sábado, 4 de fevereiro de 2012

Millenium: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres - 2011

Título Original: The Girl with the Dragon Tattoo
Lançamento: 2011
País: Estados Unidos
Direção: David Fincher
Atores: Daniel CraigRooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgård, Robin Wright, Joely Richardson
Gênero: Suspense


Rooney Mara oferece uma das melhores performances de 2011 na pele de Lisbeth Salander

9 de dezembro de 2004 - morre, aos 50 anos, Stieg Larsson, jornalista, ativista político e romancista sueco. Agosto de 2005 - publicação de Os homens Que Não Amavam as Mulheres, primeiro volume da trilogia Millenium, deixada por Larsson. 2006 - publicação de A Menina Que Brincava com Fogo, segundo volume da trilogia. No mesmo ano, Larsson é premiado postumamente com o Glass Key Award de melhor romance policial do ano, seu primeiro prêmio literário. 2007 - publicação de A Rainha do Castelo de Ar, último volume de Millenium.  2008 - Larson é premiado por mais três associações na Suécia, na África do Sul e no Reino Unido. No mesmo ano, Larsson se torna o segundo autor mais vendido no mundo. 2009 - Larsson é premiado com mais dois prêmios literários. No mesmo ano, é lançada a versão cinematográfica sueca para a trilogia, o primeiro filme foi dirigido por Niels Arden Oplev e os outros dois por Daniel Alfredson (irmão de Tomas de O Espião que Sabia Demais). 2010 A Rainha do Castelo de Ar se torna o livro mais vendido nos Estados Unidos. Dezembro de 2011 - é lançado nos Estados Unidos a versão americana de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, dirigido por David Fincher. 24 de janeiro de 2012 - O filme de Fincher é indicado a cinco Oscar's (Melhor Atriz, Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som). 

Infelizmente, um infarto fulminante impediu que Larsson visse a repercussão e o sucesso meteórico de seus romances. Em apenas sete anos, quatro adaptações fílmicas de sua obra foram realizadas, sintoma de que a trilogia é um verdadeiro hit cultural. Era de se esperar que Hollywood também se interessasse na adaptação da obra e, para a nossa sorte, a direção de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres foi parar nas mãos de David Fincher. O diretor americano de 49 anos tem um currículo invejável e mesmo os seus filmes menos bem-sucedidos podem ser considerados "tropeços dignos". Embarcando mais uma vez no suspense, gênero que domina com perfeição, Fincher retrata o sombrio universo do crime (como o fez em Seven e Zodíaco), da violência e da investigação.


O filme, roteirizado pelo prolífico Steven Zaillian, o mesmo de O Homem Que Mudou O Jogo, começa nos mostrando como a vida de Mikael Blomkvist (Daniel Craig), jornalista investigativo e co-editor da Revista Millenium, virou de cabeça para baixo após ter publicado uma série de denúncias sobre um importante empresário sueco. Sem provas para sustentar suas acusações, Blomkvist vê sua reputação manchada e sua conta bancária gravemente atingida, já que ele deverá pagar uma indenização exorbitante ao suposto caluniado. Oportunamente, o milionário Henrik Vanger (Christopher Plummer) contacta o jornalista para que este o ajude a descobrir a causa do misterioso desaparecimento de sua sobrinha. Para ajudá-lo nessa missão, Blomkvist recruta a hacker Lisbeth (Rooney Mara), jovem de 23 anos que encontra-se sob tutela do Estado, devido ao seu histórico de violência. 

Uma das grandes personagens que apareceram nas telonas neste último ano, Lisbeth é um espetáculo a parte. Muito do impacto da personagem vem do fantástico trabalho de caracterização que é feito com a atriz Rooney Mara: do figurino aos penteados, passando pelos piercings e tatuagens, sem mencionar as sobrancelhas descoloridas. Seria injusto, no entanto, afirmar que a caracterização é uma muleta para performance de Mara, já que a atriz nos presenteia com uma das maiores atuações do ano. A jovem atriz de 25 anos que já havia participado do filme anterior de Fincher, o ótimo A Rede Social (2010), revela um talento impressionante e uma entrega admirável ao papel. 


