terça-feira, 15 de novembro de 2011

Tudo pelo poder (2011)

Título original: The Ides of March
Lançamento: 2011
País: Estados Unidos
Direção: George Clooney
Atores: George Clooney, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Evan Rachel Wood.
Duração: 101 min
Gênero: Drama
Estreia prevista para 23 de dezembro de 2011

George Clooney e Ryan Gosling

Após o bem-sucedido Boa Noite e Boa Sorte (2005), George Clooney dirige mais um filme político, acumulando também as funções de ator e de roteirista (ao lado de Grant Heslov e Beau Willimon). Tudo pelo poder revela os bastidores das primárias democratas, responsáveis por escolher o candidato do partido para as eleições presidenciais. Para ser eleito o candidato oficial, os pré-candidatos devem acumular o maior número de vitórias em prévias realizadas em diferentes estados norte-americanos. Se Boa Noite e Boa Sorte se passava no início dos anos 50 e retratava o período marcado pelo macarthismo, Tudo pelo poder é ancorado nos dias de hoje e, mesmo não sendo baseado em acontecimentos verídicos, parece expor as engrenagens por trás de campanhas políticas atuais. 

O quarto filme de George Clooney como diretor é centrado em Stephen Meyers (Ryan Gosling), jovem talentoso e idealista que trabalha como acessor de imprensa na campanha do governador Mike Morris (George Clooney). Encabeçando a equipe de Morris,  temos o experiente Paul Zara (Philip Seymour Hoffman), que se opõe a Tom Duffy (Paul Giamatti) diretor da campanha do candidato adversário. Inteligente e promissor, Stephen vê em Morris o homem ideal para assumir a presidência dos Estados Unidos. Suas convicções são, no entanto, postas à prova  à medida que jogos políticos se desenrolam. Paralelamente ao planejamento de estratégias e de marketing político, Stephen acaba por se envolver com Molly (Evan Rachel Wood), uma estagiária de 20 anos; o que eventualmente irá afetar a campanha. 

Tudo pelo poder se divide em acertos e alguns tropeços. A escalação do elenco masculino é um dos pontos fortes do filme. Ryan Gosling é um dos melhores atores de sua geração e nos oferece, mais uma vez este ano (ele está excelente no inesquecível Drive), uma performance sólida e interessante, captando a gradual mudança de seu personagem. Philip Seymour Hoffman e Paul Giamatti estão fenomenais em cada uma de suas cenas. Por fim, George Clooney soa extremamente convincente como candidato presidencial e encarna com carisma seu personagem.

Já Marisa Tomei e Evan Rachel Wood são boicotadas pela forma ingrata com a qual o roteiro retrata as personagens femininas da história. A primeira, em participação pequena, mas essencial para a trama, vive o estereótipo da jornalista abutre que faz de tudo por um furo de notícia. Unidimensional, a personagem não faz jus ao talento da atriz. Um problema similar ocorre com a personagem de Evan Rachel Wood, Molly. As motivações da jovem são mal exploradas pelo roteiro. Suas atitudes soam forçadas e a revelação bombástica que a mesma faz, em certo momento do filme, parece ser tirada do nada para introduzir o grande conflito da trama. A atriz ainda consegue se salvar com uma atuação sensível, que confere alguma complexidade à personagem. 

Os três grandes embates criados pelo roteiro (Stephen/Paul, Stephen/Mike e Stephen/Tom) conseguem tirar o filme da mediocridade. Brilhantemente escritas e interpretadas, as cenas são ótimas reflexões sobre ética, sobre estratégia política e sobre o que vale fazer para se sair vitorioso numa campanha. No entanto, ainda que nos proporcione esses grandes momentos, o roteiro parece lidar com a fragilidade da história, dando-nos a impressão de que o argumento poderia ter sido explorado de uma forma muito mais aprofundada. Nesse sentido, o final em suspenso da narrativa, parece uma forma fácil de terminar o filme e poderá deixar o espectador insatisfeito. 

Em Tudo pelo poder, Clooney comprova ser um diretor com grande potencial, mas ainda em amadurecimento. Ele acerta, por exemplo, na utilização constante de closes que revelam as emoções e a transição do protagonista e acerta também no uso do mesmo artifício na bela cena de sedução de Stephen e Molly. No entanto, ele cai no clichê, por exemplo, ao mostrar um personagem diante de uma gigante bandeira americana, em um plano excessivamente dramático e piegas. Ele também investe em turbulências surpreendentemente falsas, em uma cena no avião, provavelmente como metáfora da relação entre os personagens, que está prestes a mudar. Soa também artificial a tentativa do diretor de dar o tom de thriller à narrativa a partir da revelação feita por Molly.

Tudo pelo poder é, sem dúvida, mais interessante pelo argumento do que pela execução. Ainda que o tema seja extremamente relevante, o filme se revela menos relevante do ponto de vista cinematográfico. Um bom filme, que tinha tudo para ser excelente. 




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