sábado, 23 de abril de 2011

Pânico 4 - 2011




A série Pânico teve a importante função de revitalizar o gênero do terror no final dos anos 90, com uma abordagem adolescente e divertida. Wes Craven, diretor da quatrilogia e grande ícone do terror, foi também responsável pelos famosos A Hora do pesadelo e por Maldição dos mortos vivos. No entanto, nos últimos anos, o gênero do terror vem apostando cada vez mais na tortura psicológica, em cenas chocantes e na escatologia (os incontáveis Jogos Mortais e O albergue, por exemplo), algo que se difere bastante do tipo de terror feito por Craven, baseado no susto e na surpresa. 

A série acompanha as desventuras da pobre coitada da Sidney Prescott (interpretada por Neve Campbell), personagem fadada a ser perseguida em todos os filmes por um (ou mais, dependendo do filme) serial killer mascarado. Auxiliando-a com este fardo ingrato, estão o delegado Dewey (David Arquette) e a jornalista Gale (Courtney Cox). Neste novo filme, os três personagens estão de volta 10 anos depois do ataque do último assassino. Novamente na cidadezinha de Woodsboro, onde tudo começou, eles se vêem obrigados a lidar com novos assassinatos. Adolescentes da universidade local são novamente as vítimas favoritas do assassino e a sobrinha de Sidney é, aparentemente, a mocinha da vez.

Confesso que o filme despertou em mim diversas emoções, a maioria delas negativas. Não conseguia parar de pensar, por exemplo, por que Neve Campbell, uma atriz interessante, se sujeitou a fazer esse papel de novo. Ainda por cima, ela tem que escutar de uma das personagens que ela está velha. Fiquei com pena. Outra coisa irritante é o desempenho pífio da polícia no filme, uma incompetência total e absurda. O personagem de David Arquette é o perfeito banana e a atuação dele dá até dó. Já Courtney Cox vem com toda a energia, mas sua personagem é mostrada como uma bitch frustrada e invejosa. E o pior: ela tem a atitude, mas não consegue emplacar uma tirada. Os insultos trocados com outras personagens femininas da trama são bizonhos. E, por fim, a maioria dos adolescentes do filme são mostrados como seres acéfalos e idiotas, o pior deles é um que anda o tempo todo com uma mini-câmera na cabeça: Que coisa irritante!

A trama é completamente mal construída e formulaica, parece um recorte de momentos dos filmes anteriores. Os suspeitos são lançados pelo filme de maneira aleatória: chega a ser ridículo ver o namoradinho e a policial aparecerem correndo em cena após o assassinato de alguém, numa tentativa do diretor de fazer com que desconfássemos deles. Mas o pior ainda estar por vir: o filme não consegue ser assustador. Vemos uma sucessão de várias mortes mostradas de maneira pouco inspiradas e, diria, até preguiçosa. Não há a criação de suspense, é tudo muito rápido, na pura filosofia: "pronto matei!". Além do mais, o filme tem vários momentos de humor involuntário, quando vemos, por exemplo, incrédulos, uma personagem que havia sido esfaqueada na barriga se defender maravilhosamente bem no confronto com o assassino; e, na parte final, a transformação de uma personagem.

Como é de se imaginar, nenhum dos personagens é bem desenvolvido e os momentos dramáticos do filme não convencem. Por fim, a revelação do assassino é surreal e o desfecho, apesar de criativo, é patético. Pânico 4 provavelmente será um sucesso de bilheteria, mas é um mau exemplar do gênero do terror e, para mim, uma grande decepção. A boa surpresa da produção foi Hayden Panettiere, exibindo grande segurança e sensualidade em cena. O filme sempre melhorava quando ela aparecia.


domingo, 17 de abril de 2011

Filmes de terror da semana

Um dos aspectos essenciais dos filmes de terror é uma certa cumplicidade das vítimas com os seus algozes. De certa forma, o perigo é procurado pelos personagens, o que nos faz, muitas vezes, questionar: "Por que essa pessoa está fazendo isso?" No entanto, essas escolhas erradas são essenciais, sem elas o gênero não existiria... Nos 3 filmes desta semana, podemos ver esta cumplicidade em cena.

