sábado, 18 de junho de 2011

Meia noite em Paris - 2011

Título original: Midnight in Paris
País: EUA/Espanha/França  
Ano: 2011 
Duração:100 minutos
Gênero: Comédia 
Dirigido por: Woody Allen
Escrito por: Woody Allen
Estrelado por:  Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Carla Bruni-Sarkozy, Michael Sheen, Nina Arianda, Alison Pill, Tom Hiddleston, Kathy Bates, Corey Stoll, Kurt Fuller, Mimi Kennedy 

Owen Wilson e Rachel McAdams em cena do filme.
Desde 1977, quando lançou o clássico Noivo neurótico, noiva nervosa, Woody Allen nos presenteia com pelo menos um filme a cada ano. O prolífico e multifacetado cineasta de 75 anos é, aparentemente, contra qualquer tipo de folga do cinema e, pelo visto, nem cogita a aposentadoria, uma vez que já está produzindo seu próximo filme, Bop Decameron (2012). Apesar de seus longas gerarem sempre grande expectativa, a última década revelou ser a menos interessante do diretor. Filmes como Dirigindo no escuro (2002), Igual a tudo na vida (2003), Scoop - O Grande Furo (2006) e O Sonho de Cassandra (2007) foram considerados grandes decepções pela crítica. O último lançamento do diretor, Você vai conhecer o homem dos seus sonhos (2010), também não a empolgou. Seus maiores sucessos da década, Match Point (2005) e Vicky Cristina Barcelona (2008), empalidecem quando comparados a obras como Interiores (1978), Manhattan (1979) e o já citado, Noivo Neurótico, noiva nervosa (1977). 

Já há alguns anos, Woody Allen deixou de usar como cenário de seus filmes a sua cidade natal, Nova York, para filmar em cidades européias, como Londres, Barcelona e, dessa vez, Paris. O cineasta explicou que a causa dessa mudança é, sobretudo, econômica, já que filmar na Europa é bem menos oneroso que filmar em Nova York. Seu novo filme, Meia noite em Paris, estreou em Cannes este ano e recebeu uma acolhida calorosa por parte da crítica, sendo um dos destaques do festival. Por enquanto, Meia noite em Paris é o filme de Allen que recebeu as melhores críticas dos últimos anos. Nos sites especializados IMDB e Rotten Tomatoes, o filme tem uma cotação bastante alta. Vale destacar que este último site aponta a produção como o melhor trabalho do diretor desde Tiros na Broadway (1994).

Meia noite em Paris conta a história de Gil (Owen Wilson), um roteirista de Hollywood que sempre  sonhou em ser um grande escritor americano e que viaja a Paris, com sua noiva Inez (Rachel McAdams) e os pais da moça, John (Kurt Fuller) e Helen (Mimi Kennedy). John viaja a Paris para fechar um grande negócio e tanto ele, quanto sua mulher, deixam claro a desaprovação pelo futuro genro. No passeio, Gil ainda tem que suportar um irritante amigo pseudointelectual de Inez (Michael Sheen). Durante sua estada na capital francesa, Gil passa a questionar os rumos da sua vida e de sua obra, se evadindo em um mundo de sonhos e ilusões. Durante uma série de noites, o rapaz faz uma viagem no tempo e volta aos anos 20, convivendo com grandes ídolos, como Fitzgerald, Hemingway, Salvador Dalí, Gauguin, Degas, Cole Porter, Pablo Picasso e Buñuel.

Muitas produções americanas já exaltaram a beleza e o charme de Paris. Talvez a mais famosa entre elas seja o clássico musical Sinfonia em Paris (1951), de Vincent Minelli. O novo filme de Woody Allen entra para a história do cinema como mais uma grande homenagem à capital francesa. O longa funciona, inclusive, como um belo guia turístico, ao mostrar, por exemplo, em sua abertura, sucessivos planos que mais se assemelham a cartões postais em movimento. Mas não é somente a beleza parisiense que é exibida, mas também tudo que é associado à herança cultural e artística da cidade e sua influência sobre grandes nomes da literatura norte-americana como Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald. 

Gil é um sensível roteirista, completamente apaixonado por Paris e que tem o desejo de se tornar um grande escritor. Ele vive um interessante tipo de nostalgia: aquela por um tempo que não vivenciou, a Paris dos anos 20. O personagem é personificado maravilhosamente bem por Owen Wilson, em seu melhor papel no cinema. O ator compõe um personagem que é, por diversas razões, encantador. Wilson, conhecido por seus papéis cômicos, consegue expressar o drama pelo qual seu personagem atravessa, assim como o entusiasmo do mesmo pela arte. Talvez o momento máximo de sua performance seja quando, em um longo primeiro plano do filme, o ator consegue apenas através do olhar demonstrar todas as emoções vividas por Gil. 

Sonhador, desajeitado, romântico, Gil contrapõe-se a sua detestável noiva, Inez, que assim como seus pais, é materialista, pedante e preconceituosa. Rachel McAdams, que tem no currículo algumas personagens bem irritantes, se supera ao fazer com que o espectador realmente deteste sua personagem. O mundo paralelo de Gil é habitado por grandes nomes da arte que, por sua vez, são interpretados por grandes atores. Kathy Bates, Adrian Brody, Corey Stoll estão absolutamente inspirados e parecem se divertir ao máximo com seus personagens. Já a delicada Marion Cotillard surge, mais uma vez, belíssima como a musa idealizada de Gil. Para mim, uma grata revelação foi Alison Pill, que interpreta Zelda Fitzgerald. Carla Bruni, atual primeira-dama da França, tem uma participação bem pequena e talvez, por isso, não faça muito feio. 

Meia-noite em Paris conta com uma bela fotografia, de Darius Khondji, que ressalta, através das cores, a diferença entre os dois mundos de Gil. Quando este se encontra no passado as cores são mais quentes, levemente puxadas para o sépia. Já a vida real do rapaz é mostrada através de tons acinzentados. O trabalho da direção de arte e do figurino também é genial ao reconstituir 3 épocas diferentes (o presente, os anos 1920 e os anos 1890). Mas um dos aspectos técnicos que mais saltam aos olhos, ou melhor, aos ouvidos, é a belíssima trilha sonora do filme, responsabilidade do também músico Woody Allen. 

Neste novo longa, encontramos ainda pitadas do delicioso humor de Woody Allen e inúmeras referências a grandes artistas e obras, como a bem-humorada passagem sobre o filme O anjo exterminador (1962), de Buñuel . Fazendo uso do realismo fantástico presente também em A rosa púrpura do Cairo (1985), Meia noite em paris é um conto de fadas leve e encantador.

Trailer do filme:




Um comentário:

  1. Que sorte vocês aí da França já poderem ver este filme, Leonardo. Aqui em Berlim, só em agosto.
    Adoro quando o Woody Allen faz algo mais lúdico, no estilo de A Rosa Púrpura.
    Sobre o blog, gostei bastante, da simplicidade do template e das escolhas de temas para os posts.
    Abraço

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