Título original: 50/50
Lançamento: 2011
País: EUA
Direção: Jonathan Levine
Atores: Joseph Gordon-Levitt, Seth Rogen, Anna Kendrick, Bryce Dallas Howard.
Duração: 100 min
Gênero: Comédia dramática
"Você vai ficar bem. As pessoas se curam. Famosos se curam. Lance Armstrong pega câncer o tempo todo. E ele está bem."
Ótima cena de 50% |
O que os filmes a seguir tem em comum? Laços de Ternura (1983), Love Story (1970), Um amor para recordar (2002), O tempo que resta (2005), Lado a Lado (1998), Le bruit des glaçons (2010), Minha vida sem mim (2003), Uma lição de vida (2001), Uma prova de amor (2009), Minha Vida (1993), As Invasões bárbaras (2003). Você não deve ter demorado a responder: todos eles falam sobre câncer. A famigerada doença e a turbulência que ela provoca na vida de sua vítima já foram retratadas de diversas maneiras no cinema: do melodrama açucarado (Laços de Ternura, Love Story, etc) à comédia de humor negro (Le bruit des glaçons). Na televisão americana, dois ótimos seriados também abordam o tema: a série de ação Breaking Bad (2008-2011) e a comédia dramática The Big C (2010-2011).
Sem dúvida, há algo de criativamente instigador no câncer. Talvez tantos filmes sejam feitos sobre ele (muitas vezes, mal ousamos pronunciar seu nome) para podermos lidar melhor com uma doença que pode surpreender qualquer pessoa a qualquer instante. O câncer nos faz enfrentar a morte (tanto a nossa quanto a de uma pessoa querida) de uma maneira impiedosa, contra nossa vontade. Mesmo diante dos piores filmes sobre o tema, somos, muitas vezes, tocados por todo sofrimento e exigência de readaptação que a doença traz consigo. Muitos romances e dramas são feitos sobre o assunto. Mas, afinal, como realizar uma comédia sobre o perigo e o medo da morte? As Invasões Bárbaras, Ruído do gelo e a série The Big C mostram diferentes possibilidades. A essa lista podemos acrescentar o novíssimo 50% (2011).
Em 50%, Adam (Joseph Gordon-Levitt) é um jovem rapaz de 27 anos que leva uma vida saudável e regrada, ao lado de sua namorada Rachael (Bryce Dallas Howard). O rapaz trabalha numa rádio em Seattle ao lado de seu melhor amigo Kyle (Seth Rogen). Após sentir dores na região lombar, ele procura um médico e é diagnosticado com um tumor maligno na coluna. Após uma pesquisa na internet, ele descobre que tem 50% de chance de sobreviver à doença. O filme é baseado na própria experiência de Will Reiser, roteirista do longa-metragem, e Seth Rogen. Reiser é um sobrevivente de um câncer e contou com o apoio do amigo Rogen durante todo o processo do tratamento.
O primeiro acerto de 50% é o de tentar fugir dos extremos, não investindo nem no melodrama, nem numa abordagem fria. O roteiro do filme, mesmo que previsível e formulaico, em alguns momentos, exibe uma visão que revela a sinceridade tocante de alguém que já vivenciou o drama da doença. Sendo assim, o longa não minimiza o sofrimento de se estar com câncer, mas também não faz dele uma tragédia. Acompanhamos, ao longo do filme, a evolução da maneira com a qual o protagonista lida com sua nova realidade, as etapas da sua aceitação. O roteiro de Reiser opta por mostrar de forma realista como Adam digere a notícia, não optando pelo batido "vou virar minha vida de cabeça para baixo".
Outra qualidade do filme é saber diluir a comédia no drama, nos presenteando com momentos emocionantes (como o do colapso nervoso de Adam) e algumas tiradas engraçadíssimas. Mesmo que o trabalho do jovem diretor Jonathan Levine não seja notável (o filme parece, por vezes, carecer de ritmo), ele demonstra sensibilidade ao retratar o universo ligeiramente melancólico de Adam.
Opondo-se à complexidade do protagonista, temos personagens que se revelam extremamente unidimensionais como Rachael (Bryce Dallas Howard) e Diane (Anjelica Huston) A primeira é a namorada egocêntrica e egoísta (e Bryce Dallas Howard vem se especializando em fazer bitches, vide sua personagem em Vidas Cruzadas) e a segunda é o estereótipo da mãe possessiva e eternamente descontente. Além disso, o mal de Alzheimer de Richard (Serge Houde), pai de Adam, não convence em nenhum momento, culpa não só do ator, mas também do roteiro que não sabe o que fazer com o personagem, acrescentando-o talvez para justificar o comportamento estressado de Diane ou adicionar drama à vida familiar do protagonista. Ao final, o roteiro se lembra de criar um laço afetivo entre Richard e o filho, pouco verossímil, já que o coitado do pai fora ignorado até então.
Enquanto Seth Rogen parece interpretar muito bem ele mesmo (não pelo fato de o personagem ser inspirado no ator, mas porque suas atuações são todas iguais), Joseph Gordon-Levitt interpreta um homem comum, cujo charme é ser um homem comum. A performance de Levitt é fundamental para que compremos toda a ideia do filme e ele faz um belíssimo trabalho, conseguindo transmitir ao espectador a frustração, tristeza e desespero de seu personagem. Por fim, a jovem atriz Anna Kendrick, indicada ao Oscar recentemente por Amor Sem Escalas (2009), empresta seu carisma a Katherine, psicóloga de Adam. Katherine é, com certeza, uma das piores terapeutas que o cinema já viu. Por mais que seja pouco verossímil que uma profissional, mesmo que iniciante, seja tão incompetente, a relação da personagem e de Adam é conduzida de maneira delicada pelo filme, fazendo-nos acreditar num possível romance.
50% não é um grande filme e está longe de ser o melhor longa-metragem sobre o câncer. No entanto, esta boa comédia dramática conseguirá emocionar e arrancar algumas boas risadas de muita gente. Ao final, o filme se revela um retrato sensível da luta pela vida.
Vou assistir principalmente por contar com Bryce Dallas Howard no elenco...
ResponderExcluirLeonardo, vc nunca aparece... Vamos trocar idéias!
O Falcão Maltês
O engraçado é que eu não dava nada por esse filme. Foi uma das mais gratas surpresas do último ano!
ResponderExcluirO Filme é Ótimo, esperava que após a descoberta do câncer, Adam fosse viver a vida de forma mais ativa, como se não houvesse amanha... mas o grande acerto do filme é fazer justamente o contrário... Um detalhe importante do filme é o cão de Adam, uma vez que representa o estado físico do mesmo: doente, magricela, faminto... fome de vida... Uma das melhores atuações de J.G.Levitt. Recomendadíssimo!
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