segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Minha primeira crítica - Dogville (2003)

Em uma daquelas arrumações radicais, que de vez em quando a gente se propõe a fazer, encontrei um caderno que continha o que pode ser considerada a minha primeira crítica cinematográfica. Tinha quase 16 anos quando a escrevi. Ela foi inspirada pelo impacto que o filme Dogville (2003), de Lars Von Trier, teve sobre mim. A descoberta deste texto me foi muito grata e mesmo emocionante. Na época, apesar de já ser um cinéfilo convicto, não tinha a pretensão de ser crítico. Compartilho esse texto com vocês:

Há filmes que vemos e logo esquecemos e outros que nos marcam para a vida inteira. Isto é o que se pode dizer de Dogville que conta com a direção poderosa e ousada de Lars Von Trier. O filme, já à primeira vista, apresenta uma inovação estética, pois todo cenário é composto apenas por riscos no chão e alguns objetos e móveis. Esse "detalhe" gera um grande estranhamento, além de tornar a obra muito mais teatral. Os diálogos e atuações ganham, assim, mais importância e a "ausência" de cenário deixa muita coisa por conta da nossa imaginação.

Nicole Kidman interpreta Grace, bela moça, que, fugindo de gângsteres, acaba parando em um Dogville, pequeno lugarejo. Para ser aceita e não ser denunciada, Grace deve prestar inúmeros favores aos moradores, que logo passam a explorá-la. A narração é feita por John Hurt, que consegue, com uma pitada de ironia, desvendar a alma dos moradores, nos confidenciando suas fraquezas e seus segredos.

O elenco é primoroso, mas o maior destaque é mesmo Kidman que com todo seu talento e carisma, faz com que nos importemos com o destino de Grace e soframos com ela. E por falar em sofrer, Lars Von Trier está se tornando mestre em "torturar" o espectador. Depois de nos fazer derramar rios de lágrimas no belo Dançando no escuro, dessa vez ele nos aterroriza com a crueldade humana, representada pelos atos dos moradores de Dogville.

Dogville é um retrato pessimista, mas talvez realista da natureza humana. Intenso, assustador e comovente, o filme é uma das obras mais interessantes que o cinema nos proporcionou nos últimos anos.

Texto escrito em 2004.

Um comentário:

  1. Um retrato pessimista, mas bem realista da natureza humana. Vi Dogville com minha mãe e a cada minuto ela pedia pra eu pausar o filme para ela lavar ou rosto, ou ela dormiria. É um padrão muito diferente dos filmes, ainda mais sob influência do Dogma 95 de von Trier, mas que vale a pena no fim da sessão. Um filme teatral que fala muito mais do que várias obras cinematográficas atuais.
    Abraços, e bacana o teu texto, não posso concordar mais com o parágrafo final.

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