Uma noite alucinante - 1987

Bruce Campbell e a mão que é o próprio demônio


Eu me apaixonei por esta continuação de A morte do demônio. Sam Raimi, o diretor, é conhecido, atualmente, pela trilogia do Homem-Aranha. O filme conta a história de um casal que foi passar uma noite numa cabana no meio de uma floresta. Esta cabana pertencia a um arqueólogo que havia descoberto o livro dos mortos. Acidentalmente, os demônios são libertados através da leitura de passagens do livro e os tais demônios começam a perseguir os visitantes. Esta produção do final dos anos 80 é um filme de terror trash, extremamente engraçado e criativo. Os efeitos especiais e a direção de arte do filme são maravilhosos, porque o diretor não tem a mínima preocupação com a verossimilhança, nem com o realismo. Ele brinca com a arte de fazer cinema, criando tomadas maravilhosas (não me esqueço do plano subjetivo da mãozinha perseguindo alguém). O protagonista é interpretado por Bruce Campbell, que tem um talento questionável, mas um vigor fantástico. Suas caras e bocas são impagáveis. Seu personagem é perseguido de todas as formas possíveis, inclusive por uma mão e uma cabeça demoníacas. Uma noite alucinante é hilário e ainda dá para ter uns bons sustos!

Abismo do medo - 2005

Shauna Macdonald coberta de sangue em uma das melhores cenas do filme.


Este primeiro Abismo do medo conta a história de um grupo de mulheres que amam esportes radicais e resolvem desbravar uma caverna em um lugar remoto da Inglaterra. A expedição tem por objetivo reunir essas amigas e servir como recomeço para uma delas que perdeu o marido e a filha em um trágico acidente mostrado no início da trama. Na caverna, as belas mulheres passam a ser perseguidas por um bando de hominídeos mutantes das cavernas. A direção de Neil Marshall é muito eficiente, o filme garante ótimos sustos, uma trama verdadeiramente assustadora e belos momentos. O filme demora um pouco para engrenar, mas a partir do momento que as moças entram na caverna, ele nos deixa completamente angustiados até o fim. As atrizes estão muito bem, sobretudo Shauna Macdonald (a protagonista) que passa uma força tremenda a sua personagem. Não gostei tanto de Natalie Jackson Mendoza (a antagonista), um pouco artificial, mas ao final do filme ela passa a convencer e tem ótimas cenas. Abismo do medo não é uma obra-prima do gênero, mas é um ótimo filme.

Abismo do medo 2 - 2009

Novamente Shauna, em cena de luta

Abismo do medo não apresenta uma conclusão para o espectador, então essa sequência é aguardada com ansiedade para quem gostou do primeiro filme. Infelizmente, ele não é tão bem sucedido quanto seu antecessor. O enredo mostra a expedição de busca pelas garotas desaparecidas. Dirigido por outro diretor, Jon Harris, o filme constrói uma trama basicamente igual à anterior, com a mesma estrutura e o mesmo formato. O filme não consegue ser tão angustiante e assustador como o primeiro, já que o espectador já sabe mais ou menos o que vai acontecer com os novos personagens. O diretor ainda comete o erro de fazer um filme mais claro (a escuridão do filme anterior era um elemento essencial para o susto). Apesar da trama forçada, Abismo do medo 2 também tem seus bons momentos e garante alguns bons sustos. A produção conta novamente com a atriz Shauna Macdonald, em uma ótima interpretação. Já o resto do elenco é bem irregular, mas os personagens também não ajudam. O pior caso é o do delegado do filme, um personagem injustificadamente detestável. O filme também termina com um enigma, em um final nada satisfatório. Um terceiro filme seria necessário. Estou torcendo!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Deixe ela entrar - 2008

Lina Leanderson e os seus magníficos olhos

Dedicarei minhas próximas postagens a falar de filmes de terror, gênero às vezes tão subestimado e pouco levado a sério. Os filmes de terror falam dos nossos instintos mais básicos de sobrevivência, do medo e da morte. Claro que, como em todos os gêneros cinematográficos, existem exemplares que são completamente dispensáveis, muitos que se tornam risíveis e não assustadores. Mas também existem grandes filmes, como este recente Deixe ela entrar

Passei o filme inteiro me dizendo que este não ele não era um filme de terror e, sim, uma linda história de amor. Foi somente, após terminar o filme, que percebi o quão assustadora era a história que tinha acabado de ver. Se você estiver interessado em vê-lo, assista ao filme antes de ler qualquer crítica, inclusive o meu comentário abaixo. Deixe ela entrar é um filme sueco, que conta a história de Oskar, um menino de doze anos que sofre bullying cotidianamente na escola e por isso acaba reprimindo um grande desejos de violência. Um dia ele conhece uma garota da sua idade, Eli, nova vizinha em seu prédio e os dois começam uma linda amizade. O detalhe é que ela é um tipo de vampiro e, portanto, necessita de sangue humano para sobreviver. 

