quarta-feira, 13 de abril de 2011

Deixe ela entrar - 2008

Lina Leanderson e os seus magníficos olhos

Dedicarei minhas próximas postagens a falar de filmes de terror, gênero às vezes tão subestimado e pouco levado a sério. Os filmes de terror falam dos nossos instintos mais básicos de sobrevivência, do medo e da morte. Claro que, como em todos os gêneros cinematográficos, existem exemplares que são completamente dispensáveis, muitos que se tornam risíveis e não assustadores. Mas também existem grandes filmes, como este recente Deixe ela entrar

Passei o filme inteiro me dizendo que este não ele não era um filme de terror e, sim, uma linda história de amor. Foi somente, após terminar o filme, que percebi o quão assustadora era a história que tinha acabado de ver. Se você estiver interessado em vê-lo, assista ao filme antes de ler qualquer crítica, inclusive o meu comentário abaixo. Deixe ela entrar é um filme sueco, que conta a história de Oskar, um menino de doze anos que sofre bullying cotidianamente na escola e por isso acaba reprimindo um grande desejos de violência. Um dia ele conhece uma garota da sua idade, Eli, nova vizinha em seu prédio e os dois começam uma linda amizade. O detalhe é que ela é um tipo de vampiro e, portanto, necessita de sangue humano para sobreviver. 

Deixe ela entrar é ambientado em uma cidadezinha sueca coberta de gelo e a linda fotografia do filme mostra o quão melancólica é essa claridade glacial. O branco e o vermelho são as cores do filme, representando a neve e o sangue. Ao mesmo tempo em que vemos Oskar se apaixonar por Eli e criar uma ligação forte com a garota, vemos os ataques e assassinatos que ela é obrigada a cometer pela sua sobrevivência. O cineasta, através dos seus lindos closes, mostra o quão especial é Oskar, um garoto naturalmente bom, muito solitário. Vítima de violência, ele carrega em si também uma semente de violência. Kare Hedebrant, que interpreta Oskar, tem um carisma natural e se torna fácil se identificar com o menino. 

Já Lina Leandersson, que interpreta Eli, impressiona pelo seu olhar que parece carregar uma longa vida (de fato a personagem está presa em um corpo de 12 anos, mas é muito mais velha). Existe uma tristeza em seu olhar e uma necessidade de ter alguém. No primeiro ato do filme, a vampira tem um companheiro que a auxilia a obter sangue, matando pessoas. Este velho companheiro, Hakan,  interpretado com uma sensibilidade tocante por Per Ragnar e que morre por ela no primeiro ato do filme,  pode passar como pai da garota. Ao final, compreendemos que ele era muito provavelmente um amante mortal que foi envelhecendo enquanto Eli continuava uma criança. Podemos, então, questionar até onde Eli enxerga em Oskar um servo que pode se tornar um psicopata, matando para que ela sobreviva. É assustador perceber que Oskar provavelmente será um sucessor de Hakan.

O terror do filme, no entanto, não está apenas na necessidade de sangue de Eli, mas na maldade humana personificada pelos colegas de Oskar, que apesar de serem crianças e terem noção da própria maldade, parecem impelidos a fazer o mal. No filme, Hakan e Eli matam pessoas boas e inocentes e é compreensível que um amigo de um dos assassinados busque fazer justiça ao querer matar Eli. Neste momento, Oskar a salva: o que nos faz questionar a nossa própria vontade de ver o menino ficar junto com a vampira. Queremos o romance e a felicidade desses dois personagens, mas isto provavelmente custará muitas mortes inocentes. 

Deixe ela entrar é um dos melhores filmes de vampiro já realizados. Fugindo do estereótipo e criando uma trama sensível e rica de simbologia, o filme é mais uma jóia do cinema sueco... Chamo a atenção para a direção primorosa de Tomas Alfredson e lindas cenas como a da morte de Hakan e o massacre na piscina.


Trailer do filme:

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