domingo, 1 de maio de 2011

Se meu apartamento falasse - 1960

Jack Lemmon e Shirley MacLaine


Se meu apartamento falasse, clássico de 1960, aparece em diversas listas de cinema como um dos melhores filmes de comédia de todos os tempos. Ele poderia também aparecer na lista de melhor romance, de melhor drama e de melhor filme da história do cinema! Esta jóia do cinema americano, dirigida e escrita por Billy Wilder, me comove todas as vezes que a assisto.

Billy Wilder é, sem dúvida, um dos maiores ícones do cinema, tendo feito a melhor comédia de todos os tempos, Quanto mais quente melhor, e um dos maiores filmes sobre o cinema, Crepúsculo dos Deuses. Wilder transitava maravilhosamente bem entre a comédia e o drama e, em Se meu apartamento falasse, ele dá todas as provas de sua maestria. O filme conta a história de C.C. Baxter (Jack Lemmon), um funcionário de uma grande empresa de seguro, que, visando uma promoção em seu trabalho, adquire o hábito de emprestar seu apartamento para vários de seus superiores e as respectivas amantes deles. A situação vai aos poucos saindo dos limites, quando Baxter já não consegue mais dizer não para seus colegas. Para complicar, Baxter é apaixonado por Fran Kubelik (Shirley MacLaine), ascensorista do prédio onde trabalha. Ela, no entanto, tem um caso com o diretor da companhia, que também pedirá o apartamento emprestado. 

De início, tem que se louvar a interpretação sensibilíssima de Lemmon, grande ator cômico, que, neste filme, é a pura descrição do amor, da doçura e da solidão. O ator, que em sua carreira encarnou, por diversas, vezes o tipo azarado, que sempre se dá mal, dá uma profundidade a mais ao desastrado Baxter. O olhar de Lemmon, quando ele recebe injustamente um soco, é algo que não consigo esquecer. Mas não é só Lemmon que nos corta o coração. Shirley MacLaine talvez tenha, neste filme, o melhor papel de sua carreira. Ela interpreta Fran, uma jovem simples, honesta, doce, que se apaixona por um homem casado (interpretado pelo galã Fred MacMurray). MacLaine consegue fazer com que não julguemos a personagem. Fran ama verdadeiramente o cafajeste, mesmo sabendo que está sendo iludida. Ela percebe o interesse de Baxter e é tocante ouvi-la dizendo que seria muito melhor que ela se apaixonasse por uma pessoa como ele, mas que ela sempre se envolve com a pessoa errada. É incrível o quanto que Lemmon e MacLaine conseguem construir dois personagens adoráveis e humanos. 

O apartamento em si é um personagem no filme, devido a sua extrema importância no enredo. Billy Wilder o apresenta como um lugar extremamente acolhedor e ao mesmo tempo triste, afinal ele abriga uma grande solidão, a de Baxter. Como o personagem mesmo diz em uma cena do filme: ele não tem "garota", nem família, ninguém. Wilder não deixa de acentuar a ironia presente no fato de que apesar de o apartamento ser um lugar de encontros quentes e cheios de vida, seu dono está sempre só e cansado. 

Uma grande marca do diretor é conseguir tirar humor de situações trágicas, o que faz com que o filme tenha momentos muito divertidos. O filme ainda critica sutilmente a exploração do homem pelo homem, os jogos de interesse e o processo de destruição da dignidade alheia que ocorre nas empresas. Ele também não deixa de opor os relacionamentos superficiais e guiados pela luxúria e pelo interesse, do sentimento puro e verdadeiro do amor, do encantamento. 

Se meu apartamento falasse conta com cenas magistrais, como toda a sequência após uma tentativa de suicídio (um dos melhores momentos do cinema) e a cena final: poética, sincera e verdadeira. O filme, ganhador de 5 Oscars em 1961, é uma união de um roteiro e uma direção primorosos, bela fotografia, atuações inspiradas e um certo tipo de magia que parece estar presentes nos grandes filmes. 

Trailer do filme:

Nenhum comentário:

Postar um comentário