sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Dama de Ferro - 2011

Título original: The Iron Lady
Lançamento: 2011 
País: Reino Unido
Direção: Phyllida Lloyd
Atores: Meryl Streep, Jim Broadbent, Richard E. Grant, Anthony Head.
Duração: 105 min
Gênero: Drama/Biografia

Margaret Thatcher (a original) e sua versão cinematográfica (Meryl Streep)

Após assistir A Dama de Ferro, é inevitável se perguntar: o que Margaret Thatcher (sim, ela está viva) pensaria ou pensou sobre sua cinebiografia? Será que ela a viu? Poucos notáveis tiveram o privilégio de verem suas próprias vidas retratadas nas telas do cinema. No caso de Thatcher, a palavra "privilégio" revela-se no mínimo irônica e, sinceramente, espero que essa senhora de 86 anos não tenha tido que passar pela provação de assistir a tal "homenagem". Sobretudo, parece-me estranho que a ex-primeira ministra britânica não tenha ordenado uma intervenção militar quando foi anunciado que a diretora de Mamma Mia! (2008) encabeçaria o projeto A Dama de Ferro. Minha reação face à notícia (lembro-me como se fosse hoje) foi de medo, um medo digno do período da Guerra Fria, retratado no filme. Uma das grandes figuras políticas do século XX merecia mais consideração. Brincadeiras a parte, é difícil estabelecer qual dos dois longas-metragens de Phyllida Lloyd deixa mais a desejar. Mamma Mia!, sua estreia no cinema, foi um imenso sucesso de público, apesar de eu não encontrar outra palavra além de "constrangedor", para descrever o alegre musical (que me perdoem os fãs de ABBA). Ao contrário de A Dama de Ferro, o filme de 2008 não se levava suficientemente a sério, o que faz dele, provavelmente, um fracasso menor.

Muitos já antecipavam que uma cinebiografia de Margaret Thatcher daria o que falar, afinal a ex-primeira ministra sempre foi cercada de polêmicas, dividindo a opinião pública. Não foram poucos os que atacaram o filme de Lloyd, alegando que o mesmo fazia um retrato pouco lisonjeiro de Thatcher, enquanto outros afirmavam o contrário, que o longa suavizava o caráter da grande líder. Um maior consenso parece girar em torno do pouco apego da roteirista à realidade histórica. De qualquer forma, este não é o primeiro nem será o último filme a fazer uso da "licença poética" e bons filmes, por sinal, já a utilizaram. A questão mais delicada, a meu ver, é de cunho ético e tange à maneira com que Thatcher é mostrada nos dias de hoje. Retratá-la como uma mulher à beira da esclerose e da demência, pode ser visto como um ato de extrema insensibilidade, já que Thatcher está viva e provavelmente enfrenta todas as dificuldades que a idade avançada lhe traz. Além disso, será que esse momento frágil de sua vida é realmente relevante? Será que é assim que ela quer ser lembrada?  O ato de contar a vida de uma pessoa real suscita interessantes reflexões a respeito da existência ou não de uma responsabilidade por parte do autor.



Qual é a estratégia cinematográfica mais comum em uma biografia? O flashback. Phyllida Lloyd não foge do convencional e constrói um filme que agencia retornos a diferentes estágios do passado da protagonista, em oposição ao presente da mesma, ponto de partida da história. Tais flashbacks são suscitados pelas lembranças de Thatcher (Meryl Streep). O fraco roteiro de Abi Morgan (que, em compensação, escreveu o ótimo Shame), inicia revelando uma Thatcher que em nada lembra a imagem da líder austera, inflexível e poderosa. A escolha de apresentar a personagem já idosa e vulnerável, não é de todo desprovida de sentido, já que a roteirista opta claramente por humanizar a personagem e desconstruir a imagem unidimensional que o mundo tem da figura histórica. Aplausos pela intenção. No entanto, o roteiro erra ao fazer da protagonista uma figura decrépita, próxima do ridículo que, inclusive, fala com o “fantasma” do marido morto (e me pergunto de onde Morgan tirou essa ideia).

O roteiro de Abi Morgan se revela confuso já pelas suas intenções. Se por um lado, a roteirista parece promover a humanização da personagem principal, mostrando seu presente decadente, ela investe paralelamente na heroicização da mesma, ao mostrar a trajetória política de Thatcher, para ao final tentar pintar um retrato menos elogioso. A soma de tudo isso dá um carnaval sem precedentes: Margaret Thatcher é ao mesmo tempo uma velha senil que conversa com um fantasma, uma Norma Rae que luta contra a supremacia masculina no mundo político e uma megera dominadora e inflexível. Quem, afinal, foi (e é) Margaret Thatcher?



