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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Toda forma de amor - 2011

Título original: Beginners
País: Estados Unidos
Lançamento: 2011
Diretor: Mike Mills
Atores Ewan McGregorChristopher Plummer e Mélanie Laurent
Gênero: Comédia dramática

"Você me faz rir, mas não é engraçado."

Hal (Christopher Plummer) e Oliver (Ewan McGregor), pai e filho em Toda Forma de Amor

Toda forma de amor é o segundo longa-metragem de ficção de Mike Mills, diretor, músico e artista gráfico americano de 45 anos. Seu primeiro longa Impulsividade (2005) não é suficientemente conhecido pelo grande público, mas foi um sucesso de crítica, tendo sido lembrado no Festival de Berlim e no Sundance. O novo filme de Mills vem chamando a atenção pela grande possibilidade de dar ao veterano Christopher Plummer, de A Noviça Rebelde (1965), seu primeiro Oscar. Em Toda Forma de Amor, Mills, também responsável pelo roteiro do filme, conta a história de Oliver, um ilustrador (elemento autobiográfico?) que deve descobrir como lidar com a morte do pai e com o surgimento de um novo amor. Detalhe importante: quatro anos antes de morrer, aos 75 anos, Hal (Plummer) conta ao filho Oliver (Ewan McGregor) que é gay e que pretende finalmente se assumir para o mundo. 

Um dos grandes feitos da obra de Mills é agenciar diferentes temporalidades de maneira fluida e orgânica. Estruturado em flashbacks e flashforwards, o filme lida com o presente, o passado próximo e o passado distante, sem se tornar esquemático ou confuso. A decupagem do filme, neste sentido, é genial, já que consegue relacionar os diferentes momentos da vida do protagonista através de supostas associações mentais feitas pelo mesmo, relacionadas às próprias lembranças de Oliver. A medida que o filme se desenrola, tais associações se tornam cheias de significado, já que o espectador torna-se mais e mais íntimo do protagonista. 

O filme revela os processos de aprendizado dos três personagens principais (não é por acaso que o título original do longa é Iniciantes). Hal abandona a vida de hétero, de homem casado e pai de família, após a morte de sua mulher, e recomeça sua vida como gay. É dele uma das melhores frases do filme: "Eu não quero ser gay apenas na teoria. Eu quero partir para a ação". Após encontrar um jovem namorado, Andy (Goran Visnjic), Hal descobre que tem câncer terminal e, a partir de então, deve aprender a viver com essa nova realidade. A coragem com que ele lida com essas duas situações acabam por ser inspiradora para seu filho. 

Oliver (McGregor) e Anna (Mélanie Laurent)
Oliver, por sua vez, encontra dificuldades para enfrentar diversos problemas. Primeiramente, o protagonista deve lidar com o vazio que a morte do pai lhe deixou (representado pela belíssima primeira cena do filme). Mas não é só isso. Durante a sua infância, Oliver foi "contaminado" pelo casamento infeliz de seus pais e, adulto, ele deve aprender a acreditar que relacionamentos podem dar certo. Mais do que isso, Oliver, que é extremamente melancólico, deve aprender que é possível ser feliz no amor. Já Anna, a nova paixão de Oliver, deve buscar vencer a depressão e a solidão e encontrar estabilidade no amor. Oliver e Anna terminam o filme ainda iniciantes, mas muito mais aptos a se compreenderem e a amarem.

Uma das grandes qualidades do filme é a construção de seus personagens, extremamente humanos. O roteiro trata cada um deles de maneira carinhosa e cuidadosa, revelando suas qualidades e fraquezas com uma sensibilidade única. A história de amor entre Anna e Oliver é desenvolvida de maneira encantadora e poderíamos resumi-la assim: as duas pessoas mais tristes do mundo se apaixonam e descobrem como sorrir juntas. E, por mais que cada um deles tenha que lidar com os próprios fantasmas, é difícil não acreditar que um é feito para o outro. Mills acerta também ao incluir o desenho como elemento fundamental no filme, como tradutor dos sentimentos do protagonista. O uso que ele faz dessas ilustrações e também de fotos de arquivo é excepcional. É também extremamente poética a maneira com a qual Oliver resgata a origem de seu pai, de sua mãe, de Anna e de si mesmo, através de uma apresentação que nos remete à abertura de O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001). E não me espantaria saber que o diretor é fã do filme francês e que tenha se inspirado, em algum nível, neste jovem clássico. 