A composição da personagem é feito com extremo zelo e este cuidado se revela já na criação de uma maneira própria de Lisbeth falar, com uma dicção precisa, objetiva, quase robótica. Podemos dizer, que a personagem tem um "tempo" diferente dos demais. Mas não para por aí. Mara ainda confere diversas nuances à protagonista, fazendo dela uma personagem perigosa, intimidadora, arredia, imprevisível e, ao mesmo tempo, heroica. Por trás de toda fachada bizarra, Lisbeth é uma heroína. A frieza da personagem e sua dificuldade de se relacionar com as outras pessoas, vêm da mistura de uma inadequação ao mundo, de um sentimento de superioridade (afinal ela é inteligentíssima) e, provavelmente, de uma timidez absurda. Mesmo não tendo acesso ao passado da personagem, é nítido que sua infância e adolescência foram atravessados por acontecimentos que a marcaram profundamente e que justificam os mecanismos de defesa que ela utiliza para enfrentar um mundo cheio de violência. Mesmo com os traumas e uma sexualidade ambígua, Lisbeth, ao final, revela também um romantismo tocante, já que ela encontra em Blomkvist, alguém em quem ela pode confiar e se conectar. 

A violência é explorada de forma destemida e realista por Fincher e o filme contém cenas extremamente perturbadoras. Entre elas, não podemos deixar de mencionar uma cena de estupro e outra de tortura, que estão entre os momentos mais fortes do cinema em 2011. O filme é uma grande denúncia da violência cometida contra mulheres e contra atos de misoginia. É interessante notar que Lisbeth não pensa duas vezes quando  Blomkvist  a chama para a investigação, dizendo: "Quero que você me ajude a apanhar um assassino de mulheres". A personagem, que tem ares de vingadora, sem dúvida se sente atraída pela causa, que a atinge diretamente, já que ela também foi vítima da violência masculina. O filme também aborda um problema bastante delicado: o neonazismo que persiste em várias cidades da Europa. 


Não só Rooney Mara merece aplausos no filme. O sempre competente Daniel Craig entrega mais uma ótima performance, sendo capaz de nos fazer esquecer completamente que ele é o atual James Bond. O filme traz também Christopher Plummer em seu segundo grande trabalho no cinema em 2011. O talentoso ator sueco Stellan Skarsgård também está excelente e tem uma cena absolutamente magistral, com um monólogo de arrepiar. Entre muitas ótimas participações, destacam-se também as belas Robin Wright e Joely Richardson. 

Além da direção primorosa e do elenco afiado, o filme de Fincher ainda tem uma inspirada trilha sonora (de Trent Reznor e Atticus Ross) e uma excelente fotografia (de Jeff Cronenweth), que cria uma atmosfera tensa e, por vezes,claustrofóbica. Os tons acinzentados e frios dominantes no filme dão lugar às cores quentes no momento em que Henrik lembra de seu passado familiar, criando um contraste bastante interessante. A montagem do filme é excepcional e é brilhante a forma com a qual ações simultâneas são agenciadas, no clímax do filme, criando um efeito de suspense à la Hitchcock. A escolha de se estruturar o filme em duas narrativas paralelas que eventualmente se tornam uma só é outro acerto. 

Os Homens Que Não Amavam As Mulheres é tão envolvente que atiça a curiosidade do espectador para conhecer o futuro dos personagens principais. Talvez o final do filme pudesse ser mais enxuto, mas este é um defeito menor e perdoável deste thriller praticamente irreprochável. 




5 comentários:

  1. Com uma crítica tão boa vou assistir na próxima semana com certeza.
    Um dos meus maiores medos quando se trata de adaptações de livros é que a adaptação tire o brilho e a beleza das histórias.
    Ainda bem que isso não ocorreu nesse caso!

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  2. Com todo respeito, o filme não tem nem 10% da emoção do livro...

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  3. É um thriller bem feitinho, mas nada original. Fincher já teve melhores dias. A Rooney Mara também não me empolgou como atriz. O verdadewiro show é do maquiador e do figurinista. Ela e Craig ficam com a mesma cara de pastel o tempo todo. Quem faz falta é Christopher Plummer. Toda vez que aparece ilumina a tela.

    O Falcão Maltês

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  4. Eu amei o filme. As pessoas não entendem que cinema e literatura são duas linguagens diferentes e que em uma adaptação é preciso realizar escolhas. Além disso, é óbvio que para alguém que já leu o livro, o filme parecerá menos emocionante. Assim como alguém que não leu vai achar extraordinário. Amei a crítica! Parabéns!

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