Francesa, pai argelino, grandes olhos azuis e um belo corpo (sempre à mostra). Também esquerdista, não depila as axilas, fala muito, foi violentada quando criança e se descreve como uma "puta política". Ela se chama Bahia Benmahmoud e todo mundo pergunta se o seu primeiro nome é brasileiro. A personagem principal de Os nomes do amor é, por si só, uma obra-prima irresistível.
Devo confessar que, quando a sessão de Os nomes do amor terminou, me deu uma vontade louca de sair indicando-o para mais e mais pessoas, talvez por ter me ressentido do fato de que tantos filmes medíocres são vistos por milhões, enquanto este delicioso filme está fadado a ser visto por poucos, pelo menos em território brasileiro. Talvez o espírito subversivo e questionador da protagonista tenha surtido algum efeito em mim. Fato é que a comédia romântica de Michel Leclerc é um dos meus filmes favoritos do ano.
Os nomes do amor (tradução piegas para o que deveria ser Os nomes das pessoas) conta a história de um homem de origem judia, Arthur Marthin, e uma jovem mulher de origem mulçumana, Bahia Benmahmoud, que se encontram e passam a ter uma história de amor inusitada. Bahia leva ao pé da letra o ditado "faça amor, não faça guerra". Ela leva para cama homens cujo ideal político se diferencie do seu para tentar mudar a mentalidade dos mesmos. E o mais interessante é que normalmente ela consegue. Arthur Marthin é um biólogo que estuda a morte de aves e que não é, particularmente, politizado. Ele vive uma vida aparentemente sem graça, até encontrar Bahia.
Não é por acaso que o filme é intitulado, em francês, de Os nomes das pessoas já que os nomes são extremamente simbólicos na trama. Nomes são uma forma de identidade e cada um carrega em si uma história e pode, até mesmo, ser um elemento que gere discriminação. Assim, os nomes dos protagonistas nos dizem muito sobre eles. Arthur Martin, nome muito comum na França, indica um sujeito comum, que tem uma vida também comum. Ele, no entanto, poderia ter outro nome, um nome judeu que lhe foi negado no momento do registro, uma tentativa de esquecimento. Seus avós maternos foram mortos no campo de concentração. Bahia, ao contrário, teve sua origem marcada em seu nome e se tornou uma ativista em prol dos direitos não só dos mulçumanos, mas de todas as minorias discriminadas. Bahia é uma rebelde com muitas causas.
Os nomes do amor tem como uma das maiores qualidades o fato de lidar, de forma bem humorada e com um olhar crítico, com temas espinhosos para os franceses, como o racismo. Os direitos dos estrangeiros residentes no país, a xenofobia latente e o preconceito são questões bastante delicadas no país. Paris, por exemplo, onde se passa a história do filme, abriga pessoas de todos os lugares do mundo. O filme toca em um assunto que é, portanto, bastante pertinente e atual no país, ainda mais se levarmos em conta polêmicas recentes como a proibição do véu total (que cobre todo o corpo) para mulheres mulçumanas. O filme também não se exime de falar da Guerra da Argélia e da Segunda Guerra Mundial e de suas consequências para as gerações que se seguiram, os filhos daqueles que foram exterminados. O filme se permite ainda falar da política mais atual (uma das melhores cenas do filme envolve a eleição do atual presidente Nicolas Sarkozy).
Os nomes do amor é uma comédia que consegue ser hilária ao tratar de assuntos muitos sérios (ora, a protagonista, por exemplo, foi violentada quando criança por seu professor de piano). Leclerc acerta ao apostar em alguns recursos que encontramos em filmes de Woody Allen, principalmente se pensarmos em Noivo neurótico, noiva nervosa (1977), como a introdução do sujeito adulto no flashback da infância, os depoimentos para a câmera, a introdução de uma figura real na história fictícia (no caso, o político Lionel Jospin) e outros. Leclerc, que também é um dos roteiristas, investe em um humor rápido, por vezes ácido e sem algum pudor.
O filme também é bem-sucedido ao construir uma bela história de amor. Mesmo recorrendo aqui e ali a clichês romanescos, como os opostos que se atraem e os famosos mal-entendidos, o filme conseguirá agradar e emocionar os corações sedentos de romantismo. O sucesso do filme, neste aspecto, se deve muito aos dois atores principais: Jacques Gamblin e Sara Forestier.
Sara Forestier, jovem atriz de 24 anos, tem uma performance absolutamente fenomenal na pele de Bahia. Ela encarna a personagem com um desprendimento e uma falta de pudor maravilhosos e a naturalidade com que ela fala os maiores absurdos é cativante. O filme é dela do início ao fim e ela faz com que nos apaixonemos por sua desavergonhada personagem. A atriz levou merecidamente o prêmio Cézar (Oscar Francês) de melhor atriz este ano. Jacques Gamblin também faz um ótimo trabalho, principalmente por conseguir expressar tão bem o encantamento do seu personagem por Bahia. O filme conta ainda com os ótimos trabalhos de Michèle Moretti, Jacques Boudet, Carole Franck e Zinedine Soualem.
Os nomes do amor emociona, nos faz rir e ainda dar grandes suspiros. A inteligência e sensibilidade de seu roteiro me faz lembrar outra jóia do cinema francês, O fabuloso destino de Amélie Poulin (2001). O longa, que também fez parte do Festival Varilux de Cinema Francês, é imperdível!
Trailer do filme:
Que bom ,achei seu blog na casualidade e adorei.Tambem gosto muito de cinema e ja assisti varios filmes das tuas postagens.Estarei seguindo ,pois gostei de tuas informações a respeito dos temas,Abraços,Suze
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