Por fim, é inevitável não mencionar as belíssimas atuações que este filme contém. Ewan McGregor surge mais uma vez fantástico ao encarnar um personagem apaixonante, que nos comunica a cada instante sua tristeza, sua inadaptação ao mundo, sua melancolia e sua alma de artista. A bela atriz francesa Mélanie Laurent, nos oferece uma performance tocante, interpretando uma mulher que guarda uma lágrima por trás de cada sorriso. A sintonia entre os dois atores é um dos grandes trunfos do filme. O grande Christopher Plummer nos oferece uma performance digna de Oscar e é, sem dúvida, o favorito deste ano à estatueta de Melhor Ator Coadjuvante. Mary Page Keller, que interpreta a mãe de Oliver, tem uma participação reduzida, mas sua presença marcante e sua interpretação fazem de suas cenas umas das melhores do filme. Finalmente, não podemos deixar de mencionar o fofíssimo cachorrinho Cosmo (sim, não estou louco!) que dá vida a Arthur, cãozinho de Hal, e que tem grande importância na trama. 

É uma pena que Toda Forma de Amor só venha despertando o burburinho de premiações para Plummer, uma vez que o filme poderia ser lembrado também por tantos outros aspectos. Sem dúvida, o longa de Mills é um dos mais interessantes e cativantes do ano passado. Vale a pena conferir!





domingo, 27 de março de 2011

O golpista do ano (I love you Philip Morris) - 2009

Jim Carrey e Ewan McGregor em cena do filme

O filme, logo em sua abertura, nos informa: "Isto realmente aconteceu". Aviso que se faz realmente necessário, uma vez que, na hora e meia que se segue, vemos uma sequência de acontecimentos tão absurdos que nos fazem duvidar da veracidade dos fatos exibidos. I love Philip Morris, pessimamente traduzido para o português por O Golpista do Ano, é um filme que poderia muito bem ser mais um passatempo descartável estrelado por Jim Carrey. No entanto, ele se revela bem mais interessante do que poderíamos imaginar.

O filme conta a história verídica de Steven Russel um pacato policial e pai de família que promove uma reviravolta em sua vida ao se assumir homossexual e ao iniciar uma vida de golpes financeiros. Após ser pego e condenado à prisão, ele conhece Philip Morris na cadeia e se apaixona por ele. Jim Carrey, típico ator ame-o ou deixe-o, mostra mais uma vez (já o havia feito em Brilho eterno de uma mente sem lembranças e em Show de Truman) que é um ótimo ator quando quer. Abandonando parcialmente suas famosas caretas, mas continuando a nos oferecer uma performance extremamente física (o que ele faz muito bem), o ator se entrega de corpo e alma ao seu personagem. Genialmente, ele consegue incorporar o drama a sua performance cômica, uma vez que Steve Russel carrega em si um mundo de contradições e problemas.

O personagem de Carrey é bem definido por Philip Morris (Ewan Mcgregor) neste pequeno e belo monólogo: 

"E você espera que eu te ame? Como? Como eu posso te amar? Eu nem sei quem você é. E sabe o que é triste, eu nem sei se você sabe quem é. E como posso amar alguém que nem existe, me diga?"

O Golpista do Ano é dirigido por uma dupla estreante Glenn Ficarra e John Requa, que também assinam o roteiro. Lidando, no geral, de forma corajosa com um tema polêmico, eles acertam na maioria das escolhas, pecando apenas ao mostrar, em determinados momentos, desconforto ou insegurança ao lidar com a temática gay. Erram a mão, por exemplo, ao tratar duas cenas de sexo entre Morris e Russel de maneira, no mínimo, pouco elegante e fora do tom. Os diretores também se entregam à uma estrutura repetitiva, que serve para ilustrar a sequência de golpes de Russel e a passagem de tempo, mas que, depois de muito usada, torna-se um pouco cansativa.

Além de Carrey, deve-se ser elogiada a composição sensível de Ewan Mcgregor (uma das melhores coisas do filme) e a ponta digna de Rodrigo Santoro. O Golpista do Ano, um Prenda-me se for capaz gay, é um filme que não tem vocação para passatempo sem compromisso e nem para unanimidade. Eu recomendo. 

Trailer do filme: