Título original: We need to talk about Kevin
Lançamento: 2011
País: Inglaterra, Estados Unidos
Diretor: Lynne Ramsay
Atores: Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller e Jasper Newell
Gênero: Drama
Lançamento: 2011
País: Inglaterra, Estados Unidos
Diretor: Lynne Ramsay
Atores: Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller e Jasper Newell
Gênero: Drama
Tilda Swinton protagoniza Precisamos falar sobre Kevin |
Precisamos falar sobre Kevin é o terceiro longa-metragem de Lynne Ramsay. Assim como Andrea Arnold, de Fish Tank (2009), Ramsay é uma diretora inglesa, com uma filmografia ainda curta, mas bastante respeitável. Seus dois filmes anteriores, Ratcatcher (1999) e Movern Callar (2002) receberam diversos elogios da crítica e foram lembrados em algumas premiações importantes, como o BAFTA. Neste ano, a diretora voltou com tudo, após um hiato de 9 anos desde o seu último projeto no cinema. Seu filme, Precisamos falar sobre Kevin é a adaptação do romance de mesmo nome da escritora americana Lionel Shriver, publicado em 2003. O filme é protagonizado por Tilda Swinton, recentemente indicada, por este trabalho, ao Globo de Ouro e ao SAG de Melhor Atriz. A já oscarizada atriz inglesa é uma das favoritas ao Oscar 2012.
O filme conta a história ficcional de um massacre realizado numa escola americana sob a perspectiva da mãe do adolescente assassino. O longa-metragem se inicia com um travelling em direção a uma janela, culminando em uma impactante tomada em plongée, que revela uma multidão de pessoas se atracando, imersas em um líquido vermelho. A janela, com seu balançar de cortina fantasmagórico, é o portal para uma outra temporalidade. A imagem dos corpos se assemelha a uma pintura apocalíptica. Trata-se, na verdade, da Tomatina, popular festa espanhola, que consiste no arremesso de tomate entre as pessoas. A alegria das mesmas contrasta com a aura de pesadelo da cena. No meio da multidão, aparece Eve (Tilda Swinton) que, em certo momento, se encontra mergulhada no suco vermelho do tomate.
Nesta impressionante primeira sequência, Ramsay já estabelece alguns dos artifícios que utilizará ao longo do filme, a começar pela passagem fluida entre diferentes temporalidades. O longa-metragem é construído em uma alternância constante entre passado e presente, que visa reconstituir a relação de Eve e seu filho Kevin, desde a gestação, assim como mostrar a realidade da mãe após a tragédia. O uso dos flashbacks não é, no entanto, regular. Se no início da trama, temos um equilíbrio entre passado e presente, já a partir da metade do filme, temos uma clara predominância do passado. Outra estratégia do longa, lançada nesta primeira sequência, é a utilização do vermelho. O filme faz um uso magistral desta cor, que é carregada de uma força simbólica impressionante. A óbvia relação entre o vermelho e o sangue, revela a culpa da Eve pelos atos do filho. O vermelho/sangue é uma mancha perene na vida da personagem.
Caracterizar a relação de Eve e Kevin como complexa é, ao mesmo tempo, um eufemismo e uma redundância. Durante a gestação vemos o desconforto de Eve e sua infelicidade com a gravidez. Após o nascimento do garoto, percebemos o semblante mortificado de Eve, como se a criança fosse indesejada, o que contrasta com a felicidade do pai. Desde bebê, Kevin parece ser dotado de um talento único para atormentar sua mãe (vingança por não ter sido desejado?). Eve é uma mulher do mundo, o que é mostrado, por exemplo, pelo fato dela fazer um quarto decorado apenas com mapas. O casamento e o nascimento do filho a obrigaram a se fixar em um só lugar. Talvez sua frustração tenha atingido de alguma forma a criança. Esta seria uma forma de explicar o instinto maligno de Kevin. O filme, no entanto, nos permite também acreditar que o menino seja, simplesmente, um ser cuja maldade carece de motivos. Um tipo de personagem de filme de terror, uma criança maldita.
Ramsay também insiste na identificação entre Eve e Kevin. A diretora explora brilhantemente a semelhança física entre eles. Existe, no entanto, algo que une esses dois personagens e que ultrapassa a aparência. Eve é a única pessoa capaz de enxergar em Kevin o monstro que ele efetivamente é. Mas será que existe algo de monstruoso nela também? Ela se mostra capaz de suas pequenas doses de maldade, como nos é mostrado no filme. E não é completamente absurdo afirmar que, provavelmente, a única pessoa que Kevin ame de verdade seja a mãe e que tudo o que ele fez e faz seja para chamar a atenção dela.
Tilda Swinton é, sem dúvida, uma das atrizes mais interessantes do cinema atual. Ela se destaca tanto por sua aparência incomum, quanto pelo seu imenso talento e mesmo pelos projetos que escolhe. Em mais uma atuação brilhante, Swinton nos comunica toda a culpa, a inadaptação, a incompreensão e o sofrimento de sua personagem. Não é uma performance explosiva, pelo contrário, trata-se de uma atuação contida, silenciosa, que, no entanto, faz ecoar a humanidade de Eve. A força do olhar e expressão de vazio da atriz é algo impressionante. Merecem destaque também os atores que interpretam Kevin. Jasper Newell está excelente ao interpretá-lo em sua fase criança, dos 6 aos 8 anos. Já Ezra Miller, que se incumbe da fase adolescente, pode ser considerado uma das grandes revelações do ano. Sua performance é soberba e assustadora. A fotografia é essencial para a construção do universo inquietante do longa e a montagem é igualmente bem-sucedida.
