segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Shame - 2011

Título original: Shame
Lançamento: 2011
País: Inglaterra
Direção: Steve McQueen
Atores: Michael Fassbender, Carey Mulligan, James Badge Dale, Hannah Ware.
Duração: 99 min
Gênero: Drama
Michael Fassbender, o ator do ano, em cena de Shame

No dia 22 de novembro, aconteceu a pré-estreia oficial de Shame em Paris. O longa-metragem levou o prêmio de Melhor Ator, no Festival de Veneza, este ano, e é apenas o segundo filme de Steve McQueen. O diretor inglês estreou nas telonas em 2008, com o excepcional Hunger. Uma sala gigantesca do MK2, grande rede de cinemas em Paris, ficou arrebatada de centenas de pessoas, a maioria delas ansiosas para ver um dos grandes astros do momento: Michael Fassbender. O ator, alemão de nascimento e irlandês de criação, aos 34 anos, estampa várias capas de revistas, lançou três filmes em 2011 e é considerado um dos maiores símbolos sexuais dos últimos tempos. Shame apenas reforça esse status.

O novo filme de McQueen conta a história de Brandon, um homem belo e desejado pelas mulheres, que cultiva um estilo de vida invejável em Nova York e que tem trabalho estável numa empresa de publicidade. Tudo estaria perfeito em sua vida, se não fosse por um detalhe: ele é viciado em sexo. Na entrevista realizada logo após a projeção do filme, Fassbender afirmou que, a princípio, não sabia  como encarar seriamente essa situação. Afinal, por que ser viciado em sexo seria, necessariamente, um problema? O maravilhoso roteiro de Steve McQueen e Abi Morgan, no entanto, nos leva às profundezas desse vício, nos revelando sua face mais deprimente e dolorosa. Para complicar, a irmã caçula do protagonista, Sissy (Carey Mulligan), que sofre de depressão e tem tendências suicidas, se instala no apartamento de Brandon, invadindo a vida e o espaço do irmão, que não sabe como lidar com a sua presença.

Cena inicial do filme
McQueen nos apresenta a dois personagens à beira do precipício, em uma situação extrema. A carente e problemática Sissy lança um pedido de socorro mudo e desesperado para o seu irmão, que a ignora.  Por mais que no fundo ele se preocupe com ela, Brandon não consegue demonstrar nenhum afeto pela irmã ou  por qualquer outra pessoa. Mas, afinal, qual a origem do vício do personagem? O que ele tenta sublimar através da sua compulsão sexual? De fato, pouco sabemos do passado dos dois personagens. Pouco nos é dito pelo filme. Só sabemos que, aparentemente, Sissy e Brandon só têm um ao outro e que a vida pregressa desses dois irmãos, provavelmente, não foi nada fácil. A moça diz em certo momento: "Nós não somos más pessoas. Só viemos de um lugar ruim". Shame é, então, um sensível estudo de personagens, que não procura fazer deles meras caricaturas de seres "problemáticos". O filme também não se interessa em justificar os atos de seus protagonistas ou mesmo lhes proporcionar um artificial final feliz. Cabe ao espectador formular suas hipóteses. 

Certos elementos encontrados em Hunger, podem ser vistos no novo filme de McQueen. Chamam a atenção o interesse pelos detalhes, a abundância de closes, os longos silêncios e o interesse pelo o que se repete. A frieza da câmera de McQueen esconde um vulcão que está prestes a entrar em erupção. Assim, a medida que o filme se desenrola, a história vai ficando dramática, até a irrupção do catártico último ato, o grande momento do filme. A direção, combinada com a qualidade das performances, nos proporciona um filme angustiante, profundamente triste e melancólico. 

Algumas cenas demoram a sair da memória, como aquela em que Brandon ataca sua irmã, após ela tê-lo surpreendido se masturbando no banheiro. É impressionante como McQueen brinca com nossas expectativas, transformando bruscamente o tom da cena. A princípio, parece  que estamos diante de lutinha entre irmãos. Sissy ri, como se finalmente pudesse ter um momento descontraído e de intimidade com Brandon, mas logo percebemos a agressividade do protagonista. O olhar de Sissy muda, tanto ela quanto o espectador percebem, subitamente, que não se trata de uma brincadeira. Brandon se sente coagido, no fundo, envergonhado de si mesmo. Ele não sabe como lidar com a vergonha que sente de sua compulsão e o título em inglês (Shame = vergonha) não poderia ser mais apropriado para a história. A presença de Sissy o faz confrontar esse sentimento.


Carey Mulligan canta New York, New York em cena do filme

O longa ainda deixa espaço para várias especulações. Por exemplo, o que teme Brandon com aproximação de sua irmã? Por que ele a rejeita tanto? Por que ele recusa qualquer contato físico com ela? Seria um possível medo do incesto? O filme nos permite essa leitura, ou mesmo, essa hipótese. Mas o que parece mais claro é que Brandon não consegue se relacionar afetivamente com mulheres, tudo passa pelo viés do sexo. No momento em que uma mulher se envolve romanticamente com ele, caso de Marianne (ótima participação de Nicole Beharie), ele não consegue consumar o ato sexual. Ele só consegue fazer sexo e é incapaz de fazer amor.

