui e assista à sequência




Clube do Filme no Portal Uai

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Amnésia (2000)

Título original: Memento
Lançamento: 2001 
País: EUA
Direção: Christopher Nolan
Atores: Guy Pearce, Carrie-Anne Moss, Joe Pantoliano, Mark Boone Junior.
Duração: 120 min
Gênero: Drama


Amnésia é o segundo longa-metragem de Christopher Nolan, jovem diretor inglês de 41 anos, que vem se firmando como um dos mais interessantes cineastas contemporâneos. Responsável pelos sucessos Batman Begins (2005)Batman - O cavaleiro das trevas (2008) e o recente A Origem (2010), Nolan já se tornou um ídolo aclamado por muitos cinéfilos (apesar de ter também alguns detratores). Amnésia foi o filme que impulsionou a carreira do diretor. Filmado em 25 dias, o longa é baseado em um conto de Jonathan Nolan, irmão mais novo do cineasta, que também atua como roteirista no filme, ao lado de Christopher (ambos foram indicados ao Oscar por esta parceria). Jonathan é o roteirista encarregado dos dois próximos projetos do irmão. 

Amnésia conta a história de Leonard Shelby, um investigador de seguros, que após bater a cabeça, se vê incapaz de criar novas lembranças, sofrendo de perda de memória imediata. O ferimento de Leonard foi causado por um criminoso que invadira sua casa e violentara sua esposa. Alimentado pelo desejo de vingança, Leonard decide caçar o bandido que escapara naquela noite trágica. Para isso, ele cria um método baseado em fotografias, anotações e tatuagens, que o auxiliarão a se lembrar de todas as informações necessárias para chegar até o criminoso. Paralelamente à busca de Leonard, acompanhamos a narração do protagonista de outra história que muito se assemelha à sua; de um homem chamado Sammy Jankis, que sofria também de perda de memória. Leonard conheceu a história de Jankis, durante uma de suas investigações. 

O filme é construído através de uma estrutura engenhosa e complexa. Dois fios narrativos são instituídos, através de duas tramas paralelas. A primeira segue uma ordem cronológica convencional, sendo contada do início para o fim. Esta corresponde à parte filmada em preto-e-branco, em que o caso Sammy Jankis é narrado por Leonard. A outra trama, a principal, já a cores, mostra a busca incessante de Leonard pela identidade de seu algoz. A estrutura desta parte reflete o fenômeno que ocorre na cabeça do protagonista, já que cada sequência é desprovida de um passado. Contada do final para o início, esta trama é constituída de cenas que terminam onde a antecessora se iniciou. Em determinado momento do filme, os dois fios narrativos se cruzam. 

A arquitetura do filme exige certo esforço de reconstituição por parte do espectador, que deve deixar de lado sua cômoda passividade de receptor e participar ativamente na construção do quebra-cabeça proposto pelo longa. Apesar da estranheza inicial, o espectador atento consegue rapidamente embarcar no ritmo da história. O thriller, nesse sentido, se distingue de experiências mais as ousadas e menos acessíveis, como alguns filmes de David Lynch, por exemplo, já que Christopher Nolan dá todas as ferramentas para que o enigma seja resolvido ao final. Lynch é o cineasta do sonho, já o diretor de Amnésia se mostra extremamente racional na fabricação de seus filmes. Ao brincar com as possibilidades da narração, Nolan faz com que uma história relativamente simples se transforme em um fenomenal exercício cinematográfico. 

O sucesso do projeto, no entanto, não seria possível sem o trabalho exemplar de montagem do filme, responsabilidade de Dody Dorn (indicado ao Oscar). O veterano montador faz, provavelmente, seu melhor trabalho no cinema. A ótima fotografia de Wally Pfister (parceiro habitual de Nolan) desempenha também um papel fundamental no longa. Outro que merece elogios é o subestimado ator Guy Pearce que tem um desempenho formidável, ao encarnar um personagem extremamente desafiador. Pearce impressiona tanto no aspecto físico, nas cenas de ação, quanto nas sutilezas de sua interpretação, tornando seu personagem trágico e verossímil. Carrie-Anne Moss (conhecida pela série Matrix) e Joe Pantoliano também são duas forças do elenco, com atuações marcantes.

O final (início) de Amnésia é magistral e surpreendente. Quando repensamos o filme, nos damos conta de alguns indícios que o longa nos apresentou. SPOILER: O mais significativo deles é a breve cena que mostra Sammy Jankis sentado no hospital psiquiátrico e que, após a passagem de um personagem na frente da câmera, é substituído por Leonard. 

Amnésia é um thriller que explora ao máximo a capacidade do cinema de se reinventar e de brincar com seus próprios recursos. Inteligente e instigante, o filme merece ser visto mais de uma vez.