Patty Duke e Anne Bancroft em cena de O Milagre de Anne Sullivan (1962).
Helen Keller (1880-1968) foi uma importante escritora, jornalista, filósofa e ativista política americana. Ela teve uma fase crucial de sua vida transposta para o cinema há 50 anos, em uma obra-prima da sétima arte desconhecida por muitos cinéfilos. O Milagre de Anne Sullivané dirigido por Arthur Penn, cineasta que tem no currículo outro clássico, o mais famoso, Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas (1967).
Helen Keller, nascida no Alabama, teve grande importância na luta pelos direitos de pessoas com deficiência. Engajada politicamente e membro do Partido Socialista Americano, a intelectual também é conhecida por sua luta pelos direitos das mulheres e por sua ferrenha oposição à Segunda Guerra Mundial. Ela publicou aos 22 anos sua autobiografia, A História da Minha Vida, e, desde então, não parou de escrever.
A obra escrita e o trabalho social de Helen Keller são por si só impressionantes, mas é impossível conter uma maior admiração ao saber que a escritora ficou surda e cega aos 19 meses de idade, devido ao que hoje se presume ser escarlatina.
Keller nasceu no final do século 19, em 1880, em uma pequena cidade do sul dos EUA. Na época, sua enfermidade foi chamada de “febre cerebral”. Até os sete anos, ela era desprovida de qualquer tipo de linguagem. Foi somente com a chegada da professora Anne Sullivan (1866–1936), que Helen foi retirada do isolamento imposto por sua deficiência e dificuldade de comunicação. Anne Sullivan, por sua vez, era praticamente cega. Foi somente após algumas cirurgias que ela recuperou alguns graus de sua visão.
A professora também teve uma bela história de superação. Órfã, ela foi mandada para uma casa de deficientes quando criança, onde morou por muitos anos. Essa experiência foi extremamente marcante em sua vida. Anne Sullivan conseguiu estudar, formar-se e se tornou uma referência no ensino de pessoas com deficiência.
As verdadeiras Helen Keller e Anne Sullivan, em foto de 1888.
O Milagre de Anne Sullivan é a adaptação da peça de William Gibson (The Miracle Worker) que conta o encontro de Anne Sullivan e Helen Keller, assim como o início da educação da jovem garota. Apesar de ser baseado em uma peça teatral, o longa-metragem de Arthur Penn possui uma linguagem cinematográfica bastante sofisticada, sendo uma das experiências fílmicas mais interessantes e bem-sucedidas da carreira do cineasta americano. A fotografia em preto e branco é um destaque da produção e confere um tom inquietante e, por vezes, sombrio ao filme.
Arthur Penn presenteia o espectador com uma direção inspirada. A intensa sequência de abertura do filme, que revela a descoberta da deficiência de Helen, parece ter inspirações expressionistas. Outra cena que merece destaque é aquela que mostra a imagem de Helen refletida em uma bola da árvore de Natal, que logo depois se despedaça no chão (o que nos remete à cena do globo de neve do clássico Cidadão Kane). Para dar uma dimensão mais angustiante aos traumas de Anne, o diretor não hesita em usar interessantes sobreposições de imagens.
No entanto, a cena mais célebre do filme envolve uma “batalha” em uma sala de jantar. Nela, Anne tenta disciplinar a rebelde Helen e fazer com que ela coma com um talher à mesa. O resultado é uma das lutas mais longas do cinema. A cena exigiu muito fisicamente de suas atrizes e foi coreografada de maneira exemplar por Penn.
Anne Bancroft e Arthur Penn nos bastidores do filme.
E por falar nas atrizes, Anne Bancroft e Patty Duke, que interpretam respectivamente Anne Sullivan e Helen Keller, têm um desempenho notável. A talentosíssima Anne Bancroft encarna com intensidade e carisma sua perseverante personagem. A jovem Patty Duke tem uma performance admirável, em um papel difícil, que seria um grande desafio para qualquer ator mais experiente. Ela tinha apenas 16 anos quando interpretou Helen.