Michael Fassbender se entrega completamente ao papel. Uma entrega física e emocional. O ator protagoniza cenas de nu e cenas ousadas de sexo. Mas o que impressiona mesmo é a composição do personagem. Brandon é um homem calado, introspectivo, tímido a ponto de mal conseguir estabelecer uma conversa em um primeiro encontro. Sob essa superfície, encontra-se um indivíduo completamente atormentado, capaz de ser cruel, sórdido, vulgar, mas também capaz de se emocionar ao ouvir a irmã cantar pela primeira vez. Em uma das mais belas cenas do filme (ver foto abaixo), em que Brandon pede a Sissy para ir embora, a voz de Fassbender, carregada de ódio, é tão violenta quanto as coisas que ele diz para sua frágil irmã, interpretada por Carey Mulligan. A atriz é o perfeito contraponto de Fassbender. Ela encarna com extrema vulnerabilidade e sensibilidade a sua personagem, um ser perdido e carente. E uma grata surpresa: ela canta muito bem.


Cena digna de Oscar em Shame
Infelizmente, Shame só estreará no Brasil no ano que vem. O filme está cotado para algumas categorias do Oscar, sendo um dos favoritos a de Melhor Ator. Steve McQueen confirma ser um cineasta relevante, interessante e seu estilo é ao mesmo tempo sofisticado e visceral. 



Pôster francês do filme



11 comentários:

  1. Muito bom teu texto, me deixou mais ainda motivado - e instigado - a conhecer o filme. Confesso que sou fã de Fassbender, ele esteve excelente no JANE EYRE, procure esse filme, recomendo. Mulligan é uma atriz talentosa, gosto e aprecio. Acho que a sensualidade do filme tem tudo pra provocar, quero ver. Abs

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  2. Perfeito seu release.
    Estou tentando ajudar uma pessoa na mesma situação do filme,nós não acreditamos que existam ate se deparar com uma. E por incrível que pareça somos nós de fora disso que precisamos identificar a doença ate que a pessoa a aceite.
    Parece que nada é real e muitas pessoas debocham.
    Mas a realidade é bem difícil e triste.

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  3. Já vi o filme e devo dizer que o Michael Fassbender foi "roubado" por nem sequer ter sido indicado ao Oscar. "Shame" já é um dos 10 melhores filmes de 2012 e olha que o ano mal começou. Podem ir conferir que não irão se arrepender!!

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  4. VI ONTEM O FILME, ESPETACULAR, MICHAEL E CARREY ESTAO INCRIVEIS
    QUEM NAO VIU DE COM CERTEZA IR VER

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  5. Um beijo para Steve McQueen.
    Seu filme Shame é revolucionário.
    Pela primeira vez vejo na arte uma abordagem honesta e corajosa sobre dependência de amor e sexo.
    Não ligue para resenhas simplistas que dizem ser o filme sobre um homem bonito viciado em sexo.
    Não tem mais jeito, vamos ter que abrir os olhos , o coração e a mente para a questão da dependência de substâncias, pessoas , situações, emoções e diferenciá-las do vício.
    Esta é a chave para o desenvolvimento da humanidade neste seu novo estágio, que virá através da espiritualidade prática.
    Dependência nesse contexto, não substitui nescessidade e sim adicção. Adicto em grego significa escravo aquele que depende mas também aquele que esta a serviço de. Neste sentido, o filme fala sim, linda e honestamente sobre a impossibilidade de relacionamento contemporâneo entre seres que não estão à busca de troca, de complementariedade mas sim de preenchimento. A compulsão é mostrada como ele é. Uma válvula de escape irracional e profunda, não um mero hábito, uma força maior negativa que impele o ser à sua maior degradação, humilhação mas que também tem seu gozo. Outro conceito interessante aqui , muito bem ilustrado o gozo, dissociado do prazer. O ser íntegro coloca o sexo, o amor, o consumo a seu serviço e em grau mais elevado a serviço do bem comum, essa é a fonte verdadeira da plenitude, Tudo que buscamos para satisfazer um vazio interior profundo, é como uma droga, começa no êxtase e depois vem cobrar seu preço. Parabéns Steve, seu filme não é fácil, mas é muito inteligente e inovador. Austeridade, se contrariar , buscar a santidade, dizer NÃO é tarefa árdua e infinita mas quem não à abraçar...Reconhecer a impotência, a falitude humana é o primeiro passo. Depois vem a ralação...24 horas orando e vigiando.