Cedendo aos clichês do gênero, Phyllida Lloyd recheia seu filme de “momentos inspiradores”, fazendo de sua Thatcher, mais do que um exemplo de superação, uma fonte de sabedoria e uma discípula disfarçada de Sun Tzu (autor de A Arte da Guerra). A protagonista, por sinal, é uma figura que tem sempre uma máxima, uma frase de efeito a dizer. Mas Lloyd revela sua fragilidade como diretora também de outras formas. Ela, por exemplo, insiste em enfatizar que a personagem principal conseguiu penetrar num universo masculino. Como se não bastasse o plano em plongée (de cima para baixo), em que vemos a protagonista "engolida" pela multidão de homens, a diretora cria uma sucessão de outros planos para manifestar a mesma ideia do "estranho no ninho". Repetitiva e nada sutil, Lloyd ainda nos proporciona momentos mais embaraçosos, como em certa cena de reunião, onde a câmera parece ter vida própria. Outro tropeço da diretora é o de incluir cenas de arquivo no longa de maneira pouco orgânica à narrativa, salientando ainda mais a artificialidade da história.

E Meryl Streep (alguém pode se perguntar)? Ela não salva o filme? A atriz, recordista de indicações ao Oscar, prova mais uma vez que é uma camaleoa. Assim como no mediano Julie & Julia (2009), Streep faz um trabalho de composição impressionante. Nota-se (o que talvez não seja tão bom) que ela teve um trabalho de pesquisa aprofundado e que ela tentou captar em sua atuação o modo de falar, a postura e os maneirismos de Margaret Thatcher. Sua interpretação é magnética, principalmente quando interpreta Thatcher mais velha. Como trata-se de uma atuação "muito construída", talvez exista algo de artificial nela, que crie certo distanciamento. Pode ser que a qualidade medíocre do filme atrapalhe a atriz na corrida pelo seu terceiro Oscar. Viola Davis, sua principal adversária (e que deveria concorrer como coadjuvante), tem uma performance mais tocante em Histórias Cruzadas (2011), sem a armadura da caracterização de Streep, e seu filme teve uma recepção muito melhor que A Dama de Ferro, o que pode beneficiá-la.



O elenco de A Dama de Ferro é composto em sua maioria por atores ingleses (Streep é, obviamente, uma exceção). Ao fantástico Jim Broadbent cabe o ingrato papel de Dennis Thatcher, marido-aparição da protagonista, que pode ser considerado um dos "fantasminhas" mais inconvenientes do cinema. Bobo e sem-graça, o personagem é infantilizado pelo roteiro e o ator inglês pouco pode fazer para melhorá-lo. Alexandra Roach, que interpreta a jovem Margaret, e Olivia Colman, que interpreta a filha, têm ótimas participações.

Se a direção de arte e o figurino do filme merecem elogios, a trilha sonora do mesmo é um pequeno desastre, revelando-se previsível e piegas (o que dizer da cena de renúncia de Thatcher ao som de uma ópera exageradamente dramática?). Indicada merecidamente ao Oscar, a maquiagem do longa é fenomenal. Formulaico e convencional, A Dama de Ferro não faz jus à importância da personalidade que retrata e, talvez, até mesmo a embarace.



Veja a verdadeira Margaret Thatcher e compare com o trabalho de Meryl Streep:



Trailer do filme:



6 comentários:

  1. Não vi o filmei, mas amei sua crítica! O filme parece ser uma bomba mesmo.

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  2. Ri muito com a sua crítica!!! Parabéns! Meryl Streep é maravilhosa, mas tem escolhido uns filminhos...

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  3. A crítica realmente foi direta e no ponto! O tema seria uma oportunidade para um grande filme, não fosse o roteiro confuso e perdido. A caracterização de MT jovem não convence, apesar da atriz ser muito boa. Não há força na personagem ou algo que indique o potencial da futura grande líder. Posterior a isso, não há também no roteiro uma costura que faça crível o desenvolvimento de MT. Meryl Streep não salva mesmo o filme, ela SE salva de forma brilhante e, mesmo com a constante exploração de seus discursos repetitivos e sem uma contextualização coerente, é preciso valorizar o trabalho incrível dela. Pode até não ganhar o Oscar, mas se isso acontecer, não será desmerecido.

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  4. O filme é médio, mas a interpretação de Streep é fabulosa (como sempre).

    O Falcão Maltês

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  5. gostei muito da sua criticanão era á toa que essa senhora era chamada de "dama de ferro" Margareth Thatcher,
    era sim uma "megera dominadora e inflexivel" a ponto de não ouvir os menos favorecidos e ser a responsavel pela morte de inumeros soldados que tão jovens morreram pela desumanidade dessa senhora fria e a meu ver um "monstro insensivel vestindo saias", ´sensibilidade ou a falta dela nada tem a ver com o sexo feminino ou masculino (isso é rótulo que a Sociedade impõe) assim como existiram lideres inflexiveis homens tambem há mulheres assim , e Meryl Streep parece trazer nas veias esse lado "frio inflexivel" ela não é uma grande atriz porque sabe interpretar , mas a meu ver ( de mulher e psicóloga que sou) Meryl parece carregar isso em sua própria personalidade, no filme o diabo veste Prada, Meryl se mostra que nasceu para ser uam senhora muito megera qu quer o mundo a seus pés, sou uam jovem psicóloga e não é dificl para mim saber separar o personagem do ator, mas muitas vezes eu vejo ambos se fundirem num só, por isso fico satisfeita em poder participar de seu blog !

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  6. amei o filme muito bom gostei

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