quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Clássicos da Cinemateca - Ernst Lubitsch e "Ser ou não Ser" (1942)


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É dificil falar de comédia no cinema norte-americano sem mencionar Ernst Lubitsch. O cineasta alemão emigrou em 1922 para os Estados Unidos, onde se firmou como um dos primeiros grandes mestres da comédia em Hollywood. Dono de um estilo único, Lubitsch se notabilizou por abordar assuntos sérios e ancorados na realidade de sua época de uma maneira bem-humorada e sofisticada. A elegância, o olhar crítico, a sagacidade e a malícia refinada do diretor são marcas desse estilo que ficou conhecido pela expressão “the Lubitsch Touch” (o Toque Lubitsch).
Grandes nomes do cinema norte-americano, como Billy Wilder, Howard Hawks e William Wyler, reverenciaram o talento de Lubitsch e destacaram o legado que ele deixou para o cinema. Lubitsch era, por sinal, um dos diretores favoritos de Billy Wilder. Reza a lenda que após a morte do ídolo, Wilder pregou uma placa na porta de seu escritório com a pergunta:“How would Lubitsch do it?” (Como Lubitsch faria isso?).
Assista ao vídeo em que Billy Wilder fala do Toque Lubitsch.
A fase alemã de Lubitsch conta com vários sucessos, entre dramas e comédias. Alguns dos primeiros filmes do diretor alcançaram fama internacional, como Carmen (1918), Madame du Barry (1919), A Princesa das Ostras (1919) e Amores de Faraó (1922). No final dos anos 1910, o nome do cineasta ficou conhecido na Europa e posteriormente nos Estados Unidos. A atriz Mary Pickford foi a responsável por levar Lubitsch para Hollywood, onde ele veio a dirigir os seus filmes mais famosos, dentre os quais se destacam: Ladrão de Alcova (1932), Ninotchka(1939), A Loja da Esquina (1940), Ser ou Não Ser (1942) e O Diabo Disse Não (1943).
O diretor trabalhou com algumas das maiores estrelas da Era de Ouro de Hollywood. Além de Mary Pickford, Lubitsch dirigiu James Stweart, Miriam Hopkins, Melvyn Douglas, Gary Cooper, Claudette Colbert, Gene Tierney, Maurice Chevalier, Carole Lombard e Greta Garbo. A única parceria de Lubitsch e Garbo é antológica. Em Ninotcka (clássico co-escrito por Wilder) o diretor alemão dirigiu Garbo em um raro momento cômico da estrela no cinema. A bela atriz era conhecida por seus papéis dramáticos e por sua personalidade reservada e misteriosa. O estúdio MGM promoveu o filme com a frase “Garbo ri!”
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Pôster do filme Ser ou Não Ser.
Ser ou Não Ser (1942) é tido como uma das maiores obras-primas de Lubitsch. A história se passa em plena Segunda Guerra Mundial, na Polônia, durante a ocupação nazista. O filme focaliza uma trupe de atores, liderados por Joseph Tura (Jack Benny) e sua esposa Maria (Carole Lombard), que se infiltram na Gestapo para salvar membros da resistência polonesa. O brilhante roteiro foi escrito por Edwin Justus Mayer, com o auxílio de Lubitsch, a partir da história original de Melchior Lengyel.
Ser ou Não Ser é, ao lado de O Grande Ditador (1940), um dos filmes mais contudentes contra o nazismo a serem lançados durante a Segunda Guerra Mundial. Essa sátira mordaz e inteligente é uma forma de Lubitsch (judeu alemão) sensibilizar os americanos sobre os horrores da guerra através do riso, provando que a comédia tem o poder de atingir as pessoas e de comunicar os problemas do mundo. A beleza do filme, no entanto, não se reduz a uma mensagem política. A obra-prima de Lubitsch é a combinação magistral de diversos elementos, sendo ao mesmo tempo uma divertida guerra de sexos, em que são mostrados os dilemas de um casal em crise, um tratado sobre os bastidores do teatro (daí a referência do título à famosa frase shakespeareana) e uma declaração antibélica. Talvez a lição mais bela do filme seja a de que a ficção e a arte podem salvar o mundo. E é como uma alegoria do poder da arte que o filme se revela universal e atemporal.
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Carole Lombard e Jack Benny em cena do filme.
Jack Benny tem a melhor performance de sua carreira na pele do vaidoso ator Joseph Tura e a bela Carole Lombard está magnífica como Maria Tura. Lombard, que era casada com o galã Clark Gable na época, chegou a afirmar que trabalhar em Ser ou Não Ser foi uma das experiências mais felizes da sua vida profissional. Infelizmente, a atriz veio a falecer em um acidente de avião antes mesmo do lançamento do filme. Ela tinha apenas 33 anos e voltava de uma viagem que tinha como objetivo a arrecadação de fundos para o auxílio às tropas norte-americanas. O ótimo elenco do Ser ou Não Ser também conta com Robert Stack, Felix Bressart, Lionel Atwill, Stanley Ridges e Sig Ruman.
Ser ou Não Ser não foi bem recebido inicialmente pela crítica e por parte do público. Muitos consideraram o filme de mau gosto. Não é de se espantar. Na época de seu lançamento, Pearl Habor havia sido atacado, as tropas alemãs devastavam a Europa e a estrela do filme havia morrido em uma missão patriótica. Com o tempo, no entanto, a comédia foi alçada à condição de clássico absoluto da sétima arte. Ser ou Não Ser foi eleito uma das melhores comédias de todos os tempos pela revista Premiere e pelo Instituto Americano de Cinema (AFI). A obra-prima de Lubitsch é uma comédia engenhosa, complexa, que vai da sátira ao humor negro de uma maneira sublime. O clássico de 1942 é um dos maiores legados de um dos primeiros mestres do humor do cinema hollywoodiano.
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Anúncio de Ninotchka, clássico de Lubitsch.

Um comentário:

  1. Gosto muito de Lubitsch. Ninotchka e A Loja da Esquina são uma das minhas comédias preferidas. Agora ao ler o seu post, aumentou minha curiosidade de conhecer mais da obra desse grande diretor.
    A propósito estou gostando muito de suas postagens dos clássicos. Continue!

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