Lançamento: 2012
País: França
Diretor: Jacques Audiard
Atores: Marion Cotillard, Matthias Schoenaerts, Corinne Masiero, Bouli Lanners
Duração: 120 min
Gênero: Drama
Matthias Shoenaerts e Marion Cotillard protagonizam De rouille et d'os |
O segundo filme da mostra competitiva a ser exibido no Festival de
Cannes foi o francês De rouille et d'os ("Ferrugem e osso"). O longa-metragem
foi realizado por Jacques Audiard, que, em 2009, chamou bastante atenção com o
seu excelente Um profeta, drama criminal indicado ao Oscar de Melhor
Filme Estrangeiro e ganhador do grande prêmio do júri em Cannes naquele ano. O
diretor causou mais uma vez uma boa impressão no Festival. Seu novo filme
agradou bastante aos críticos, sendo bem mais elogiado que Moonrise Kingdom (2012), filme que abriu a competição. De rouille et d'os é estrelado pela francesa Marion
Cotillard e pelo belga Matthias Schoenaerts, ator que foi considerado uma
das revelações do festival. Audiard escreveu o roteiro do longa ao lado
de Thomas Bidegain, a partir do argumento de Craig Davidson.
Em De rouille et d'os, Alain (Schoenaerts) se vê incumbido de cuidar do filho de cinco anos, mas passa sérias dificuldades. No entanto, ele tem a chance de recomeçar sua vida, no sul da França, com o auxílio da irmã. Trabalhando como segurança de uma boate, Alain encontra Stéphanie (Marion Cotillard), uma treinadora de orcas. Após um grave acidente durante uma apresentação com os animais, Stéphanie tem suas pernas amputadas. A moça volta a encontrar Alain e os dois iniciam uma inusitada relação. De rouille et d'os fala dos acidentes, das fatalidades e das coincidências capazes de transformar vidas.
Um dos maiores acertos do filme é a sua abordagem realista do quotidiano, dos indivíduos e de seus dramas pessoais. O filme é completamente ancorado no real, no caos do dia-a-dia, no cinza da cidade, no que não é necessariamente bonito. Cada detalhe trivial da vida das pessoas é importante para termos a sensação de estarmos testemunhando um pedaço da vida de um ser verdadeiro, mortal, cheio de problemas e limitações. Em diversos momentos, Audiard se lança em uma empreitada que lembra à estética do documentário: câmera na mão, tremores, movimentos rápidos. Ao mesmo tempo, chega a ser fascinante a maneira com a qual o diretor insere momentos de extrema poeticidade em meio ao seu realismo urbano, como as belíssimas cenas em que Stéphanie faz os movimentos de comando das orcas ora em um terraço, ora em frente a um aquário/tanque.
Em um determinado momento da trama, Stéphanie pede a Alain um pouco de delicadeza. Este parece ser um dos motes principais do filme: como encontrar delicadeza e sensibilidade em um universo dominado pela brutalidade e pela violência? Audiard, por sinal, não tem medo de explorar o lado mais vil do ser humano e faz surgir, por exemplo, Stéphanie em cena já com o nariz sangrando em consequência de um soco que levou de um homem. Essa é a primeira aparição de Marion Cotillard e não é por acaso que o diretor faz a estrela do filme surgir em cena dessa maneira. Mas não é só isso. Audiard filma cada gesto de violência com extremo vigor, apostando em closes impactantes e em movimentos de câmera repentinos. Ao fazer de seu protagonista um lutador de vale-tudo, que participa de perigosas lutas clandestinas, o diretor mostra também o culto à violência e a pulsão autodestrutiva do personagem.
O filme conta com um elenco afiado formado, em sua maioria, por atores franceses e belgas. Marion Cotillard confere autenticidade ao drama de sua personagem. Um exemplo disso é a cena da descoberta da perda das pernas no quarto do hospital, em que ela grita aos prantos e repetidamente "O que fizeram com minhas pernas?". Na mão de uma atriz menos talentosa, a cena poderia soar como um melodrama barato. A atriz ainda consegue comunicar, principalmente através do seu olhar e de suas expressões, os dilemas e as emoções de sua personagem, tais como: o desejo, o fascínio pela força e pela brutalidade de Alain, a depressão, etc. A atriz ainda dá dimensão à dor da personagem da forma mais delicada e simples possível. Uma lágrima furtiva parece dizer muito mais do que um diálogo. O efeito visual que faz desaparecer parte das pernas de Cotillard é extremamente bem realizado e confere verossimilhança à trama. O galã Mathias Schoenaerts interpreta um brutamontes que no fundo tem um bom coração. A jornada do grosseiro e insensível Alain é justamente a de descobrir o amor e a arte da delicadeza. A atuação do ator belga é magnética, forte e visceral. Tanto Shoenaerts como Cotillard se expõem bastante em cenas de sexo e de nu. É interessante que mesmo não apostando na glamourização dos corpos, Audiard consiga fazer de tais cenas algo extremamente bonito, sensual e natural.
De rouille et d'os conta com a ótima trilha sonora do onipresente e prolífico Alexandre Desplat (que também trabalhou em Moonrise Kingdom). O filme ainda conta com um trabalho de montagem e edição de som excelentes e uma bela fotografia, essencial para o tom documental do filme. Infelizmente, De rouille et d'os parece se perder justamente no seu ato final, no qual a resolução soa forçada e precipitada. A redenção de Alain parece ser fruto muito mais de um acidente do que do percurso do personagem durante o filme e de seu envolvimento com Stéphanie, o que é uma pena.
O novo filme de Jacques Audiard proporciona que entremos na intimidade de dois personagens fortes e fascinantes e que mergulhemos em seus caos particulares. De rouille et d'os mostra a erupção da violência no dia-a-dia e o nascimento do amor no lugar menos provável. Imperdível.
Assista ao trailer:
we found love in a hopeless place...
ResponderExcluirAnsiosíssimo por esse filme. Amo Marion Cotillard.
ResponderExcluirEsperemos pela Mostra de Cinema de São Paulo para vê-lo. Com um cartão de visitas como "O Profeta", a expectativa é grande.
ResponderExcluirEstou torcendo por Cotillard em Cannes.
ResponderExcluirO Falcão Maltês