sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret - 2011

Título original: Hugo
Lançamento: 2011 
País: EUA
Direção: Martin Scorsese
Atores: Asa Butterfield, Chlöe Moretz, Ben Kingsley, Emily Mortimer, Jude Law.
Duração: 127 min
Gênero: Aventura


O garoto Hugo Cabret (Asa Butterfield) pendurado no relógio e, ao fundo, a paisagem de Paris. 


O que esperar de um filme dirigido por um dos maiores diretores vivos do cinema sobre o responsável por fazer da sétima arte, de fato, uma arte? Respondo: puro encanto. Martin Scorsese já havia provado em O Aviador (2004) sua maestria ao reconstituir a Era de Ouro de Hollywood. Em Hugo Cabret, Scorsese faz ainda mais bonito ao tecer uma bela homenagem ao mestre George Méliès. O filme é baseado no premiado livro de Brian Selznick (primo distante do famoso produtor David O. Selznick), que acrescentou uma pitada de ficção e magia na história do legendário diretor francês. 

Méliès nasceu em 1861, em Paris. Brilhante mágico e ilusionista, um belo dia, ele se deparou com uma nova invenção: o cinematógrafo, criado pelos irmãos Lumière, no final do século XIX. Encantado pela máquina, o inquieto artista resolveu começar a fazer filmes. Hoje em dia, ele é considerado o principal responsável por fazer do registro de imagens em movimento uma arte. Criativo, curioso e incansável, Méliès era reconhecido pela sua habilidade em brincar com as imagens e pela magnificência de seus cenários, o capricho de seus figurinos, além de suas histórias fantasiosas e divertidas. Após a Primeira Guerra Mundial, Méliès veio à falência e a maioria de seus filmes (ele dirigiu mais de quinhentos) foram perdidos. Felizmente, algumas de suas obras puderam ser recuperadas, com destaque para o clássico Viagem à lua (1902). Multitalentoso, Méliès atuava, dirigia e roteirizava os seus filmes, além de idealizar os cenários e os figurinos dos mesmos. Ele morreu em 1938, aos 76 anos. 

Célebre cena de Viagem à lua (1902)
Reconhecido por suas obras-primas que focalizam, em sua maioria, homens inadaptados, agressivos e marginais, Scorsese faz algo completamente atípico em seu novo longa-metragem, criando um belíssimo conto de fadas. Os mais cínicos provavelmente torcerão o nariz para o caráter pueril e inocente da história, mas não creio que serão muitos. O filme conta a história do garoto Hugo Cabret (uma versão de Oliver Twist), que, órfão de pai e de mãe, vê-se obrigado a viver atrás das paredes de uma das maiores estações  de trem de Paris, onde trabalha escondido na manutenção dos grandiosos relógios da gare. Solitário, o menino vive de pequenos furtos, tendo que fugir constantemente do inspetor da estação. Nesta mesma gare, trabalha o já velhinho George (o Méliès), em uma loja de brinquedos. O destino fará com que as vidas dos dois personagens se cruzem. É interessante observar como o relógio e as engrenagens desempenham um papel fundamental no filme, sendo elementos onipresentes na história. Hugo Cabret resgata a arte por traz do manejo da maquinaria responsável pelo funcionamento de brinquedos, câmeras, robôs e, obviamente, relógios. 

Em A invenção de Hugo Cabret, Scorsese não mede esforços para nos impressionar. Já na cena de abertura, através de uma fusão, ele faz engrenagens se transformarem na Place Charles de Gaulle (ou Place de l'Étoile) em Paris. Em seguida, através de um travelling de tirar o fôlego, que atravessa toda a estação Montparnasse, ele nos apresenta a Hugo, o herói da trama. Usando e abusando de ótimos planos-sequência (muitos deles que exploram o interior da maquinaria dos relógios) e de belíssimos plongées, Scorsese nos presenteia com um verdadeiro espetáculo visual que faz valer a tecnologia 3D. Auxiliado por uma direção de arte deslumbrante, uma fotografia genial e um figurino impecável, o diretor consegue recriar a Paris dos anos 30 (como o fez o ótimo Meia Noite em Paris, de Woody Allen) e reencenar cenas de filmes de Méliès! E não é só isso: ele ainda nos impressiona com um descarrilhamento capaz de fazer o espectador levantar da cadeira, lembrando o que ocorreu, na primeira exibição do cinematógrafo, em 1895, quando as pessoas temeram serem atingidas pelo trem projetado pelos irmãos Lumière.  

Hugo (Butterfield) apresenta a Isabelle (Chlöe Moretz) a magia do cinema
A Invenção de Hugo Cabret é o primeiro filme de Scorsese, em mais de dez anos, que não conta com a participação de Leonardo Di Caprio. Para encarnar o protagonista da história, o diretor escolheu o talentoso garoto Asa Butterfield. Acrescentando experiência ao elenco, temos o grande Ben Kingsley (que nunca decepciona) na pele de George Méliès e também Helen McCrory e Sacha Baron Cohen. Temos ainda Chlöe Grace Moretz, jovem estrela de quatorze anos que lembra bastante a atriz Emma Watson e que esbanja carisma. O filme ainda se dá ao luxo de contar com pequenas participações de grandes atores, como Ray Winstone, Emily Mortimer, Christopher Lee, Frances de la Tour e Jude Law. 

O novo filme de Martin Scorsese, cotado para o prêmio maior do Oscar 2012, é uma homenagem e uma declaração de amor ao cinema. É um filme feito para crianças e para adultos que não têm medo de voltar a serem crianças e redescobrir o encantamento que a sétima arte pode provocar em nós. A invenção de Hugo Cabret é uma aula de cinema e sobre o cinema. 



9 comentários:

  1. Com o 3D desse filme sendo tão elogiado você preferiu baixá-lo e ver no PC?

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  2. Eu moro em Paris e tive o privilégio de vê-lo em 3D. :)

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  3. Putz, eu ri desse diálogo que vocês. xD

    Mesmo sendo Scorsese, não imaginava que o filme fosse ser tão elogiado assim. Minha expectativa só aumenta, espero que não demore muito a chegar em Curitiba e quem sabe em IMAX.

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  4. Esse, com certeza, é o filme que eu mais espero para 2012. E o único que eu faço questão de ver nos cinemas, no 3D. Estou com altas expectativas para Hugo Cabret, ainda maiores com o seu texto.

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  5. Vi o trailer. Um pouco acelerado, não? Scorsese sempre me surpreende. Estou à espera do filme, ansioso, e em 3D!

    Cumprimentos cinéfilos e Feliz 2012!

    O Falcão Maltês

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  6. adoro hugo cabret tenho o livro vai ser daora se colocar em 3D

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  7. Assisti o filme em 3D, realmente é muito bom.

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  8. Sinceramente, o filme é bom, mereceu seus Oscars, é metalinguístico demais, tem seus contrastes e referencias, mensagem positiva... mas infelizmente é um filme que teve um grande orçamento e que o retorno não foi tão positivo. Nao sou critico e não entendo muito de cinema, mas fiquei intrigado com a Academia por Hugo ser tão cultuado, talvez porque tecnicamente seja impecável, mas muitos outros filmes com orçamentos baixíssimos e mensagens mais poderosas nao foram premiados e muito menos indicados...

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