sábado, 9 de julho de 2011

Homens e Deuses - 2010

Título original: Des Hommes et des Dieux
Lançamento: 2010 
País: França
Direção: Xavier Beauvois
Atores: Lambert Wilson, Michael Lonsdale, Olivier Rabourdin, Philippe Laudenbach.
Duração: 122 min
Gênero: Drama

"Deixe passar o homem livre!"


Cena de Homens e Deuses, que conta com a bela fotografia de Caroline Champetier

Homens e Deuses foi o filme selecionado pela França para disputar o Oscar de 2010. Curiosamente, o filme não conseguiu ficar entre os cinco finalistas, mesmo tendo todos os atributos que a Academia costuma apreciar. Ele foi premiado, no entanto, com o grande prêmio do júri em Cannes e ganhou três prêmios Cézar. O filme de Xavier Beauvois se passa em 1996 e conta a história verídica de oito monges franceses, residentes em um monastério de uma pequena vila na Argélia, que vêm sua rotina perturbada pela ação de terroristas. O grupo radicalista promoveu diversos atos bárbaros contra a população local. Formado por fundamentalistas islâmicos, tal grupo não hesitava em promover assassinatos daqueles que se opunham a eles. 

O roteiro, escrito por Etienne Comar e Xavier Beauvois, adota a perspectiva dos monges, pessoas não envolvidas politicamente no conflito. Por isso, os terroristas não são mostrados como monstros, apesar das barbaridades que cometem. Um deles é inclusive capaz de um ato de extrema civilidade e respeito em determinado momento da trama. O exército oficial também não é visto com simpatia, apesar de oferecerem, a princípio, proteção aos monges. O filme não é panfletário, nem se propõe a eleger mocinhos e bandidos, afinal a questão é muito mais complexa do que se pode imaginar. Como um dos personagens afirma, a situação da Argélia é, em grande parte, consequência de uma colonização violenta, que deixou uma herança de ódio e intolerância.

O filme acompanha o cotidiano dos monges, assemelhando-se, muitas vezes, a um documentário e a um big brother do monastério. O longa presenteia o espectador com belíssimos planos de  paisagens do Marrocos (onde foi filmado), mas também mostra a intimidade, os ritos e os pequenos detalhes da rotina dos religiosos. A espiritualidade dos monges é explorada em sequências contemplativas que poderiam ser enfadonhas, mas que se revelam emocionantes. Um grande êxito do longa encontra-se justamente no olhar minucioso com o qual revela a fé dos protagonistas em pequenos e grandes gestos do dia-a-dia deles. Outro mérito da produção é a maneira com a qual a relação entre monges é construída. É comovente o carinho com o qual os religiosos, a maioria idosos, se tratam e a devoção que eles têm pela missão de servir a Deus.

O filme acerta ao mostrar que os monges também têm suas dúvidas e momentos de fraqueza. Os personagens se mostram dignos de admiração por passarem por um processo de superação do medo. É com muita delicadeza e sensibilidade que os personagens são encarnados por seus respectivos intérpretes. Lambert Wilson, Michael Lonsdale, Olivier Rabourdin, Philippe Laudenbach, Jacques Herlin, Loïc Pichon, Xavier Maly e Jean-Marie Frin têm performances que se complementam, em um trabalho de elenco sensacional. Algumas cenas são particularmente marcantes pela força da atuação dos atores, como a da última votação e a fantástica cena em que os monges ouvem o "Lago dos cisnes". Esta cena emocionante e magistralmente dirigida mostra a transformação das expressões dos personagens e carrega, de certa forma, um tom premonitório. 

Contando ainda com uma fotografia belíssima, Homens e Deuses é um filme emocionante e uma bela homenagem a homens que foram exemplos de fé e perseverança. O filme francês é o retrato da fé verdadeira e da prática dessa fé, independente de rótulos religiosos.

Assista ao trailer:






Nenhum comentário:

Postar um comentário