Anne Sullivan e Helen Keller desenvolveram uma relação muito peculiar e o roteiro do filme explora brilhantemente a construção e a evolução dessa relação. Mesmo que os métodos de Anne Sullivan pareçam pouco ortodoxos e, por vezes, violentos, sua preocupação com o aprendizado da garota é também fruto de um amor quase maternal e de uma grande identificação com o drama de Helen. É emocionante assistir ao esforço da professora na busca pela melhor forma de ensinar as palavras a Helen. Patty Duke tem como grande mérito mostrar que mesmo se comportando de forma selvagem e animalesca, sua personagem é um ser dotado de inteligência e sensibilidade, fazendo de tudo para se comunicar e revelando grande facilidade em aprender.
Além da bela fotografia de Ernesto Caparrós, o filme ainda conta com a impactante trilha sonora composta por Laurence Rosenthal. O Milagre de Anne Sullivan é, sem dúvida, um dos grandes clássicos dos anos 60. O longa-metragem de Arthur Penn mostra de forma realista e emocionante que o ser humano é capaz de superar sua deficiência e suas limitações e, ainda por cima, encontrar forças para ajudar outras pessoas a enfrentarem problemas semelhantes.
O Milagre de Anne Sullivan ganhou o Oscar de Melhor Atriz (Anne Bancroft) e Melhor Atriz Coadjuvante (Patty Duke) e foi indicado a mais três prêmios, dentre eles o de Melhor Diretor (Arthur Penn).
Mais sobre O Milagre de Anne Sullivan:
- O Milagre de Anne Sullivan é apenas o segundo longa-metragem da carreira de Arthur Penn.
- Arthur Penn dirigiu oito atuações indicadas ao Oscar, dentre elas as de Anne Bancroft e a de Patty Duke, que saíram vitoriosas.
- Arthur Penn foi premiado com um Tony, em 1960, pelo seu trabalho na direção da peça The Miracle Worker na Broadway (a montagem deu origem ao filme dois anos depois).
- William Gibson, autor da peça original, é também o responsável por sua adaptação para o cinema.
- Anne Bancroft e Patty Duke já haviam trabalhado juntas na versão da Broadway. A primeira levou o Tony de Melhor Atriz por sua performance na peça.
- Durante sua carreira, Anne Bancroft conquistou os mais prestigiados prêmios do cinema, do teatro e da televisão, entre eles o Oscar, o Emmy, o Globo de Ouro, o Tony, o BAFTA e o prêmio de melhor atriz em Cannes. Interpretando Anne Sullivan, ela ganhou o Oscar, o Tony, o BAFTA e foi indicada ao Globo de Ouro.
- Anne Bancroft afirmou que Arthur Penn foi o diretor que teve o maior impacto sobre sua carreira.
- Antes de levar a peça The Miracle Worker para o teatro, Arthur Penn e William Gibson fizeram uma versão para a televisão, com diferentes intérpretes, em 1957, em um episódio da série Playhouse 90.
- A United Arts queria que o filme fosse estrelado por Elizabeth Taylor ou Audrey Hepburn. Penn e Gibson, no entanto, insistiram para que o papel fosse dado a Anne Bancroft.
- Patty Duke, que interpreta Helen Keller no filme de 1962, interpretou Anne Sullivan numa versão feita para a televisão em 1979. Ela ganhou o Emmy de melhor atriz por sua performance.
- Patty Duke tinha 16 anos quando ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Após ganhar a estatueta, a atriz passou a se dedicar mais à televisão. Desde então, Duke gerencia uma prolífica e bem-sucedida carreira nas telinhas. De 1963 a 1966, ela protagonizou The Patty Duke Show, uma série de sucesso nos Estados Unidos.
- A famosa cena em que Helen e Anne destroem uma sala de jantar contém apenas duas palavras, “good girl”, pronunciadas por Anne Sullivan. A cena tem mais de oito minutos de duração. Assista à cena:
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Esse filme é realmente inspirador. É quase inacreditável como alguém consegue ensinar uma pessoa surda e cega a comunicar e a ter boas maneiras. Ambas as actrizes estão arrasadoras, principalmente na cena do pequeno-almoço, que é a mais marcante do filme. E no filme que a Patty Duke fez para a televisão, interpretando a Anne Sullivan, tu ainda consegues dar mais valor à atuação da actriz como Helen, e vês que não é qualquer pessoa que consegue interpretar uma rapariga surda e muda, pois a actriz que interpreta a Helen na televisão, não foi tão boa quanto Duke.
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