sexta-feira, 18 de março de 2011

Darling - 1965


Darling é um filme longo, bem longo... em suas duas horas de duração. Longo porque fala do vazio, é uma não-história. Concentrando-se em um estudo de personalidade mais do que em uma trama propriamente dita, o filme acompanha as desventuras de uma personagem egocêntrica, imatura, ambiciosa, frívola, egoísta, indecisa... e lá se vai uma série de adjetivos pouco lisonjeiros. Diana Scott, a "darling" do filme, que no Brasil saiu com o subtítulo no mínimo irônico "a que amou demais", é uma mulher que não sabe o que quer, mas que sabe que quer muita coisa. Falo mal dela, mas na verdade é uma personagem extremamente interessante porque mostra todas as incongruências humanas. Assistimos, durante duas horas, a tentativas dessa mulher de se tornar algo, mas ela constantemente se boicota, ignorando completamente o que sente. Devo estar dando a impressão de que não gostei do filme... pois bem: ele é fantástico!

Para começar, a abertura de Darling exibe um outdoor com uma imagem de africanos passando fome, sendo substituída por um luxuoso anúncio publicitário que tem a protagonista em destaque. Essa é uma metáfora recorrente na produção, que de certa forma nos informa: esse filme mostra a superficialidade em seu máximo... O filme inglês tem um diálogo com o clássico italiano A doce vida, de Fellinni. Ambos retratando um grupo de pessoas ricas, narcisistas, artificiais, vazias e entediadas com a própria existência. O diretor John Schlesinger olha com uma ironia mordaz para os tipos que apresenta e sua direção é genial, inteligente, extremamente elegante e sensível... O filme é um colírio para os olhos, com planos e enquadramentos belíssimos e uma fotografia em preto e branco maravilhosa. 

Diana Scott é interpretada por Julie Christie, no papel que lhe rendeu o Oscar. É uma grande interpretação, em um filme que também é uma homenagem a sua beleza. A produção foi lançada no mesmo ano em que o  famoso épico Dr. Jivago, filme que rendeu à atriz fama mundial. Dois outros atores se destacam: os fantásticos Laurence Harvey (que tem ótimas frases ácidas no filme) e Dirk Bogarde (em uma bela atuação). Darling possui cenas maravilhosas, como a sequência de um strip-tease enraivecido em uma mansão italiana e um jogo bizarro em uma festa em Paris. 

Darling talvez te deixe tão entediado quanto sua protagonista... para mim, foi a descoberta de um cinema elegante e cínico.

Veja as belas fotos do filme:

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