Precisamos falar sobre Kevin não é apenas a história de um psicopata ou de um massacre. É a história do mistério que envolve a criação de um monstro. É a participação de uma mãe numa tragédia anunciada desde o nascimento do filho. É a história do amor e da culpa maternal. Em suma, um grande filme.
Precisamos falar sobre Kevin não é apenas a história de um psicopata ou de um massacre. É a história do mistério que envolve a criação de um monstro. É a participação de uma mãe numa tragédia anunciada desde o nascimento do filho. É a história do amor e da culpa maternal. Em suma, um grande filme.
O jovem Ezra Miller interpreta Kevin e é uma das grandes revelações do ano |
A expressão de desolação (ou mau pressentimento) da mãe e a alegria do pai pelo nascimento de Kevin |
Clique aqui e assista ao trailer
Foi um dos melhores livros que eu li esse ano, e nem preciso dizer que estou ansioso pelo filme depois do seu texto e de tanta expectativa. Chego até a dizer que Precisamos Falar Sobre o Kevin é o filme que eu mais estou aguardando atualmente.
ResponderExcluirABraços!
livro incrível.Palvra de uma professora de literatura.
ResponderExcluirPor favor, conserte a palavra...palavra acima.Obrigada.
ResponderExcluirGostei da sua crítica!
ResponderExcluirGostei muito do filme: aterrador e interessante.
O terror do filme é outro, é uma rejeição e um afrontamento sutis, lento e muito cruel. Taí, crueldade é uma palavra que marca o filme, e é tão provocador que Eva não resiste e cede algumas vezes à ela e faz parte do jogo de Kevin.
Nota 10.
MInha análise completa está no blog: http://eoqueeupensodosfilmes.blogspot.com/
Ah, e indiquei a leitura da sua crítica lá! rs
ResponderExcluirGostei muito do clima de suspense e horror (sim, horror) que o filme consegue proporcionar.
ResponderExcluirE adorei também a frase de 'Kevin' para sua mão dizendo que "o propósito é não ter propósitos"
Quando a frase "o propósito é não ter próposito " essa frase trasmite claramente que Kevin é uma pessoa totalmente sem limites e obsecada pela maldade .Seu olhar dissimulado e frio ,mostram uma pessoa com a face oculta do terror.`E incrivel como no final do filme ele sai do colégio com a fisionomia clamurosa como se "transmitisse a frase exposta no começo da minha critica,"o propósito é não ter próposito " .
ResponderExcluirMinha opinião não é de um sociopata como muitas pessoas dizem, mais sim a de um psicopata . O convivio com sua mãe aponta sinais de uma criança anormal de aparência enfretaticia ecomportamento seriamente dignos de um "psicopata".
Finalmente alguem que entendeu o filme. Ele é um psicopata e não precisa de motivo para praticar o mal, na verdade o prazer dele é fazer isso.
ExcluirÉ repugnante ler tirinhas de pessoas mal informadas e que não tenham a mínima capacidade de interpretação de um bom livro ou um texto. No livro de Lionel Shriver, é debatido com ferocidade a questão que intriga os observadores do comportamento do moderno. A absorção do conhecimento do mundo contemporâneo produz nas mentes jovens e ansiosas, um profundo repúdio a alienação e a futilidade que tomou conta das últimas gerações. O que os observadores devem discutir, que é a proposta da autora, é a questão: Kevin é genuinamente perverso ou possui uma psicopatia? É óbvio que seu comportamento é produto de uma mãe castrada e inexpressiva. Vide exemplo, quando Kevin defeca em suas calças e afronta sua mãe numa espécie de pirraça infantil. Esse comportamento, que para muitos é bizarro e pitoresco (pessoas mau informadas), é muito comum em crianças. Quando Kevin se dirige a sua mãe, no reformatório, a lembrando do episódio em que ela quebra seu braço num ato de violência, o mesmo diz: "Foi a coisa mais honesta que você já fez!" Eva é uma mulher sonsa e frígida. Já Kevin, é fácil de ler, um puro psicopata.
ResponderExcluirO ponto central da historia é: um filho extremamente frio, e a mãe amendrotada, insegura, inerte, e talvez bondosa e boba demais, que não consegue reagir com firmeza e aplicar autoridade sem dó. A história retrata isso, um filho frio, manipulador, inteligente que percebe a mãe frágil e boba que tem, e que se transforma no seu brinquedinho de manipulação e diversão. A mãe inerte talvez pela tristeza e decepção ao perceber o filho muito diferente. A criança de natureza mais primitiva e animalesca precisaria de ser bem domesticada, adestrada e condicionada dentro de uma educação rigida (que não quer dizer castigos fisicos) para poder ter condiçoes mínimas de se sociabilizar.
ResponderExcluirEsse filme retrata a realidade da rejeição, ainda no ventre e a ausência do papel do pai,pois na sociedade de hoje o ambição profissional fala mais alto, e os pais às vezes fazem vistas grossa a certas atitudes das crianças, esquecendo que existem especialistas que podem ajudá-los e com isto evitando traumas e consequências como as do filme.
ResponderExcluir