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    1. Um beijo para Steve McQueen e para você também, anônimo.
      Ainda não assisti o filme. Pretendo assistí-lo hoje ou nesse fim de semana.Meu marido está fazendo terapia ( psicodrama) e tratamento psiquiátrico. Mas ele não reconhece a dependência. Ele é terapêuta Rechiano, nunca exerceu como profissão, mas, estudar essa terapia reforçou nele a dependência, e ele não sente vergonha de ter várias amantes em cada lugar que trabalha, de paquerar mulheres inclusive em missas de cura e libertação ou em qualqquer lugar que esteja. Há três, dias ele disse aos berros alegando que era injusta a "acusação"de que ele tinha amantes e disse: "faz tempo que não tenho amantes são só prostitutas".E essa é a parte mais complicada, ele encontrou uma forma de negar que isso traz para ele qualquer sofrimento, que isso o impede de viver plenamente. Ele se contenta com esse "mundo"que ele criou. Não temos amigos( dá para imaginar o comportamento dele com minhas amigas), ninguém frequenta nossa casa, nossas famílias moram longe. E ele acha isso tudo normal, porque facilita a dependência dele. Se ele é agressivo, sim, mas não fisicamente, e sim psicologicamente, ele dissimula quando converso sobre o assunto e se choro ou me irrito, ele ri.
      O sacerdote me pediu para ficar ao lado do meu marido porque ele é doente, mas eu não vejo disposição dele para querer tratar essa doença.
      Estamos participando do ministério de música em uma paróquia. Eu não deixei de buscar Deus, sempre buscando a conversão, a cura, a misericórdia de Deus. Mas para a igreja e a família, ele faz o marido fiel, a serviço de Deus, acolhedor, amável, de causar inveja em outras esposas de tão bom que é, a ponto delas desqualificarem os maridos dando como exemplo o meu marido( eu não me espanto, afinal,ele me convenceu também) a ponto do sacerdote dessa paróquia nos convidar para participarmos do curso de noivos, porque temos muito a testemunhar, e como meu marido é médico, isso era ainda mais importante, porque poderia contribuir muito para dar testemnho e explicar sobre vários aspectos da vida matrimonial dentro da doutrina católica. O sacerdote ainda falou, que o que via em nós como casal, não via na maioria dos casais. O Sacerdote ia falando e eu queria chorar de tanta tristeza. Meu marido todo animado, com o ego nas alturas ( pelo sucesso na interpretação do papel que encenou), aceitou. Eu quis dizer não, mas pelas condições, perguntei se poderíamos pensar. Isso foi um dia depois do fato que relatei logo acima, sobre prostitutas. Chegamos em casa e conversamos, mas ele não sente culpa em enganar as pessoas, ele sente que está sendo recompensado quando elas acreditam na farsa.
      Não aceitamos o convite, mas a imagem de marido exemplar continua, e ainda mais reforçada, porque ficou claro que eu é que não quis "servir" a igreja. Que doença infame, quanto sofrimento, quanta tristeza. O que fazer?
      Tudo o que você disse : "austeridade, se contrariar, buscar a santidade, dizer não, reconhecer a impotência, a falitude humana e a ralação 24 horas por dia orando e vigiando", foram recomendações que o sacerdote, que pediu para eu ficar ao lado do meu marido, fez a ele. Só que meu marido fingiu que doía nele essa condição , por exemplo, dizendo a esse padre: "tem 13 anos que eu transmito DST para minha esposa, eu não aguento mais", com olhos lacrimejando e voz entrecortada, o sacerdote acreditou e recomendou que ele aprendesse a Liturgia das horas, e a fizesse como os padres fazem, e que ele, meu marido, se colocasse na presença de Deus 24 horas por dia. Meu marido escutou "atentamente"as recomendações, "quase aos prantos", mas não reza nem as Laudes, nem as Vésperas, quem dirá as demais. O que Deus quer de mim? Eu pergunto todos os dias. Eu estou rezando a Liturgia das Horas, mas agora estou rezando por mim, pelo discernimento e a sabedoria e os dons que Deus sabe que eu preciso para fazer a vontade DEle. Desabafos a parte. Anônimo, foi muito bom ler o que você escreveu, obrigada.

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    2. Poderia por gentileza entrar em contato comigo. Estou destruida por amar alguem com esse problema... Talvez possamos trocar experiencias. Só quem já passou sabe o quanto é doloroso e degradante...rosas.naofalam@hotmail.com.br

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  6. D.A.S.A- Dependentes de amor e sexo anônimos.
    Procure o site

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  7. Adorei a crítica ao filme! O filme é brilahnte, um verdadeiro estário de quadros terpeuticos.

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  8. Acabei de assitir;
    Obra-prima.
    Está entre os melhores filmes que eu já vi.
    PArabéns também ao site pela resenha do filme, perfeito.

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  9. Acho o filme completamente patético,incompreesivel,aberrante e morbido.Nao passa de uma sequencia de imagens de sexo semi pornografico sem nenhum argumento valido.Nao conta nenhuma historia ,nao é construtivo,enfim pessimo.Pessoas normais deviam recusar _ se a consumir estas chaladices.

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