Deixe ela entrar é ambientado em uma cidadezinha sueca coberta de gelo e a linda fotografia do filme mostra o quão melancólica é essa claridade glacial. O branco e o vermelho são as cores do filme, representando a neve e o sangue. Ao mesmo tempo em que vemos Oskar se apaixonar por Eli e criar uma ligação forte com a garota, vemos os ataques e assassinatos que ela é obrigada a cometer pela sua sobrevivência. O cineasta, através dos seus lindos closes, mostra o quão especial é Oskar, um garoto naturalmente bom, muito solitário. Vítima de violência, ele carrega em si também uma semente de violência. Kare Hedebrant, que interpreta Oskar, tem um carisma natural e se torna fácil se identificar com o menino. 

Já Lina Leandersson, que interpreta Eli, impressiona pelo seu olhar que parece carregar uma longa vida (de fato a personagem está presa em um corpo de 12 anos, mas é muito mais velha). Existe uma tristeza em seu olhar e uma necessidade de ter alguém. No primeiro ato do filme, a vampira tem um companheiro que a auxilia a obter sangue, matando pessoas. Este velho companheiro, Hakan,  interpretado com uma sensibilidade tocante por Per Ragnar e que morre por ela no primeiro ato do filme,  pode passar como pai da garota. Ao final, compreendemos que ele era muito provavelmente um amante mortal que foi envelhecendo enquanto Eli continuava uma criança. Podemos, então, questionar até onde Eli enxerga em Oskar um servo que pode se tornar um psicopata, matando para que ela sobreviva. É assustador perceber que Oskar provavelmente será um sucessor de Hakan.

O terror do filme, no entanto, não está apenas na necessidade de sangue de Eli, mas na maldade humana personificada pelos colegas de Oskar, que apesar de serem crianças e terem noção da própria maldade, parecem impelidos a fazer o mal. No filme, Hakan e Eli matam pessoas boas e inocentes e é compreensível que um amigo de um dos assassinados busque fazer justiça ao querer matar Eli. Neste momento, Oskar a salva: o que nos faz questionar a nossa própria vontade de ver o menino ficar junto com a vampira. Queremos o romance e a felicidade desses dois personagens, mas isto provavelmente custará muitas mortes inocentes. 

Deixe ela entrar é um dos melhores filmes de vampiro já realizados. Fugindo do estereótipo e criando uma trama sensível e rica de simbologia, o filme é mais uma jóia do cinema sueco... Chamo a atenção para a direção primorosa de Tomas Alfredson e lindas cenas como a da morte de Hakan e o massacre na piscina.


Trailer do filme:

domingo, 10 de abril de 2011

Tropa de elite 2 - 2010

Wagner Moura em cena do filme


A temática do mundo do crime (sobretudo no Rio de Janeiro) é, sem dúvida, a mais explorada pelo cinema brasileiro. Seguindo este filão temos: Cidade de Deus, Tropa de Elite 1 e 2, Cidade dos homens, Carandiru, Última parada 174, Salve Geral...  Esse exagero de produções que giram sobre o crime e a violência podem ter várias explicações: existe um grande público para esse tipo de filme; é uma questão que parece tocar bastante os cineastas brasileiros; e continua atual (basta levar-se em conta o quase-recente episódio do morro do Alemão). Dentre os projetos citados anteriormente, Cidade de Deus é o mais bem sucedido cinematograficamente, um dos melhores filmes da última década e talvez, por isso, o responsável por lançar uma "estética" da favela ou da violência. A importância da denúncia social é inegável, mas confesso que o cinema brasileiro se mostra e se vende como monotemático e fato é que ele ainda está engatinhando em sua retomada. Falta, a meu ver, melhores roteiros e maior incentivo e visibilidade a projetos mais criativos e a novos cineastas.

Quando o primeiro Tropa de elite saiu nos cinemas, uma das coisas que mais me incomodou foi a modinha que se instalou entre jovens e adolescentes de imitar as falas e aplaudir a violência cometida pelos membros do BOPE. Ao que parece, a dimensão crítica do filme muitas vezes passava despercebida e o que ficavam, após a sessão, eram a meia dúzia de frases de efeitos e a música/hino tema do filme. Neste segundo filme, o cineasta José Padilha mergulha bem mais fundo na questão política criando uma trama ainda mais interessante e audaciosa que a produção original. 

Deixando um pouco de lado minha opinião sobre o cinema brasileiro e também minhas preferências cinematográficas, devo dizer que Tropa de Elite 2 é um filme eficiente, bem escrito e bem dirigido. Entretanto, é um filme que passa longe da sutileza tanto na história que conta, como em suas escolhas narrativas. Vem-me em mente o momento em que o Coronel Nascimento se vê diante de um espelho, quando suas atitudes são postas em jogo, e ele tem que refletir sobre si mesmo. O simbolismo deste momento perde um pouco de seu valor pela falta de sutileza com que o diretor o lança. Passa longe da sutileza também o estereótipo criado pelo filme do apresentador sensacionalista, na performance over de André Mattos.

