domingo, 10 de abril de 2011

Tropa de elite 2 - 2010

Wagner Moura em cena do filme


A temática do mundo do crime (sobretudo no Rio de Janeiro) é, sem dúvida, a mais explorada pelo cinema brasileiro. Seguindo este filão temos: Cidade de Deus, Tropa de Elite 1 e 2, Cidade dos homens, Carandiru, Última parada 174, Salve Geral...  Esse exagero de produções que giram sobre o crime e a violência podem ter várias explicações: existe um grande público para esse tipo de filme; é uma questão que parece tocar bastante os cineastas brasileiros; e continua atual (basta levar-se em conta o quase-recente episódio do morro do Alemão). Dentre os projetos citados anteriormente, Cidade de Deus é o mais bem sucedido cinematograficamente, um dos melhores filmes da última década e talvez, por isso, o responsável por lançar uma "estética" da favela ou da violência. A importância da denúncia social é inegável, mas confesso que o cinema brasileiro se mostra e se vende como monotemático e fato é que ele ainda está engatinhando em sua retomada. Falta, a meu ver, melhores roteiros e maior incentivo e visibilidade a projetos mais criativos e a novos cineastas.

Quando o primeiro Tropa de elite saiu nos cinemas, uma das coisas que mais me incomodou foi a modinha que se instalou entre jovens e adolescentes de imitar as falas e aplaudir a violência cometida pelos membros do BOPE. Ao que parece, a dimensão crítica do filme muitas vezes passava despercebida e o que ficavam, após a sessão, eram a meia dúzia de frases de efeitos e a música/hino tema do filme. Neste segundo filme, o cineasta José Padilha mergulha bem mais fundo na questão política criando uma trama ainda mais interessante e audaciosa que a produção original. 

Deixando um pouco de lado minha opinião sobre o cinema brasileiro e também minhas preferências cinematográficas, devo dizer que Tropa de Elite 2 é um filme eficiente, bem escrito e bem dirigido. Entretanto, é um filme que passa longe da sutileza tanto na história que conta, como em suas escolhas narrativas. Vem-me em mente o momento em que o Coronel Nascimento se vê diante de um espelho, quando suas atitudes são postas em jogo, e ele tem que refletir sobre si mesmo. O simbolismo deste momento perde um pouco de seu valor pela falta de sutileza com que o diretor o lança. Passa longe da sutileza também o estereótipo criado pelo filme do apresentador sensacionalista, na performance over de André Mattos.

Tropa de elite 2 conta a luta do Coronel Nascimento contra o tráfico, "o sistema" e, dessa vez, também contra os policiais e políticos corruptos. Acertadamente, o roteiro de Padilha e  Bráulio Mantovani busca fazer um retrato humano de seu protagonista e Wagner Moura, mais uma vez, está excelente, ao construir um personagem endurecido, mas extremamente fiel a seus valores. A voz off do personagem permite que ele se revele ainda mais para o espectador. Deve-se aplaudir também o desempenho de todo o elenco masculino do filme, que é espetacular. Irandhir Santos, André Ramiro, Sandro Rocha, Milhem Cortaz, André Mattos, Adriano Garib estão fantásticos e o filme ainda conta com a empolgante pequena participação de Seu Jorge. É interessante ainda apreciar como a história lida com dois personagens aparentemente opostos, vividos por  Wagner Moura e Irandhir Santos, personagens de ideologias diferentes, mas que de certa forma são complementares.

Com uma direção inteligente e uma ótima montagem de Daniel Rezende (que também trabalhou em Cidade de Deus), o filme é construído de grandes momentos de tensão e ótimas cenas de perseguição e tiroteio. Contando com menos cenas de ação que o filme anterior e se dedicando a criar uma intriga política interessante e verossímil, a produção não deixa a peteca cair em nenhum momento, não apelando para o sentimentalismo, nem para as soluções fáceis. A cena final do filme, no entanto, me incomoda por seu discurso um pouco didático, óbvio e, portanto, desnecessário.

Tropa de elite 2, como já era de se esperar, deixa as portas abertas para uma continuação. O filme de maior bilheteria do cinema nacional é um ótimo filme policial, audacioso e, infelizmente, atual... no entanto, ainda prefiro o grande documentário de Padilha Última parada 174 (2002)

Trailer do filme:

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