Tropa de elite 2 conta a luta do Coronel Nascimento contra o tráfico, "o sistema" e, dessa vez, também contra os policiais e políticos corruptos. Acertadamente, o roteiro de Padilha e  Bráulio Mantovani busca fazer um retrato humano de seu protagonista e Wagner Moura, mais uma vez, está excelente, ao construir um personagem endurecido, mas extremamente fiel a seus valores. A voz off do personagem permite que ele se revele ainda mais para o espectador. Deve-se aplaudir também o desempenho de todo o elenco masculino do filme, que é espetacular. Irandhir Santos, André Ramiro, Sandro Rocha, Milhem Cortaz, André Mattos, Adriano Garib estão fantásticos e o filme ainda conta com a empolgante pequena participação de Seu Jorge. É interessante ainda apreciar como a história lida com dois personagens aparentemente opostos, vividos por  Wagner Moura e Irandhir Santos, personagens de ideologias diferentes, mas que de certa forma são complementares.

Com uma direção inteligente e uma ótima montagem de Daniel Rezende (que também trabalhou em Cidade de Deus), o filme é construído de grandes momentos de tensão e ótimas cenas de perseguição e tiroteio. Contando com menos cenas de ação que o filme anterior e se dedicando a criar uma intriga política interessante e verossímil, a produção não deixa a peteca cair em nenhum momento, não apelando para o sentimentalismo, nem para as soluções fáceis. A cena final do filme, no entanto, me incomoda por seu discurso um pouco didático, óbvio e, portanto, desnecessário.

Tropa de elite 2, como já era de se esperar, deixa as portas abertas para uma continuação. O filme de maior bilheteria do cinema nacional é um ótimo filme policial, audacioso e, infelizmente, atual... no entanto, ainda prefiro o grande documentário de Padilha Última parada 174 (2002)

Trailer do filme:

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Encurralado - 1971


O caminhão do filme - um personagem em si?


Encurralado é um filme feito para a televisão americana, em 1971, dirigido pelo então novato Steven Spielberg. O cineasta havia dirigido, até então, apenas curtas-metragens e séries. O seu primeiro longa para o cinema foi Louca Escapada, de 1974. Em Encurralado, Spielberg dá uma aula de cinema, dando, mais do que sinais, provas, de seu grande talento para a criação do suspense e do terror psicológico. O filme de 1971 é para mim uma epécie de pai de Tubarão (1975), grande clássico do cineasta. O sucesso e o êxito cinematográfico de Encurralado,  foi, sem dúvida, de grande importância para a subsequente carreira de Spielberg.

Filmado em 13 dias, a produção é uma adaptação de um conto de Richard Matheson, também encarregado pelo roteiro. O filme conta a história de um homem comum, David Mann, classe-média, que sai um dia de carro para um encontro de trabalho e se vê perseguido por um caminhão pelas desertas rodovias do oeste americano. A trama pode ser simples, mas o resultado é um filme angustiante e assustador. 

Encurralado encontra-se no limite entre thriller e terror. A sacada de mestre do diretor é o fato de não revelar o caminhoneiro (apenas seus pés e braço esquerdo), assim como não vemos o tubarão durante a maior parte do filme de 1975. A questão da identidade do vilão é fundamental para a trama: sem rosto, ele se torna ainda mais assustador e imprevisível. Esta falta de identidade também é representada pelas inúmeras placas pregadas no caminhão, ou sejá, a máquina também não pode ser identificada. Por falar em máquina, por um processo de metonímia, vemos o caminhão se tornar o próprio vilão do filme. Sua presença é, em si, ameaçadora.  Spielberg afirmou, certa vez, que escolheu o modelo de caminhão usado no filme, pois sua cabine lembra um rosto.

Encurralado (boa "tradução" para o português, talvez melhor do que "duel/duelo", título original), explora ao máximo o terror psicológico, uma vez que o mocinho, com quem nos identificamos invarialvelmente, se vê completamente à mercê de um mal absoluto, em um jogo terrível de gato e rato. E o pior: não existe uma motivação real para a a ação do perseguidor. Trata-se de um psicopata? Por que ele escolheu perseguir apenas David Mann?

O filme carrega em si uma aura de pesadelo. O protagonista, que de certa forma tem sua coragem questionada por sua mulher em uma cena do filme, tem que lidar com o medo o tempo todo, como se ele devesse ser punido pela covardia do dia anterior. Dennis Weaver, que o interpreta, é eficiente ao mostrar as emoções, indecisões e terror de seu personagem através do seu olhar e de suas expressões faciais. A voz off do personagem também possibilita, em certos momentos, que tenhamos acesso ao desespero interior do personagem. 

Com uma bela fotografia e uma montagem e direção geniais, Encurralado é um Spielberg imperdível! 

Assista ao trailer: